Magic: the Gathering

Opinião

A Incerteza do Futuro do Pioneer

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Ausente do cenário competitivo em 2025, o futuro do Pioneer nos próximos anos parece incerto, e a comunidade do formato precisa urgentemente se mobilizar e mostrar que o formato merece seu espaço.

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revisado por Tabata Marques

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A temporada competitiva de 2025 para Magic: The Gathering está chegando ao fim. Em breve, teremos o Pro Tour Edge of Eternities no formato Modern, seguido pelo Spotlight Series Spider-Man, no formato Standard e, por fim, o Campeonato Mundial em 5 de dezembro, também no Standard.

Entre essas datas, devem ser anunciadas também o mapeamento das expansões de Magic para 2026 e o calendário competitivo das temporadas de Regional Championships e Pro Tour do próximo ano — nele, será necessário adereçar um elefante na sala do Magic competitivo com o qual a Wizards of the Coast não conversou durante todo esse tempo: o Pioneer.

Era de se esperar que 2025 seria um ano de maior predominância do Standard. Quando anunciadas as datas das temporadas, ainda não sabíamos que Universes Beyond passaria a valer no formato, no entanto, a Wizards tem feito muito esforço para tornar o Standard relevante no mundo pós-pandemia e colocá-lo de volta no epicentro do Magic; essa mesma mudança para incluir Final Fantasy e outros sets de Beyond no formato é parte dessa iniciativa, e validou o fato de quase todos os torneios competitivos de larga escala do ano serem nesse ambiente.

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No entanto, essa mudança não conversou em quase nada com o Modern. Antes, parecia lógico dar evidência ao formato em 2025 porque Final Fantasy seria o equivalente a Lord of the Rings este ano, mas com as mudanças de legalidade e a baixa aderência da expansão no formato e ainda menos expectativas de que Spider-Man, Avatar, ou qualquer outro set do ano seja majoritariamente relevante no ambiente competitivo.

Sim, temos Ketramose, the New Dawn, Quantum Riddler, Voice of Victory, Pinnacle Emissary, Cori-Steel Cutter e Ugin, Eye of the Storms, mas essas são inclusões pontuais que não diferem tanto do que você espera a cada expansão em um formato com nível de poder tão alto.

O Estado do Pioneer em 2025

O Pioneer, enquanto isso, está preso no limbo. O formato não participou de nenhum espaço da cadeia competitiva em 2025. Os eventos que deveriam mantê-lo aquecido nunca aconteceram, a comunidade mal se mobilizou para manter o formato vivo com torneios independentes, e a sensação geral dentro e fora dela é de que o Pioneer foi abandonado e relegado ao papel de “sub-formato” entre o Standard e o Modern, com única “mudança relevante” sendo o rebranding do Explorer no MTGArena para Pioneer com uma coleção que, no fim, ainda carece de alguns cards potencialmente relevantes para criatividade de deckbuilding (em especial, me surpreende a ausência de Reality Smasher).

Se olharmos para o Metagame atual, as últimas grandes mudanças foram provocadas por Cori-Steel Cutter, uma staple até do Legacy cujo nível de poder está tão acima da média que foi banida do Standard, e do abalo estrutural no formato provocado pela ascensão do Mono Red Aggro com Sunspine Lynx, que se transformou no limitador das bases de mana gananciosas do formato e deu espaço para arquétipos de uma ou duas cores que tentam contornar este problema.

Como jogadores, parece que estamos em uma espécie de barco encalhado. Nós vemos algumas mudanças em um canto ou outro, como as listas recentes de Simic Scapeshift, ou o reposicionamento do Selesnya Angels como potencial predador dos Red Aggro, e finalmente o surgimento do Hammer Time graças às inclusões de Cori-Steel Cutter e Cloud, Midgar Mercenary, mas a sensação geral — de dentro do formato e para quem o enxerga de fora — é de que tudo está parado, estático e talvez até entediante.

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Ainda está desenhado aquele velho panorama: Black Midrange — que esteve em evidência como melhor deck desde 2021/2022 —, seguido por Red Aggro, o qual muitos possuem agora um descontentamento pela predominância dele na temporada anterior do Standard, por Izzet Phoenix cujo espaço no Pioneer permaneceu o mesmo, ou até chegou em níveis de predominância, após o banimento da Tríade de Combos, Azorius Control cuja posição também esteve quase sempre garantida nos últimos anos e Greasefang, um competidor surgido em 2022/2023 que se transforma em diferentes variantes.

Esse efeito não se deve apenas ao fato de que a pool de cartas do Pioneer é mais extensa; sem suporte competitivo, é natural que o formato fique estático quando não existem motivos para explorar possibilidades novas e buscar respostas adequadas para o Metagame. O que motiva o jogador competitivo a tentar resolver um formato é, no fim, competir. Se não há pelo quê competir, não há razões para tentar, e se não existem motivadores para tentar, é mais fácil apenas escolher o “melhor deck” e tentar jogar um Challenge com ele.

Saíram outliers como Nykthos Ramp, Abzan Amalia e Vampires que claramente criavam situações miseráveis, mas enquanto o quadro geral permanece similar ao que vimos durante os últimos anos, jogadores e criadores de conteúdo oferecerão críticas duras e constantes ao estado do formato mesmo quando não há “nada de errado” com ele. Os padrões de consumo mudaram ao ponto de o termo “estabilidade” já não ser mais um sinônimo para “bom formato”.

O Pioneer é vítima das mudanças de preferências do consumidor

Há algumas semanas, escrevi um texto sobre como as mídias sociais mudaram nossa perspectiva de tempo. Nele, mencionei o seguinte: um formato como o Modern pré-MH seria considerado entediante para os jogadores de 2025. Não porque o Metagame era ruim ou os jogos não eram empolgantes, mas porque ele era estável demais, com pouco espaço para o surgimento de estratégias emergentes, sem grandes mudanças de pool de cartas ou o lançamento de uma staple muito eficiente, como foi o caso de Fatal Push.

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Pegue agora o Pioneer atual como exemplo. Como mencionado acima, apesar de algumas mudanças pontuais, o Metagame geral do formato está, em média, no mesmo espaço nos últimos dois ou três anos e os únicos momentos em que ele não apresentou este status quo foi quando o formato estava quebrado com combos que dominavam o cenário competitivo, ou quando algo se apresava do resto por ser eficiente demais.

Hoje, o público de Magic quer um formato onde muitas estratégias são possíveis e onde novas estratégias podem surgir a cada nova expansão, e querem isso em todo formato. Não só porque o jogo fica mais dinâmico, mas também porque nunca se falou tanto de Magic como hoje. Portanto, nunca se teve tantas pessoas que podem compartilhar o mesmo sentimento que você e, consequentemente, propagar suas palavras e opiniões como delas (já percebeu quantas vezes você ouviu que o Magic morreu nos últimos dez anos?).

De bônus, o formato também sofre com o acréscimo de power creep que coloca arquétipos e/ou cards odiados no Standard no topo da cadeia competitiva dele, deixando-o em uma situação em que ele se torna ainda mais rejeitado porque quem veio do Standard não tem boas recordações de enfrentar Heartfire Hero com Monstrous Rage, ou de lidar com Cori-Steel Cutter, que permaneceu tempo demais no ambiente rotativo, dominaram um Pro Tour, e criaram uma péssima impressão para o que o Standard deveria ser — o mesmo destino aguarda agora os jogadores de Izzet Cauldron, que provavelmente vão migrar o arquétipo para o Pioneer assim que o martelo do banimento cair sobre um dos seus cards-chave.

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O que outrora era visto como qualidade de formatos não-rotativos, hoje se tornou um defeito: estabilidade significa lidar sempre com os mesmos cards, talvez os mesmos decks, e ter mudanças ocasionais apenas quando algo é lançado que está a par do power level do ambiente competitivo ou quando um card alavanca consideravelmente um arquétipo, e por conta do power creep, se dificultou ter números como o Modern teve durante alguns anos onde o melhor deck ocupava menos de 10% do Metagame competitivo e existia ampla diversidade de estratégias ao ponto de dizer que se pode jogar com “quase qualquer deck”.

Como o Pioneer não possui — e nem deve possuir — sua leva de “Horizons set”, ele fica a mercê do que os novos lançamentos do Standard trazem para ele, e com uma estrutura já tão sólida de melhores decks e estratégia predominantes, ele fica dependente demais de expansões que tragam novos Heartfire Hero e Monstrous Rage para ter mudanças substanciais, que acontecem com cerca do dobro de cadência do que ocorre no Modern — de todos os cards de não-terrenos duais lançados em 2025, apenas 15 estão presentes nos 16 decks mais jogados do Pioneer hoje.

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Nesse sentido, existe um certo nível de incoerência na percepção do que o Pioneer é em comparação com o Modern. Muito da volatilidade do Metagame do Modern se dá por uma mescla de intervenções diretas com banimentos e desbanimentos somados com ondas intencionais de power creep que alteram toda a estrutura do formato a cada Horizon set lançado: Eldrazi e Boros Energy, dois dos temas principais da expansão mais recente da série, são hoje os dois melhores decks do formato.

Parece conveniente se o Pioneer deixar de existir

Ficou evidente este ano que a Wizards of the Coast toma decisões primariamente baseadas em feedback. Temos três expansões de Universes Beyond no ano porque Lord of the Ring deu muito certo, temos mais edições de Horizons após as duas primeiras porque, apesar das reclamações sobre “rotação forçada”, elas foram as edições mais vendidas de Magic até LotR, e temos menos precons de Commander este ano e menos lançamentos em 2025 se comparado com 2024 e 2023 porque a empresa ouviu as demandas da sua comunidade de jogadores.

Parece conveniente para a Hasbro que o Pioneer deixe de existir. O formato possui como propósito ser o lugar onde os cards que rotacionam do Standard podem ver jogo competitivo, mas ocorreram três mudanças cruciais nos últimos anos que basicamente invalidaram sua utilidade:

O Standard passou de uma rotação de dois anos para três

A essa altura, quando as cartas deixam o formato, o power creep já fez o trabalho de torná-las irrelevantes na maioria dos espaços competitivos, ou elas já se solidificaram em outros formatos há anos, enquanto os jogadores de Standard já se cansaram de enfrentar aquele card ao ponto de não querer vê-los novamente.

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Considere Sheoldred, the Apocalypse como exemplo. Ela chegou a ser uma das staples mais caras da temporada e presente em múltiplas cópias nos melhores Midranges pretos até chegar no ponto onde não passava de uma one-of ou two-of em listas porque outras opções mais relevantes saíram — Kaito, Bane of Nightmares e Unholy Annex sendo as mais importantes, já que reestruturaram por completo a base dos Midranges no fim de 2024 —, ainda assim, quando a rotação dela chegou com Edge of Eternities, a maioria da comunidade expressou alívio de finalmente estar livre da Sheoldred mesmo quando ela já havia deixado de ser um “problema” há quase um ano.

Por qual motivo um jogador de Standard gostaria de jogar o Pioneer só para enfrentar uma Sheoldred em uma versão dos decks Midrange em que ela pertencia com esteroides?

Commander já tomou este espaço de usar os cards que rotacionam

É claro que o Commander não é tão competitivo e estruturado para ser 1v1 como o Pioneer, mas ele é o formato mais famoso de Magic: The Gathering e a comunicação do painel que supervisiona seu ambiente diz quase pontualmente que “Commander é aquilo que você quiser que ele seja”, inclusive o espaço para usar aquela Sheoldred, the Apocalypse que você não pode aproveitar mais no Standard!

Como um ambiente onde quase tudo é válido e com a popularidade explodindo nos últimos sete anos, Commander se tornou um ponto-chave no design de jogo ao ponto de erros como Nadu, Winged Wisdom serem lançados como mudança de última hora pensando no ambiente multiplayer, e o mesmo pode ser mencionado de diversos outros cards que não ganham tanta atenção — já percebeu como Unholy Annex e Heartfire Hero dizem “cada oponente” ao invés de “oponente-alvo” porque não é mais possível ter esse defeito em tempos de Commander?

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É claro que nem todo card pode ser aplicado a essa regra, mas aqueles que não costumam se aplicar acabam encontrando espaço em outros ambientes, e há de convir: as chances de um card rotacionado encontrar espaço em dez listas de Commander é muito maior do que ela encontrar slots como one-of no Sideboard de um deck de Pioneer, Modern ou Legacy porque a natureza competitiva desses formatos não possibilitam tomar escolhas sub otimizadas no seu deckbuilding.

Pioneer entrou no Magic Arena e fracassou

Originalmente como Explorer, o Pioneer chegou ao Magic Arena com remendos e atualizações constantes na pool de cartas para se transformar em um formato não-rotativo que fosse verdadeiramente igual ao de papel, uma demanda que existia desde que a plataforma criou o sistema de rebalanceamentos de cards para o formato Historic.

Taxa de jogo dos formatos do MTGArena em abril de 2025 / Imagem: DailyMTG
Taxa de jogo dos formatos do MTGArena em abril de 2025 / Imagem: DailyMTG

Apesar da empolgação inicial, o Pioneer foi, segundo os dados da Wizards em novembro de 2024 e abril de 2025, o segundo formato menos jogado do MTGArena, atrás apenas do Timeless, cuja barreira de entrada pode ser consideravelmente maior, além da percepção do Metagame ser bem menos interativo.

Neste momento, há outro agravante nessa equação: seguindo a regra que utilizaram para transformar o Explorer em Pioneer — ter 99% das cartas consideradas competitivas nos principais decks do formato —, restam cerca de 25 para 30 cards para trazer o Modern para o Magic Arena. E a receptividade do Modern é, por fidelidade, tempo de existência e circunstâncias competitivas, muito melhor que a dos outros formatos, especialmente para quem não se sente satisfeito com o estado do Timeless e do Pioneer hoje.

Vale constar que o Modern possui uma vantagem inerente que deve ser considerada em comparação com o Pioneer: os Horizons sets, que agora chegam ao Magic Arena, tem essa demografia extra para oferecer um novo produto na plataforma digital além dos jogadores de Historic e Timeless, enquanto o Pioneer não oferece essa “receita extra” de vendas in-game.

A comunidade de Pioneer precisa se mobilizar

Chegou, portanto, o momento da comunidade de Pioneer se mobilizar e fazer o barulho necessário para a empresa reconsiderar o papel do formato na escala competitiva. Pioneer ainda é hoje o meu ambiente favorito: acessível se eu quiser jogar uma Liga no Magic Online, dinâmico se eu for para os jogos ranqueados do Magic Arena, menos polarizado do que o estado atual do Standard, mais justo do que se eu quiser jogar Timeless, e com menos pressão financeira do que se eu jogar Modern para criar um guia de deck — a mesma estabilidade da qual existem reclamações a respeitam o tornam um lugar confortável para fazer algo que parece difícil em outros cenários: aproveitar uma partida de Magic em um ambiente 1v1.

Essa preferência não cega meu discernimento, e compreendo que o formato passou 2025 em tempos sombrios. Vivi o suficiente em Magic para me lembrar do que aconteceu com o Extended: outro formato rotativo que a Wizards of the Coast fez mudanças que eventualmente minaram seus atrativos e pavimentaram espaço para a criação do Modern por demanda dos jogadores de poder usar cards mais antigos em um ambiente que não fosse o Legacy.

Os tempos mudaram e já não se trata mais de usar os cards antigos em um ambiente em que eles não fossem devorados por um nível de poder mais alto, mas sobre os formatos serem divertidos e engajadores mesmo que para isso seja necessário subir um pouco mais o power creep a cada seis meses ou dois anos.

Para manter o Pioneer vivo, se faz necessário dizer para a Wizards que os jogadoes de Magic querem jogar o formato, seja com as menções nas mídias sociais, nos eventos em lojas locais, torneios independentes feitos em plataformas digitais como o Magic Arena, lotando os Challenges para ampliar a receptividade competitiva que o formato oferece, convencer jogadores de que estabilidade é bom em um tempo onde todo mundo parece se importar tanto com “segurança de investimento” em um jogo de figurinhas coloridas, e mostrar que o formato é muito mais do que apenas aquele Tier 1 consolidado: procurar novas possibilidades, explorar novos decks, encontrar novas maneiras de construir estratégias outrora esquecidas.

Sem esse movimento, não ocorrerá em 2026, mas talvez em 2027 ou 2028, a Wizards of the Coast decida que, pelo menos nos torneios presenciais e nos Challenges do Magic Online — não há motivos para tirá-lo do MTGArena —, o Pioneer já não merece mais nenhuma atenção ao invés do Modern.

E seria, no fim, uma pena olhar para um artigo de anúncio da morte do formato e relembrar o tanto de potencial que ele tinha quando foi anunciado em 2019, e o que ele poderia ter sido com um pouco mais de decisões conscientes e assertivas.