Problemas com a Monarquia no Pauper?

Sendo bem sincero, pretendia esperar completar um mês desde o lançamento de Commander Legends para analisar como o formato se comportaria e como os decks se adaptariam aos novos cards.

Só que dada a repercussão recente, pode ser que o formato sofra uma intervenção direta, literalmente, á qualquer Segunda-Feira á partir dessa próxima semana.

O motivo ? Bom...

Fall from Favor já se tornou o terceiro card mais jogado do Pauper em menos de um mês, com um total de 63 cópias nos últimos eventos competitivos.

E a verdade é que todos os jogadores e o próprio Gavin Verhey sabia que o card era potencialmente problemático para o formato, mas vamos nos aprofundar no que exatamente está acontecendo.

O Pauper como o conhecemos é composto de diversos arquétipos que se situam nos espectros de Aggro, Control, Tempo ou Midrange (com ocasionais Combos que perderam espaço recentemente).

Antes de Commander Legends, o espectro do formato funcionava mais ou menos da seguinte maneira:

Tron se mantinha como um dos melhores decks do formato ao se apresar dos decks de Monarch enquanto tentava utilizar outros de seus slots para segurar os decks Aggros com efeitos como Moment's Peace ou um soft-lock com Stonehorn Dignitary.

Blue-Based Decks, especialmente Faeries, se apresava do Tron devido a sua incapacidade de interagir bem contra as magicas do deck utilizando respostas de custo efetivamente menor enquanto estabelecia um bom clock.

Monarch-Based decks se apresavam especialmente dos decks azuis, já que a mistura de criaturas eficientes, excesso de Card Advantage e um número mais expressivo de remoções pontuais ou de cards que tornavam a vida das fadas mais difícil criava uma parede de valor que, inclusive, levou os decks de fadas á passarem á utilizar cards de Monarch nas suas listas.

Por fim, nós tinhamos os Aggros, que tentavam utilizar de ameaças de custo baixo e agressivas para criar uma posição na mesa difícil de reverter para o Faeries, enquanto tentava ir por baixo dos cards de Monarca ou do Tron.

A forma mais eficiente que existe de se fazer isso é jogar múltiplas ameaças em poucos turnos, e essa era a grande vantagem que Burning-Tree Emissary dava a decks como Stompy ou RDW.

Dessa maneira, decks como Monarch ou Tron precisavam constantemente criar trocas desfavoráveis ou ter múltiplos efeitos de Fog para utiliza-los todo turno, já que quanto mais o jogo se prolongava, pior ficava a mesa do oponente e muitas vezes um único turno sem uma prevenção de dano era o suficiente para levar o jogo.

Só que Commander Legends trouxe um enorme limitador para esse tipo de estratégia:

Há um fator interessante em como o formato se comportou quanto a Fiery Cannonade: As pessoas se adaptaram ao card ainda na primeira semana.

Por exemplo, estes foram os arquétipos que fizeram Top 32 nos últimos Challanges desde o lançamento de Commander Legends:

15 Tron

14 Dimir Faeries

13 Boros Bully

12 Mardu Monarch

11 Bogles

10 Izzet Faeries

8 Delver Faeries

5 Orzhov Monarch

5 Stompy

4 Elves

3 Dimir Delver

3 Burn

3 Jeskai Affinity

2 Temur Affinity

2 Goblins

2 Mono White Heroic

1 Walls

1 Golgari Midrange

1 Slivers

1 Jeskai Ephemerate

1 Jeskai Control

1 Dimir Control

1 Ponza

1 Temur Cascade

Analisando por alto, é perceptível uma redução considerável de decks como Stompy, RDW ou Goblins quando comparado ao formato pré-Commander Legends.

A menor aparição desses decks deve-se ao fato de que os jogadores optaram primariamente por respeitar Fiery Cannonade e escolher decks que não são amplamente prejudicados pelo novo sweeper como Affinity ou Bogles, ou decks que podem contornar o sweeper com alguma facilidade, como é o caso do Faeries e do Boros Bully.

Essa redução significativa dos decks que tentavam ir por baixo, em conjunto com a ascensão dos decks azuis com a inclusão de Fall From Favor fez com que o formato comece á dar sinais de que está sendo polarizado em torno da mecânica de Monarca.

Em resumo: Sim, é !

O principal motivo é a carta ter um CMC de 3, permitindo ao jogador começar á acumular Card Advantage á partir do terceiro turno e criando uma janela de resposta ainda menor por parte do oponente.

Enquanto as estratégias de "Go-Wide" são mantidas em cheque, Fall From Favor torna-se uma carta ainda mais eficiente pois, comumente, ela irá "lockar" o principal atacante do seu oponente, e torna a matemática de como manter a coroa bem mais favorável do que ela comumente seria com uma criatura, já que uma criatura poderia ser removida antes de um possível bloqueio.

Além disso, os meios para evitar que o oponente se torne o Monarca com Fall From Favor fora anulações ou meios de garantir proteção são opções de jogadas desfavoráveis como remover a sua criatura antes do encantamento entrar em jogo. Em um dos meus jogos no Pauper Series dessa semana, meu oponente deu um Snuff Out na própria Jhessian Thief dele para que o encantamento não caísse.

Se a melhor resposta para um card específico na maioria dos decks é você remover sua própria criatura ou você utilizar o card você mesmo, é porque o card provavelmente é mais forte do que deveria ser.

Fall From Favor é um card tão bom no atual formato que decks estão começando á splashar azul basicamente para ter acesso ao encantamento e estão conseguindo obter bons resultados.

Algumas das versões de Mardu Monarch que estiveram presentes em boas colocações no Challange, por exemplo, splasharam azul para incluir o encantamento e conseguir se manter á frente na "Guerra pela Coroa".

A última vez que lembro de ter visto esse tipo de splash no formato foi com Treasure Cruise.

O principal beneficiado são os decks de Faeries que, se somados todos juntos nos últimos quatorze dias, compõem cerca de 22,7% do Metagame do formato hoje.

O Faeries tem uma das aberturas mais agressívas possíveis para se abusar do encantamento, abrindo o jogo com Faerie Seer no turno 1, Ninja of the Deep Hours no turno 2 e o encantamento no turno 3, muitas vezes tirando o único bloqueador do caminho.

Porém, o deck é extremamente adaptável e consegue se portar de acordo com cada situação dentro do jogo, não necessariamente precisando se apressar em usar Fall From Favor o quanto antes.

O Dimir Delver é outro deck que se adaptou á utilizar o card como mais uma forma de interação nos jogos, e apesar das listas ainda estarem utilizando Augur of Bolas, particularmente acredito que o futuro do deck inclua dar maior prioridade á mecânica, já que o Card Advantage agregado junto á interações de custo baixo é significativamente mais relevante.

Segue aqui a lista que eu utilizei para ficar em segundo lugar no Pauper Royale da semana passada.

Por ironia, a única mudança que eu considerei fazer até o momento para esta lista é reduzir um Fall From Favor e incluir mais um Azure Fleet Admiral

Outro deck que claramente se beneficiou do encantamento foi o Jeskai Affinity, como comprovado pelo jogador Hamuda que ficou em primeiro lugar em dois Challanges seguidos:

O metagame atual, para mim, se encaixa perfeitamente para o Jeskai Affinity, pois o deck consegue jogar uma estratégia de "Go-Wide" que não é punida por Fiery Cannonade enquanto pode fazer bom uso do encantamento ao conseguir manter a coroa por um bom tempo, já que é incomum o oponente conseguir ter uma mesa maior que a sua e/ou criar trocas favoráveis entre as criaturas dele e as suas, tendo então de assumir o risco de receber mais dano do que consegue causar, caso opte por tentar roubar o Monarca.

Porém, o Jeskai Affinity é um deck que se apresa da falta de hate específico por parte dos seus oponentes, e pode se tornar uma opção relativamente ruim dentro das próximas semanas, onde pode-se esperar uma quantidade maior de Gorilla Shaman ou Shenanigans nos Sideboard.

Além desses decks, outros decks como Tron, Jeskai Ephemerate e Familiars também adicionaram Fall From Favor ás suas listas.

Existem algumas opções para tentar jogar neste formato que parece estar sendo cada vez mais representado pela mecânica de Monarca:

1) Jogue de Monarca

Essa é a mais objetiva: Se não pode contra ele, junte-se á eles.

Mais necessariamente, jogue com um deck que utilize Fall From Favor da melhor maneira possível.

Jogar de Monarca é, na verdade, uma das melhores maneiras de combater outras cartas de Monarca porque tudo passa á depender de quem possui a melhor posição na mesa, a maior quantidade de removal ou a última carta de Monarca.

Se eu fosse escolher uma lista hoje, eu provavelmente diria pra você jogar de Dimir Faeries, mas há outras opções de todo tipo do Mardu Monarch ao Gruul LD que tem surgido recentemente e você deve definir qual se encaixa melhor no seu estilo de jogo.

Além disso, eu acredito honestamente que o completo potencial de interações de Fall From Favor com outras cartas do formato ainda não apareceu de maneira integral, e podemos ver outras variantes com o encantamento no futuro próximo.

2) Go-Wide

A melhor opção para combater Monarca, em teoria, é jogar com estratégias de "Go-Wide", mas essa estrategia sofreu um dano considerável com a inclusão de Fiery Cannonade ao formato, portanto você tem duas opções:

A) -> Jogue com decks que não se importam com o Sweeper ou conseguem contorna-lo de maneira eficiente. Aqui se encaixam Affinity, Boros Bully, Slivers.

B) -> Tire proveito de que o meta está se afastando gradativamente de um formato onde o sweeper é essencial em grandes quantidades e utilize os clássicos decks de Burning-Tree Emissary.

3) Jogue com decks que ignoram ou interagem favoravelmente com o encantamento

Decks que utilizam cards que possuem proteção embutida como o Bogles, ou decks que conseguem proteger bem as suas criaturas em instant-speed como o Heroic são opções que se encaixam bem nesse quesito, mas não são os únicos.

O Burn é um deck que poderia reduzir seu número de criaturas ou até mesmo utilizar criaturas que não se importam de serem viradas, potencialmente "anulando" o principal efeito punitivo do encantamento enquanto estabelece um clock rápido o suficiente.

Porém, o o Burn sofre severamente contra o deck que mais se beneficiou do encantamento: Faeries.

Por fim, vejo Guardian of the Guildpact como um dos cards de maior potencial no formato hoje, pois é um card que torna-se cada vez mais difícil de interagir neste metagame fora remoções específicas ou decks como Affinity.

E por isso, considero o Orzhov Monarch um ótimo Meta Call no formato hoje, já que ele utiliza uma quantidade pequena de criaturas onde o encantamento funcionaria, e consegue controlar decks como Faeries com certa facilidade graças á sua mistura de remoção pontual, sweeper recorrente e ganho de vida.

O deck, entretanto, carece de um bom clock e pode ser severamente punido contra decks como o Tron pois, mesmo com diversos efeitos disruptivos, o deck dá tempo demais para o control se recompor.

4) Jogue de Control

E por Control eu quero dizer Control puro, hardcore, desses que usam pouquíssimas ou nenhuma criatura, veja por exemplo esta lista de Dimir Control que ficou em quarto lugar no último Challange:

Decks como esse tornam a vida de decks que tentam capitalizar em cima do encantamento mais difícil, pois conseguem acumular mais card advantage e controlar a mesa de maneira eficiente, prolongando o jogo ao ponto onde os recursos do oponente se tornam pouco relevantes.

Deixo claro, de antemão, que esse tópico não necessariamente reflete o que eu gostaria que acontecesse futuramente no formato, mas sim uma análise técnica considerando os fatos como eles tem acontecido e analisando o mais recente modus operandi da Wizards de utilizar a banlist como uma ferramenta reguladora, como mencionei neste artigo.

Honestamente, não vejo Fall From Favor durando muito tempo no formato e imagino uma intervenção direta ocorrendo antes do fim de Janeiro.

A intervenção, provavelmente, virá na forma de um banimento de Fall From Favor, sem mais mudanças no formato num primeiro momento.

Porém, um dilema permanecerá: E quanto á mecânica de Monarca ?

Em um recente Q&A feito através do Discord, Gavin Verhey, que é um Sênior Designer do jogo para a Wizards, comentou que considera a mecânica de Monarch quebrada para os jogos de 1v1 porque ela não foi designada para esse propósito, e que o único motivo pelo qual a mecânica é mantida no formato é porque o deck que melhor se aproveita dela (Boros/Mardu Monarch) é muito único em como ele opera e a mecânica colabora em preencher o gap que existe no formato no que se trata dos decks Midrange.

Mas o que acontece se basicamente todo deck passa a ter a mecânica como parte da sua construção ? A mecânica deixa de ser algo exclusivo de alguns decks midranges e se torna uma parte essencial do formato, ou melhor dizendo, a mecânica se torna um dos, se não O pilar do formato.

E se esse for o caso, cabe o questionamento de como a Wizards pretende lidar com o formato futuramente: Eles considerarão que o Monarca é parte do que compõe o formato como um todo, como se fosse um efeito similar á antiga "Regra de Lendárias" onde os jogadores competem por ela, ou considerará que essa exata natureza da mecânica a torna polarizadora e parasítica ao formato ?

Se a primeira opção for considerada, dificilmente vejo qualquer intervenção direta vinda da Wizards até a próxima carta quebrada sair, e a comunidade terá de aceitar que o Monarca é parte da essência do formato e um sub-jogo que você terá de jogar de uma maneira ou de outra se quiser competir no formato.

Se a segunda opção for considerada, esta principalmente pela forma como os decks se comportam para manter o Monarca (Sweepers, fog effects), é muito provável que a Wizards opte por fazer uma intervenção direta na mecânica em si á ponto de invalida-la para jogos de 1v1.

Algo como criar uma errata na mecânica que diz: "No início da sua etapa final, se você possui dois ou mais oponentes, compre um card."

Isso tornaria a mecânica viável para o que ela se propõe á fazer (ser um jeito de acumular valor em jogos de Multiplayer) enquanto a "inviabiliza" para jogos de 1v1, basicamente extinguindo a mecânica do formato fora do PDH.

Porém, a inviabilização da mecânica no formato provavelmente puxaria o Tron para níveis ainda maiores de representação no formato e o próprio Gavin também admitiu neste Q&A que o arquétipo está no radar da Wizards, mas que banir as lands resultaria numa mudança drástica no formato.

Portanto, não creio que o arquétipo ficaria intocado nessa mudança já que o formato já estaria sofrendo uma mudança drástica, e uma intervenção da banlist estaria acontecendo no deck ou mais necessariamente nas lands de Urza ao mesmo tempo da errata ou pouco tempo depois.

Em resumo:

O que acredito que vai acontecer -> Fall From Favor será banido do formato dentro dos próximos 50 dias.

O que pode acontecer em 2021 -> Caso o Monarca permaneça como uma mecânica predominante após o banimento de Fall From Favor, uma errata na mecânica para que ela não funcione mais fora de jogos Multiplayer + Banimento das lands de Urza.

Particularmente, não gosto desse rumo deliberado de uso da banlist ou de erratas, mas é um cenário possível, se não provável.

Meu problema com esse tipo de lógica é como o formato se comportaria posteriormente:

Você tira o Monarca e o Tron e isso abre espaço para outras estratégias surgirem e, como consequência, outras interações de Card Advantage ou melhores decks surgirão juntos, e logo haverão outros cards que as pessoas começarão á considerar que precisam ser banidas.

Quanto tempo durará a saúde e satisfação nesse possível novo formato até pedirem o banimento de Bonder's Ornament, Spellstutter Sprite, Stonehorn Dignitary, Ghostly Flicker, Ephemerate ou Fiery Cannonade ?

Fall From Favor mostrou-se ser um card de extrema relevância para o Pauper e causou no Metagame o impacto que todos já esperavam que o card tivesse.

Por mais que eu particularmente gostaria muito de ver uma adaptação do formato de maneira á ele se autorregular, meus jogos recentes e os resultados dos últimos eventos vêm mostrado que o card é bom ao ponto de utilizarem splashes e opções de cards ou decks á fim de combater o valor imediato do encantamento.

O tempo irá dizer o que vai acontecer com o Pauper, mas pode-se dizer que ninguém ficará surpreso caso tenhamos uma atualização na lista de cartas banidas do formato em breve.