Magic: the Gathering

Opinião

Nova Política de Banimentos de Magic: Prós, Contras e Possibilidades

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A nova política de banimentos da Wizards para Magic: The Gathering é, em geral, benéfica para os jogadores. No entanto, ela também traz dúvidas, receios e novas possibilidades!

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revisado por Tabata Marques

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Na última terça-feira, a Wizards of the Coast anunciou uma série de mudanças na política de banimentos para Magic: The Gatheringlink outside website.

Dentre elas, destacam-se três pontos: a mudança para uma grande atualização anual de banidas e restritas, novas atualizações de banidas três semanas após o lançamento de cada edição para correções pontuais em todos os formatos competitivos, e o anúncio de que teremos uma mudança nos cards banidos e restritos do Standard em 29 de maio.

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Neste artigo, abordaremos o impacto que essas mudanças terão tanto para o Standard quanto para formatos eternos.

Banimentos anuais são uma boa oportunidade de agitar o Metagame

A afirmação acima é vista com empolgação e receio, a depender de como os jogadores se adaptam aos novos cards e decks no decorrer de um ano, ou o quão estável o Metagame do seu formato favorito tende a ser.

Banimentos para agitar o ambiente competitivo e trazer inovações não são uma novidade. Em um contexto histórico, cards como Splinter Twin foram banidos do Modern por essa razão, tal qual outras peças que, apesar de não dominarem seus respectivos formatos, provocaram as mudanças para que novas estratégias emergissem.

Logo, esse anúncio anual será o mais importante de Magic a partir do fim de agosto, pois ele poderá criar a manutenção necessária para alimentar a diversidade nos formatos competitivos, inclusive nos não-rotativos, como Pioneer, Modern e Legacy - o Pauper pode ter mudanças nesse período, mas Emma Partlow, do PFP, já anunciou em suas redes que o comitê ainda terá sua autonomia de agir conforme o necessário.

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Essa manutenção anual teria como maior potencial a possibilidade de banir, ou desbanir, cards para adaptar o Metagame em todos os formatos. Por exemplo, um banimento em Ragavan, Nimble Pilferer e Teferi, Time Raveler no Modern causaria um estrondo na composição dos principais decks do formato, tal como se retirassem Urza's Saga. O mesmo ocorreria caso decidissem desbanir outros cards, como Splinter Twin ou Faithless Looting.

Algo semelhante poderia ocorrer com os demais formatos eternos. Um banimento em Fable of the Mirror-Breaker ou Esika's Chariot no Pioneer alteraria muito o seu cenário competitivo, tal qual desbanir alguma peça com menor potencial nocivo.

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Outro exemplo de manutenção benéfica seria como o anúncio feito em 15 de janeiro de 2018, onde Attune With Aether, Rogue Refiner, Rampaging Ferocidon e Ramunap Ruins foram banidas do Standard.

Na época, o Temur Energy e suas variantes eram o melhor deck do formato, e havia um consenso de que algo precisava ser banido dele para garantir a saúde do Standard. Porém, a empresa também baniu Ramunap Ruins e Rampaging Ferocidon, ambos cards que faziam parte do segundo deck mais popular, o Ramunap Red.

Durante o anúncio, a Wizards explicou, com números e evidências, como o Ramunap Red seria a força predominante no Metagame com a ausência do Temur Energy, considerado pelos jogadores como o elefante na sala. Logo, eles optaram por diminuir o seu potencial de longo-prazo com Ramunap Ruins, enquanto também retiraram Rampaging Ferocidon, o card que lidaria com as estratégias de go-wide, que seriam teoricamente favorecidas contra ele, o que abriu uma brecha para um formato mais diversificado, pelo menos até o lançamento de Goblin Chainwhirler.

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Uma manutenção de longo prazo significa coletar dados e evidências o suficiente para fazer essas mudanças cirúrgicas em todos os formatos competitivos, conforme necessário. Se você remove um card X ou Y do melhor deck do formato, como isso vai afetar os demais? Qual estratégia pode predominar em sua ausência, e quais são os seus predadores naturais?

Essa conta é possível quando temos o prazo de um ano inteiro para avaliarmos o desempenho de diversos decks no ambiente competitivo. Em alguns casos, elas ajudariam a manter a diversidade no ambiente competitivo quando tudo parece estagnado (o caso do Izzet Delver com Expressive Iteration no Legacy é um bom exemplo), ou quando uma estratégia está no topo por tempo demais, e não abre espaço para que outros arquétipos cresçam no Metagame.

No entanto, isso também vêm com um risco sério para os amantes de formatos eternos, em especial os já bem-estabelecidos, como o Modern e o Legacy: a possibilidade de banir/desbanir cards só para agitar o Metagame.

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Voltemos até Ragavan, Nimble Pilferer no Modern. A essa altura, apesar de ser a segunda criatura mais jogada do formato, podemos concluir que o macaco albino não é nocivo para o cenário competitivo, e está atrás de outras jogadas absurdas, ou criaturas, no sentido de ganhar jogos por conta própria.

Porém, Ragavan é muito presente. Quase todos os decks com vermelho do formato buscam usá-lo, e alguns até já fizeram um splash para encaixá-lo em suas listas. Logo, ele é, hoje, uma peça muito presente no formato e da qual, tal como outras staples, define um padrão do que sua lista precisa para competir nele.

Se a Wizards quisesse agitar as coisas no Modern, banir pilares importantes dele, como o Ragavan acima, é uma possibilidade. Muitos jogadores ficariam insatisfeitos com essa mudança se não houvessem fundamentos factíveis para ela, e o temor desse tipo de evento pode levar à falta de confiança dos jogadores sobre comprar staples de longo prazo.

Por outro lado, um ano é um tempo longo, e nenhuma mudança é permanente. Enquanto essas manutenções não matarem decks inteiros, e jogadores poderem aproveitar os cards dos novos lançamentos por tempo o suficiente, essas alterações cirúrgicas no Magic competitivo pode ser benéfica.

Banimentos trimestrais podem lidar com problemas, mas requerem assertividade

A segunda categoria de banimentos serão os trimestrais. Eles ocorrerão três semanas após o lançamento de uma edição, onde serão avaliadas situações pontuais em cada formato.

Apesar desses anúncios estarem mais voltados para os formatos eternos, eles são uma mudança bem-vinda para o Standard também, e três semanas é um bom timing para avaliar se o Metagame consegue resolver uma determinada situação, deck, ou combo novo, sem a necessidade de intervir cedo ou tarde demais.

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Esse prazo serve tanto para dar tempo para os formatos se adaptarem à qualquer estratégia predominante, quanto para lidar com cards ou interações notoriamente quebrados na hora certa. Dessa maneira, o Standard e outros formatos não sofrerão com erros de design como Oko, Thief of Crowns e interações sem precedentes, como Felidar Guardian por muito tempo.

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Um anúncio de banidas e restritas após cada lançamento também abre um prazo para caso um determinado deck evolua após essas três semanas e chegue ao ponto de dominar o Metagame: três até quatro meses. No próximo set, quando uma nova atualização sair, é provável que esse novo deck tenha alguma peça banida.

Porém, para ser efetivo, a Wizards também precisa ter a responsabilidade de assumir seus erros, e banir os cards certos, ao invés de dar voltas para tentar amenizar situações absurdas.

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Isso significa lidar com o problema onde ele está. Hogaak, Arisen Necropolis ficou tempo demais no formato por conta das tentativas da empresa de gerenciar a ameaça sem afetar a peça central. Bridge from Below está banida até hoje por conta do efeito colateral provocado por Hogaak, que permaneceu por mais uma temporada até ser banido, junto de Faithless Looting.

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Outro problema que ameaça a saúde do Metagame com assertividade é o timing. Se um determinado deck leva mais de três semanas para predominar, é natural que ele permaneça pelo resto do ciclo até o próximo anúncio de banidas e restritas.

No entanto, se ele permanece por mais um ciclo, quando já está estabelecido como a melhor estratégia no seu formato, com números expressivos, as razões para a ausência de um banimento precisam ser bem-explicadas. Do contrário, o interesse dos jogadores naquele formato pode diminuir conforme esse período se estende, como foi durante o período em que o Pioneer era dominado por combos.

Ou seja, para esse novo ciclo trimestral funcionar, e ainda garantir a segurança dos jogadores, a Wizards precisará ser objetiva na maneira como gerencia esses anúncios. Cards quebrados precisam deixar os formatos cedo - o que parece ser o objetivo dessas atualizações - e estratégias problemáticas precisam ser analisadas com cuidado, caso apareçam após esse prazo de três semanas, para avaliar se elas devem deixar o Metagame na próxima atualização.

No fim, previsibilidade é bom

Saber quando seus cards podem ser banidos é melhor do que apenas acordar um dia e descobrir que seu deck não vale mais no seu formato favorito. O prazo trimestral abre um espaço onde os jogadores, caso optem por investirem em um deck ou estratégia problemática, sabem haver um provável prazo de validade para suas listas, e precisam adaptar-se para uma possível intervenção, além de extraírem o máximo que puderem de suas listas nesse período.

Por exemplo, minha primeira experiência com Death's Shadow foi durante um torneio grande de Modern, no Rio de Janeiro. Na época, a conversa sobre o possível banimento do card existia por conta dos seus resultados expressivos, quando os demais decks ainda não estavam se adaptando tão bem para enfrentá-lo, e o lançamento de Hour of Devastation alavancou esse debate por conta do lançamento de Claim / Fame, que acabou mal vendo jogo no arquétipo.

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Eu sabia do risco de Death's Shadow ser banido no próximo anúncio. No entanto, ainda restavam meses até o lançamento de Ixalan, e eu poderia extrair o máximo do arquétipo até lá ao participar de torneios e eventos de Modern. Felizmente, o Metagame se adaptou, e nenhuma peça das listas de Shadow precisou deixar o formato.

Essa segurança é importante para os jogadores decidirem como querem investir seus recursos. Eles querem o melhor deck? Esse mesmo deck possui uma discrepância muito grande em relação ao resto do formato? Esse jogador estará disposto a lidar com a perda financeira ou migração para outro formato caso uma peça central seja banida?

Todas essas perguntas já existem na mente do jogador competitivo tem anos. A mudança importante é a comunicação clara da empresa em relação às possíveis intervenções que podem acontecer. Agora, esse mesmo jogador sabe quando seu deck pode ser banido, ao invés de ficar no escuro.

Isso encoraja as pessoas a comprarem singles, abrirem boxes, procurarem staples e participarem de mais torneios para extraírem o máximo dos melhores decks.

Conclusão

Isso é tudo por hoje.

No contexto geral, apesar de ser uma volta em círculos e de volta ao padrão pré-2020, as mudanças nos anúncios de banidas e restritas parecem benéficas para a saúde competitiva de Magic, em especial nos jogos presenciais. Elas garantem aos jogadores a segurança necessária para saber o 'prazo de validade' dos seus investimentos em cards ou decks mais problemáticos.

A maior preocupação refere-se à como a Wizards pretende gerenciar os banimentos anuais, dado que eles poderão servir como uma enorme manutenção dos formatos, não só para lidar com cards problemáticos, como também para fazer mudanças pontuais com banimentos e até desbanimentos para agitar o Metagame.

Obrigado pela leitura!