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Modern: Chegou o momento de banir The One Ring?

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Nesta semana, The One Ring se tornou o card mais jogado do Modern, com aproximadamente 56% de representatividade no Metagame. Seria o momento, então, de considerar que este artefato foi um erro e bani-lo, ou ele tem um papel fundamental no ecossistema do Modern hoje?

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revisado por Tabata Marques

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O Metagame do Modern está passando por uma nova fase - Com o Boros Energy se solidificando como melhor deck do formato e começando a entrar nas primeiras casas do Tier 0 e a ascensão de outros arquétipos pós-banimento de Nadu, Winged Wisdom, como o Dimir Murktide, Mono Blue Belcher e Ruby Storm.

Muito pode se dizer sobre a representatividade do Boros Energy e sua variante com splash para o preto. Juntos, esses dois decks já ocupam pouco mais de 30% do Metagame do Modern - números preocupantes quando consideramos o escopo geral, assemelhando-o ao nível de representatividade do Rakdos Evoke antes do banimento de Fury - mas há outro assunto que traz ainda mais preocupação aos jogadores e os fazem questionar sobre a saúde do formato: The One Ring.

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No momento da escrita deste artigo, The One Ring chegou ao número de 56% de representatividade no Metagame do Modern. Ele está acima de qualquer outro card no formato, incluso terrenos - Arid Mesa, o segundo mais jogado, possui 50% de representatividade.

Neste artigo, farei uma proposta um pouco diferente do habitual e tentarei avaliar a situação com base nos prós e contras de The One Ring no Modern e o quão benéfica é sua presença no formato.

Recapitulando: Por que The One Ring é tão popular?

Uma mistura de circunstâncias do Metagame com o fato do card combinar, virtualmente, o efeito de duas peças da Power 9: Ancestral Recall e Time Walk.

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The One Ring oferece, no momento em que é conjurada, proteção contra tudo. Isso significa que o jogador não pode receber dano ou ser alvo de qualquer mágica, ou habilidade do seu oponente até o próximo turno. Para fins práticos, esse trigger funciona quase como um “turno extra” na maioria das partidas, a exceção sendo aqueles onde um jogador pode ganhar sem dar alvo ou dano no oponente (Thassa’s Oracle sendo o principal exemplo).

Além dessa habilidade, o artefato pode ser ativado para colocar um marcador e comprar card igual ao número de marcadores. Considerando que um jogador tenha usado ele uma vez quando o conjurou e uma vez após o “turno extra”, ele comprou três cards no decorrer de dois turnos com um recurso, essencialmente transformando-o em um Ancestral Recall do qual, se não for resolvido e/ou se a partida não for ganha, se transforma em um Ancient Craving.

Só que The One Ring tem diversos meios de ser reutilizado: ao jogar outra cópia, podemos sacrificar aquela que tem marcadores para manter a nova na mesa. Cards como Teferi, Time Raveler podem devolvê-lo para a mão de seu dono e jogá-lo novamente para resetar os marcadores, decks como o Grinding Breach podem usar Emry, Lurker of the Loch e Grinding Station para fazer loopings com The One Ring até vencer a partida.

O outro ponto que importa nessa discussão é o contexto do Metagame: The One Ring é uma resposta importante em estratégias que só precisam achar as peças certas.

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O fato dele “desligar” o combate por um turno já garante um fôlego a mais para jogadores contra Aggro, mas também lida com o mesmo problema quando falamos de Grapeshot ou outros combos que requerem dano e alvos para funcionar.

Um turno e três draws é tudo o que alguns decks precisam para vencer. Você precisa achar um Through the Breach para jogar Emrakul, the Aeons’ Torn? Você vai achar. Precisava de um land drop extra para Karn, the Great Creator buscar a peça que você precisa para responder ao oponente? The One Ring garante ele. Precisa segurar o oponente por mais alguns turnos para achar o sweeper que vai vencer a partida? Jogue The One Ring e tente dar bounce nele com Teferi, Time Raveler no turno seguinte para garantir dois turnos extras e sete draws a mais.

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The One Ring representa o card advantage no Modern, sendo seu principal e - para muitos decks - única opção possível. Isso o coloca tanto no espaço privilegiado de estar presente em mais de 50% do Metagame quanto apresenta alguns fatores de risco.

O quanto The One Ring afetou o Metagame

Essa popularidade é refletida principalmente no fato de The One Ring custar Magic Symbol 4. Ser incolor o encaixa em quase qualquer deck e poucos arquétipos realmente perdem algo ao usá-lo.

Na minha análise anterior, após os resultados do Pro Tour MH3 onde o artefato teve uma representatividade de 46%, mencionei que ele ajudava a manter determinados arquétipos viáveis - especialmente os Big Mana e as estratégias que requerem um setup menos interativo, que poderiam segurar os Aggros por um ou mais turnos sem dificuldades.

Isso mudou a partir do momento em que o melhor Aggro do Modern atual, Boros Energy, passou a adotar The One Ring em mais de 90% das suas listas.

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Agora, não apenas o artefato é o card mais jogado como é uma staple do melhor deck do formato - aquele que começa a escalar os primeiros degraus de Tier 0. Boros Energy também tem se provado a melhor opção contra listas de The One Ring, mas vamos deixar esse detalhe para um pouco mais abaixo.

Hoje, das estratégias que compõem os Tiers 1 e 1.5 do Modern, apenas quatro não recorrem ao artefato.

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O que eles têm em comum é que elas não ganham nada com The One Ring. Dimir Murktide se preocupa mais em combater o resto do Metagame com mágicas baratas, enquanto Living End, Ruby Storm e Domain Zoo tem planos de jogo mais lineares que não permitem usar um artefato de quatro manas que “não faz nada” do que eles querem.

Dá, sim, para jogar sem o Anel no Modern e ainda obter resultados. Todos os decks estão constantemente no topo dos Challenges e outros eventos do formato, mas todos também precisam de uma resposta e está começando a apresentar os sinais de um Metagame voltado demais para o card.

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Consign to Memory é a mais comum entre essas respostas e parece quase feita para lidar com The One Ring, apesar de seu design ter sido projetado para lidar com os triggers de cast e com os Eldrazi com um único card. Ser a resposta ideal significa também ser a segunda mágica mais jogada do formato, com 38% de representação, e a peça de Sideboard mais comum dentre os Tiers 1 e 2.

Dentre as opções, há Fear, Fire, Foes! como uma resposta barata que remove a prevenção de dano da proteção - uma tática que remete aos tempos onde os decks de Delver do Legacy usavam Wild Slash para lidar com True-Name Nemesis no combate - e Commandeer para tomar controle do artefato e, pelo menos, controlar uma metade da Power 9 dele, em alguns casos a metade mais relevante.

Responder a uma peça importante do Metagame não é surpresa, principalmente no Modern. Por anos, Chalice of the Void foi usado para lidar com determinadas estratégias, tal qual Engineered Explosives, ou Deafening Silence e efeitos parecidos para segurar Storm, ou Force of Vigor para artefatos e encantamentos indesejados, sem contar Pithing Needle para uma dúzia de permanentes e até Illness in the Ranks já foi uma staple de Sideboard em algum momento para lidar com o combo de Splinter Twin. É parte do jogo.

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Afinal, The One Ring precisa ser banido?

Durante o processo de escrita deste artigo, tentei encontrar uma resposta objetiva para essa pergunta, e a conclusão que cheguei é que ela não é fácil e depende de muitos fatores.

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Por um lado, The One Ring tem uma representação absurda no Metagame do Modern e isso reflete um padrão problemático de jogos aonde partidas são ganhas ou perdidas pelo artefato entrar na mesa no momento certo. Novamente, comprar três cards e ganhar um turno extra é tudo o que algumas estratégias precisam para virar o rumo da partida.

Eu não consigo imaginar estratégias como Eldrazi Ramp, Grinding Breach ou até Jeskai Control sobrevivendo contra Boros Energy, ou Domain Zoo sem a possibilidade de segurar a partida por alguns turnos, e a importância de The One Ring para esses arquétipos é o que os mantém de pé contra uma parcela significativa do Metagame.

Claro, respostas como Oblivion Stone para os decks de Eldrazi ou sweepers mais baratos resolveriam, teoricamente, o problema contra Aggro, mas esses são mais condicionais.

Outro problema está no card advantage: The One Ring tornou da maioria dos Planeswalkers e outras fontes de valor obsoletas - novamente, outra faca de dois gumes já que, por um lado, ele universaliza fontes de valor para toda estratégia que precisa dela enquanto, por outro, força decks a se adaptarem excessivamente contra ele e o tornou a única opção viável na sua categoria. Não há motivos para considerar Jace, the Mind Sculptor, Teferi, Hero of Dominaria e nem Karn, the Great Creator em seu lugar.

Também precisamos considerar quais estratégias estão sendo colocadas em cheque pelo artefato. Elas realmente tem alguma chance de suceder na ausência do card ou seriam apresadas por outros arquétipos? Um aggro explosivo como o Burn teria qualquer chance em jogos contra Boros Energy e outras estratégias populares sem o artefato no Metagame? Seriam outros decks capazes de ascender na sua ausência que tornariam do cenário competitivo mais diverso?

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O dilema em torno de The One Ring pode ser refletido como um exemplo de cards como Brainstorm, Force of Will ou Wasteland no Legacy - todos têm mais de 50% de representação no formato, mas sua função é de habilitar determinadas estratégias e interações que compõem o ecossistema do formato ou prevenir que coisas degeneradas saiam de controle.

É necessário banir esses cards do Legacy porque eles têm uma taxa de presença alta demais? Claro que não! O formato seria pior sem elas! Mas o mesmo pode ser considerado para The One Ring? O que Wasteland e Force of Will tem em comum é serem respostas contra coisas problemáticas do Legacy, enquanto o artefato é uma mera bomba de valor que replica efeitos de dois dos cards mais poderosos da história de Magic. Não teriam opções mais saudáveis para os decks que dependem dele se manterem?

Também deveríamos olhar para o Boros Energy

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Particularmente, não será surpresa se o Anel for banido no Modern em dezembro porque ele apresenta alguns padrões que são notoriamente problemáticos e tem um histórico em Magic: The Gathering. Surpresa, entretanto, será se ele for o único card banido.

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Boros Energy é o melhor deck do Modern hoje e não imagino nada que mude isso nos próximos meses. Nesse quesito, ele é "bom" nessa categoria porque ele não tenta fazer nada inerentemente injusto e nem torna dos jogos pouco divertidos - afinal, trata-se de um Aggro que tem um dos melhores planos de atrito e alcance que o formato já presenciou.

Sua presença, entretanto, só cresce. Nos últimos 14 dias, as variantes de Energy bateram mais de 30% do Metagame e uma parte dos arquétipos que dependem de The One Ring tem sérios problemas se não comprar uma cópia dele contra Boros Energy. Sua ausência poderia apenas exacerbar ainda mais esse problema, sem contar que este também é o melhor arquétipo de Goblin Bombardment no Modern hoje.

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Dentre as possíveis peças que poderiam levar um banimento em dezembro, acredito que Ocelot Pride seja o mais viável: sua interação com Guide of Souls e Ajani, Nacatl Pariah é um dos pilares que torna do Energy o melhor deck do Modern hoje, e o arquétipo ainda consegue sobreviver sem esse card, só com menos interações explosivas.

Além disso, por ser quase um “tipal de Modern Horizons 3link outside website”, é difícil imaginar a Wizards banindo Guide of Souls por ser parte do coração da estratégia de Energy que eles promoveram com o set e Ajani, Nacatl Pariah é um personagem icônico da lore de Magic que possui outras interações com cards como Phelia, Exuberant Shepherd.

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Amped Raptor seria outra opção cirúrgica e menos “ofensiva” financeiramente. Sua saída tiraria o potencial do deck de trapacear em custos de mana e removeria um dos principais payoffs do arquétipo de Energia. Este poderia ser substituído por outros cards, mas que demandariam uma terceira cor - Whirler Virtuoso é o primeiro que me vem em mente e que interage direto com o que a iteração atual do Energy quer, mas não compensa a falta de card advantage imediato do Raptor.

Conclusão

Eu não tenho a resposta sobre se The One Ring deve ser banido. Eu acho que o Modern está em uma situação estranha e pode continuar do jeito que está por mais um tempo. Talvez, a Wizards decida não interferir e esperar até que os próximos Universes Beyond (Final Fantasy e Marvel) façam seu trabalho e moldem o formato um pouco mais - no entanto, me pergunto se os jogadores estão dispostos a esperar tanto tempo com um Metagame que tem dois sinais de alerta crescentes.

Definitivamente não é uma situação como a do Nadu, mas com as próximas temporadas do Pro Tour sendo tanto no Standard quanto no Modern, é difícil imaginar jogadores animados para jogar RCQs se, por algum motivo, eles considerarem The One Ring e Boros Energy como muito prejudiciais ao formato.

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