A Ascensão dos Aggros Vermelhos no Standard e no Pioneer

A estrutura dos decks vermelhos em Magic existe tem quase três décadas. Nascido originalmente da necessidade de responder ao famoso Black Summer, época em que Necropotence dominou o jogo, a ideia de juntar criaturas de custo baixo e mágicas para causar a maior quantia de dano na menor quantidade de turnos se tornou um traço inerente do jogo.

Seja com Ironclaw Orcs, Goblin Guide, Burning-Tree Emissary, Hazoret, the Fervent, Anax, Hardened in the Forge ou Monastery Swiftspear, esse arquétipo se consolidou no cenário competitivo, sendo onipresente de alguma maneira em todos os formatos - cada um com seus respectivos traços.

Desde a última atualização de Banidas e Restritas e o lançamento de Bloomburrow, no entanto, os decks vermelhos continuam vencendo em todos os formatos. Muitos deles se tornaram a melhor, ou uma das melhores estratégias do Metagame, e neste artigo exploramos como o vermelho evoluiu em Magic e o que motivou seu crescimento nos últimos meses.

Prowess é uma das mecânicas mais poderosas já lançadas em Magic, basicamente pela facilidade de desencadeá-lo por apenas jogar o jogo. Usou uma cantrip? Sua criatura cresceu. Uma remoção na ameaça do oponente? Ela cresceu de novo. É uma habilidade simples de entender e fácil de aproveitar.

Similar a outros cards com efeitos parecidos, Prowess se beneficia de algo que decks vermelhos e Aggros querem fazer naturalmente: aproveitar o máximo dos seus recursos a cada turno. Uma mágica de uma mana que compra um card significa mais um de poder, o mesmo efeito por três manas por dois cards ainda é mais um de poder, então você provavelmente vai optar pela mágica de uma mana porque ela permite sequenciar outros efeitos no seu turno, mesmo que com um recurso a menos.

Monastery Swiftspear é a prova do potencial que Prowess tem para Magic. Desde seu lançamento em Khans of Tarkir, ela se tornou uma staple de todo formato competitivo durante anos até que o power creep a afastasse do Modern e do Legacy - ainda assim, ela é um dos pilares dos Aggros do Pioneer e, hoje, também é o one-drop mais importante do Standard de Bloomburrow.

Com o tempo, no entanto, apenas ter Prowess não era o suficiente, e foi assim que chegamos a Emberheart Challenger.

Emberheart Challenger junta todos os atributos que um two-drop vermelho pode querer: ele tem impacto imediato, cresce com suas mágicas e ainda oferece card advantage caso você dê alvo nele. Qualquer efeito de uma mana se transforma em uma cantrip com ele e é difícil removê-lo com dano porque os truques de combate também interagem bem com Prowess.

Isso nos leva ao outro elemento que colaborou para a ascensão dos decks vermelhos no Standard e no Pioneer.

A habilidade de Valiant em Bloomburrow não difere muito da de Heroic em Theros. Na verdade, uma é basicamente uma versão consertada da outra, mas que abre espaço para outras interações que seriam quebradas se não houvesse limitações. Por exemplo, já imaginou exilar um card sempre que conjurasse uma mágica em Emberheart Challenger.

Mas a mecânica traz muito valor. Heartfire Hero tem um death trigger muito perigoso conforme o jogo se estende e basicamente transformou Callous Sell-Sword em um combo de Atog + Fling, e o mesmo resultado pode ser feito com várias outras criaturas, inclusive com o culpado por revigorar esse tipo de estratégia.

Kiln Fiend? Forte demais. Festival Crasher? Fraco demais. Slickshot Show-Off é o meio-termo dos dois, mas com diversas camadas extras de complexidade.

Primeiro, ele tem evasão embutida e impacto na mesa no momento em que entra em jogo. Você não precisa esperar um turno, o risco de jogá-lo é menor, ele pode “roubar” jogos do oponente caso venha no topdeck de uma mão cheia de pumps. Segundo, a sua habilidade de Plot é muito ameaçadora. Com ela, podemos fazer set ups de turnos onde jogamos três ou mais mágicas e explodimos o Tempo da partida, ou jogamos Show-Off com duas mágicas e mana para o proteger, entre outras opções.

Agora, adicione isso a qualquer mágica comumente usada nos Aggros vermelhos hoje e você percebe que até um Might of the Meek se torna ameaçador com ele, replicando o efeito de outra staple.

Monstrous Rage é uma mistura entre Rancor e Titan’s Strength. O pump não é permanente, mas é o suficiente para transformar qualquer criatura em um meio de vencer a partida contra bloqueadores e o Trample é permanente, inclusive com um aumento de resistência que tira essas criaturas da zona do Shock ou Play with Fire na mirror, ou de bloqueios comumente desfavoráveis no early game.

A combinação entre Monstrous Rage e Slickshot Show-Off vence muitos jogos em poucos turnos, sendo tão eficiente quanto Embercleave - que requeria um setup maior - era com Anax, Hardened in the Forge.

Só é possível chegar até um certo ponto com Mono Red. Essa cor não é conhecida por ter boas mágicas de proteção e elementos de atrito suficientemente bons, e os momentos onde uma versão monocolorida brilha no Metagame requer uma combinação mais específica de fatores. Por exemplo, o Ramunap Red juntava a agressividade de um go-wide com muito alcance e potencial de estender a partida com Chandra, Torch of Defiance e Hazoret the Fervent, ou quando um card é forte o suficiente para ditar o Metagame como Goblin Chainwhirler fez.

No caso de hoje, ao adotar o Mono Red tanto no Standard quanto no Pioneer, você renuncia a muita coisa sem qualquer benefício, fora possíveis restrições de budget e/ou de coringas no MTGArena. A base de mana do Standard nunca foi tão boa para decks de duas cores em anos, e o Pioneer ganhou diversas adições como as Fast Lands e Pain Lands aliadas para estratégias mais agressivas.

O splash é essencial para cobrir as lacunas do Mono Red. Precisa lidar com encantamentos? Verde garante Pick Your Poison. Precisa de mais resiliência contra remoções? Claim // Fame pode voltar seu Slickshot Show-Off ou Emberheart Challenger e ainda garantir que ele ataque para cinco de mano no mesmo turno. Precisa de mais interação contra combos? Thoughtseize no Sideboard cobre essa lacuna, e caso você queira diversificar seu plano nos Games 2 e 3, o splash te ajuda a não restringir tanto suas opções.

Emberheart Challenger e Heartfire Hero foram um divisor no Metagame do Standard e do Pioneer, favorecidos respectivamente pelas circunstâncias do Metagame.

O Gruul Prowess foi um dos primeiros decks a se destacarem no Standard após a rotação, e levou algumas semanas até ele começar a perder tração conforme os Midranges surgiram e se adaptaram. Com a ascensão deles, estratégias de Control como o Boros Tokens começaram a se apresar com turnos mais longos e com mais valor de longo prazo - o Gruul Prowess ressurge a partir desse ponto.

A nova versão do Gruul mistura elementos de combo com Manifold Mouse (no turno certo e com Might of the Meek ou Monstrous Rage, ele é quase tão bom quanto uma Embercleave) e Innkeeper’s Talent como um meio de gerar valor e incrementar o potencial da mesa no longo prazo. Foi uma adaptação do plano “All-In” para uma proposta tão rápida quanto, mas com alguma flexibilidade.

Essa mudança foi, provavelmente, ocasionada pelo comportamento do Rakdos Lizards e do Boros Mice no formato, dois Aggros que também se destacam no Metagame e tiveram semanas com resultados melhores que o Gruul porque sua posição de mesa é mais resiliente - uma lição aprendida pelos jogadores do arquétipo, e que os recompensou com o atual melhor deck do formato.

O Pioneer foi um caso diferente. Amalia Benavides Aguirre e seu combo, além da possibilidade de jogar Vein Ripper por três manas com Sorin, Imperious Bloodlord invalidava toda proposta de Aggro no formato. Com o banimento deles, tivemos finalmente o espaço necessário para o clock do formato ser ajustado por estratégias mais justas - o resultado, no entanto, foi além das expectativas.

Enquanto jogadores focavam no Humans e Boros Convoke, outros descobriram na base do Gruul Prowess do Standard os elementos necessários para criar outro arquétipo - um capaz de vencer jogos consistentemente no quarto turno - o Rakdos Prowess.

Essa versão é um remanescente do que presenciávamos anos antes com Zoo ou as variantes mais agressivas do Death’s Shadow: a facilidade do arquétipo em estabelecer e manter uma postura muito agressiva desbalanceia qualquer estratégia mais lenta, com o bônus de ser muito flexível contra o hate direcionado - e se antes Death’s Shadow tinha Temur Battle Rage para ameaçar o combo-kill, aqui temos Callous Sell-Sword com o mesmo propósito.

Resta saber como o Pioneer vai se adaptar. Jogadores tem usado o Selesnya Angels para esse propósito, mas no que ele é bom contra Aggro, ele é muito ruim em partidas de Control ou Midrange, enquanto os Control tem dificuldade em segurar o excesso de ameaças e interações com descartes que o Rakdos oferece. Izzet Phoenix ainda é a opção viável e deve manter-se no topo do Metagame, enquanto o Jund Sacrifice consegue segurar a partida por alguns turnos até fechar seu combo com Ygra, Eater of All.

Depende do que cada jogador ou a Wizards deseja de um formato. A vantagem de ter um Aggro no topo do Metagame é que eles são arquétipos fáceis de aprender, mas difíceis de masterizar. Os jogos são rápidos, mas podem se estender, e quem precisa se adaptar são as estratégias visando jogar “por cima”.

Além disso, por ditarem o Tempo da partida, esses arquétipos evitam que decks muito gananciosos dominem um formato. Estratégias como Domain Ramp ou Niv to Light podem soar mais frustrantes quando demoram demais a vencer a partida e/ou agregam uma quantia absurda de valor muito cedo, e a combinação de clock eficiente com resiliência garante um Metagame mais diversificado.

Só que há situações onde ser rápido demais é um problema. Faz muito tempo que o Standard ou o Pioneer não tem banimentos direcionados a um Aggro (Smuggler’s Copter no Pioneer, Ramunap Ruins e Rampaging Ferocidon no Standard), mas o Pauper precisou banir Monastery Swiftspear porque ela acelerava demais as partidas ao ponto de não haver possibilidade de respostas eficientes.

Existe, sim, a possibilidade de Slickshot Show-Off fazer o mesmo nos dois formatos. Existem também a possibilidade do combo entre Heartfire Hero e Callous Sell-Sword ser um pouco absurdo demais para o Pioneer pela facilidade em executá-lo, mas essas são circunstâncias ainda desconhecidas - o Pioneer passou por banimentos e ainda há muito o que adaptar, sendo natural que os Aggros se apresem de um ambiente indefinido.

No Standard, ainda faltam muitas expansões para completar o quadro desse ano, e Bloomburrow foi apenas o primeiro set do ciclo de 2024/2025. Talvez, Duskmourn já faça diferença na equação do formato, e se não fizer, Foundations pode favorecer outras estratégias e/ou antecipar as ameaças e respostas para o ritmo dos Aggros vermelhos - Llanowar Elves e Day of Judgment são dois reprints confirmados - e, assim, reequilibrar a diversidade do Metagame.

Situações onde os Aggros precisam se adaptar aos Midranges são muito comuns no Standard e em outros formatos, e é bom ver uma situação rara em que o oposto acontece, em que jogos são mais rápidos e que demonstram que apesar de aparentemente mais fáceis, também requer muita habilidade para usar criaturas baratas, pumps e dano direto da maneira mais eficiente possível.

O Gruul Prowess e o Rakdos Prowess podem até serem os decks mais fortes do Standard e do Pioneer hoje, mas ainda são passivos de todo lançamento e mudança nos seus respectivos formatos, e talvez sua ascensão seja um mero sintoma de ambientes ainda muito recentes, seja com uma pool mais limitada ou com os resultados de banimentos. Mas enquanto não haver uma adaptação completa do Metagame, parece que a melhor opção para todo jogador hoje é a de conjurar Slickshot Show-Off e Emberheart Challenger e ameaçar a vitória instantânea em cada turno em que eles ficam em jogo.

Obrigado pela leitura!