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O novo mulligan em números
O objetivo central deste texto é apresentar aos colegas jogadores o princípio matemático básico que rege o Magic, ou qualquer jogo de cartas, conhecido como Distribuição Hipergeométrica.
By Carlos, 03/21/19 - 0 comments
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1. INTRODUÇÃO
Este artigo começa com uma história triste. No mesmo dia em que pensei em escrevê-lo, e comecei a fazer algumas contas, o matemático Frank Karsten publicou na página da Channelfireball um artigo, aliás excelente, com teor muito similar. O trabalho dele é mais profundo que este então, se você tem facilidade com o Inglês, recomendo muito a leitura do artigo de Frank Karsten sobre o assunto.Ad
a possível substituição do mulligan de Vancouver pelo mulligan de Londres a partir do próximo Mythic Championship (ProTour)
. O problema que nos acompanhará até o final do artigo é como determinar a probabilidade de ter ao menos uma cópia de alguma carta específica na mão inicial e como essa probabilidade se comporta com a mudança de regras. Olá, Leylines, estou olhando pra vocês.
Não entre em pânico!
A matemática é universal, mas o amor por ela não. Sei disso. Se por acaso você faz parte do nobre grupo de pessoas que vê o assunto como uma chateação gigante, não precisa parar de ler ainda. Calma. Respire fundo e pule as seções 2 e 5, porque as contas de verdade estão restritas a elas, e aí vá direto ao que interessa. Juro que não fico nem um pouco chateado. Se serve de estímulo, te garanto que a discussão matemática é viável para quem quer que tenha concluído o Ensino Médio. Se é aprazível ou não é que depende do gosto do freguês.2. A DISTRIBUIÇÃO HIPERGEOMÉTRICA
Quantas mãos iniciais de 7 cartas são possíveis?
Para responder a esta primeira pergunta, basta utilizar combinações. Precisamos calcular o número de combinações de n elementos retirados em grupos de k elementos, ou seja, o número de mãos de k cartas (No nosso caso, k=7) retiradas aleatoriamente, sem reposição e sem considerar a ordem, de um conjunto de n cartas (No nosso caso, n=60). O cálculo faz uso do fatorial, representado pelo ponto de exclamação. Para quem não se lembra, o fatorial de um número inteiro é o produto deste número por todos os inteiros abaixo dele até 1 (Ex: 3!=3x2x1=6).Ad

Quantas mãos iniciais de 7 cartas contem exatamente uma cópia de uma certa carta?
Digamos que o deck de n cartas (n=60) contenha m cópias da carta em questão (m=4 por hora) e que gostaríamos de ter exatamente x delas (x=1) na mão inicial de k cartas (k=7 por hora). Fazemos uso então do princípio fundamental da contagem: o número total de mãos iniciais desejáveis é o número de combinações de m cartas retiradas em grupos de x (o sucesso em ter x cópias da carta) MULTIPLICADO pelo número de possibilidades sem a carta desejada, correspondendo às demais cartas da mão, ou seja, a combinação de n-m cartas retiradas em grupos de k-x. Isto é, uma carta entre 4 e quaisquer 6 entre as outras 56:

Qual a probabilidade de que a mão inicial contenha ao menos uma cópia de uma certa carta?
Os cálculos até aqui consideraram apenas a probabilidade de que a mão inicial contenha exatamente uma cópia da carta. Entretanto, se você quer muito aquela carta, deve aceitar mãos que contenham mais do que uma cópia. Precisamos, portanto, computar a probabilidade acumulada, ou seja, considerar também os casos em que você abre com 2, 3 ou 4 cópias dela (supondo que o total seja 4). A correção a fazer aqui, embora trabalhosa, é simples: basta refazer os cálculos com x=2, x=3 e x=4 e somar todos os resultados com o que já temos para x=1. O mesmo raciocínio vale se você quer uma ou duas cópias, mas não aceita três ou quatro, por exemplo. Basta somar as probabilidades dos casos de interesse. A probabilidade de termos ao menos uma cópia (aceitando até 4) aumenta de 33,6% para 39,9% aproximadamente. A título de curiosidade, você poderia refazer os cálculos considerando que tem três, duas ou apenas uma cópia da tal carta no total, bastando mudar o valor de m. O resultado é o seguinte:
3. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS
Se você está familiarizado com o uso do Excel, vai encontrar todas as funções relevantes (fatoriais, combinações e a própria distribuição hipergeométrica) embutidas no pacote, mas há uma forma bem mais simples e direta de fazer cálculos de probabilidade acerca de decks de Magic. Existem calculadoras online bastante práticas espalhadas pela rede. A mais popular delas, que recomendo e usarei deste ponto em diante, está no site Stat Trek, que você encontra aqui.Ad

4. A MUDANÇA DA REGRA DE MULLIGAN
É provável que o leitor conheça bem o mulligan atual, denominado mulligan de Vancouver, mas para fixar as ideias, lembremos a regra: sempre que você decide fazer um mulligan, embaralha sua mão de volta no deck e retira o mesmo número de cartas menos uma. Você pode repetir o processo quantas vezes quiser até não ter mais cartas e, no final, ganha um scry 1 de troco. Foi anunciado no dia 26/02/2019, através de um artigo no site da Wizards, que será testada uma nova regra de mulligan no Mythic Championship (ProTour) de Londres, que será no formato Moderno e ocorrerá entre os dias 26 e 28 de abril de 2019, daí ser denominada mulligan de Londres. É razoável supor que a mudança já foi testada à exaustão internamente pelo fabricante, o que significa que deve haver poucas chances de que a nova regra não vingue. A nova regra é: sempre que você decide fazer o mulligan, embaralha sua mão de volta no deck, retira exatamente 7 cartas e então devolve para o fundo um número de cartas igual ao número de mulligans feitos até ali. Nada de scry pra você. O resultado é que, embora o mulligan vá te deixar com o mesmo número de cartas na mão inicial com relação à regra anterior, o número de cartas visto por você antes do keep é maior, o que deve fazer com que mulligans sejam menos punitivos. Verificar se isto procede ou não, na ponta do lápis, é um dos objetivos deste texto.5. A MATEMÁTICA DO MULLIGAN
Mulligan de Vancouver (atual)
Para começar a atacar o problema do mulligan, precisamos saber as probabilidades de que uma determinada carta apareça numa mão de k cartas, para k de 1 a 7. Chamemos isto de P[k]. Vamos supor, por hora, que temos 4 cópias da carta. A correção para as outras multiplicidades é direta, bastando modificar o valor da entrada “Number of successes in sample” na calculadora hipergeométrica. Já conhecemos o resultado para k=7. Calcule para os demais valores. Para tanto, rode a calculadora com os mesmos dados mostrados anteriormente modificando apenas a entrada “Sample size”. Os resultados são: P[7] = 0,3995, P[6] = 0,3514, P[5] = 0,3006, P[4] = 0,2468, P[3] = 0,1899, P[2] = 0,1299, P[1] = 0,0667.Ad


Mulligan de Londres (novo)
O raciocínio envolvido no cálculo é essencialmente o mesmo, de modo que a última expressão continua válida. A diferença está nos valores de P[k] (“sem linha”). Note que, na regra nova, o custo do mulligan (uma carta a menos) é pago a posteriori, de modo que todas as mãos são mãos de 7 cartas para fins de cálculo. Isto é, os valores de P[k] são independentes de k e são sempre iguais a P[7]=0,3995. Como exemplo, façamos o cálculo para a predisposição de realizar o mulligan até 6 com o novo formato (compare com o cálculo anterior e repare no que mudou):
6. O MULLIGAN EM NÚMEROS
O gráfico abaixo mostra as probabilidades de se encontrar, na mão inicial, ao menos uma cópia de uma certa carta, cujo número total de cópias é 4, em função do número de cartas até o qual existe predisposição para fazer o mulligan. O que a observação do gráfico mostra é que a mudança para o mulligan de Londres não altera significativamente as probabilidades com relação ao de Vancouver se você só estiver disposto a ir até seis cartas. Por outro lado, se você estiver propenso a mulligans mais agressivos a até cinco ou quatro cartas (ou menos) a diferença nas probabilidades é bastante sensível e favorável à regra nova.Ad




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