Magic: the Gathering

Opinión

Preços de Universes Beyond são um risco para Magic na América Latina

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Magic vai ficar mais caro - mas o quão caro é "caro demais" para os países da América Latina?

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revisado por Tabata Marques

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Índice

  1. > Por que tão caro? As consequências do Universes Beyond nos preços de Magic
  2. > “Monkey’s Paw Curls”
  3. > Três Universes Beyond por ano podem matar o Standard na América Latina

Qual foi o Standard mais caro de todos os tempos?

A resposta pode variar em torno de diversos fatores, principalmente no que concerne a inflação e moeda local, mas no escopo geral, muitos jogadores de longa data provavelmente mencionariam duas temporadas: a de Khans of Tarkir/ Origins/ Battle for Zendikar e a de Innistrad: Midnight Hunt até Outlaws of Thunder Junction.

No primeiro caso, os preços altos foram motivados pela disponibilidade das Fetch Lands originais no Standard, que foram combinadas com as Tango Lands de Battle for Zendikar para criar diversas pilhas de três ou quatro cores, além de cards como Jace, Vryn’s Prodigy que bateram valores significativos por uma única cópia, alavancando os preços de decks a níveis nunca visto.

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Já a temporada anterior do Standard teve uma dúzia de agravantes, em especial o valor considerável de Sheoldred, the Apocalypse combinado com outras staples de múltiplos formatos que, juntos, culminavam em preços elevados de decks: Tri-Lands, Surveil Lands, Slickshot Show-Off, entre outros que somados com a alta dos preços dos card games como um todo tornaram do Standard mais caro do que muitos estavam habituados - esta também foi uma consequência natural da rotação de três anos.

Ambos podem, em breve, ficar no passado. Conforme anunciado pela Wizards em sua página oficial, a expansão de Final Fantasylink outside website e Spider-Man, ambos da série Universes Beyond, virão com preços mais altos do que uma edição padrão de Magic - um Set Booster que custa, segundo o preço sugerido, US$ 4,50, custará US$ 7 - na prática, Elas terão aproximadamente o mesmo preço que Lord of the Rings teve em 2023, o preço de um expansão premium aos moldes das edições de Modern Horizons.

Imagem: Wizards of the Coast
Imagem: Wizards of the Coast

Essa mudança gerou um alerta: Final Fantasy e todas as expansões de Universes Beyond agora passarão pelo Standard. Portanto, podemos esperar que os preços de singles e staples sejam mais altos que o habitual - vide como exemplo o valor que The One Ring chegou quando se transformou em staple do Modern -, e Final Fantasy não é a única expansão de Universes Beyond no ano: metade dos lançamentos de Magic são crossovers em 2025, e podemos esperar que cada um deles tenha, naturalmente, a mesma linha de preços que estamos vendo com este collab e com o que testemunhamos com Senhor dos Anéis.

Ter três sets premiums em um ano vai encarecer consideravelmente um Standard que já ficaria 1/3 mais caro de qualquer maneira porque agora ele conta com seis expansões em um ano. Agora, sabendo que metade dessas expansões terá preços comparáveis com os de Modern Horizons ou Lord of the Rings, a expectativa é de que o custo do formato tenha um acréscimo de mais de 50% em comparação ao que ele custou em 2024 para montar um deck.

Por que tão caro? As consequências do Universes Beyond nos preços de Magic

Os motivos para o aumento de preço nos produtos de Universes Beyond este ano provavelmente não diferem dos motivos pelos quais Lord of the Rings foi um set mais caro em 2023: direitos de imagem.

Nenhum dos collabs com os quais Magic está trabalhando este ano é de propriedade da Wizards of the Coast ou da Hasbro. Elas diferem de alguns crossovers anteriores, como Warhammer 40,000 ou Commander Legends: Battle for Baldur’s Gate, cujas propriedades são das empresas. Final Fantasy pertence à Square Enix, Spider Man faz parte do universo da Marvel e Avatar é uma das principais marcas da Nickelodeon - em todos os casos, elas cedem os direitos para a Wizards produzir um produto de Magic: The Gathering.

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Alguns desses são esperados que sejam mais baratos. Por algum motivo, Doctor Who não teve um acréscimo de preços considerável na sua linha de produtos de Commander, enquanto Warhammer, que é propriedade da Wizards, teve decks custando US$ 55, enquanto Final Fantasy terá decks de Commander custando US$ 70.

O ponto é que nenhuma empresa vai dar os direitos para outra de bom grado. É necessário gerar alguma receita para justificar usar a imagem do Cloud Strife, ou do Peter Parker, em um pedaço de papelão colorido, e o resultado é a Wizards repassar esse custo no produto para os jogadores, assim como fizeram com Lord of the Rings - mas no caso das obras de Tolkien, a comunidade não percebeu tanto porque, como era um set exclusivo para o Modern, era esperado que ele teria preços semelhantes aos de um Modern Horizons.

Essa lógica passa provavelmente por além dos direitos de imagem. A Wizards é uma empresa bilionária e subsidiária da Hasbro - empresa que existe desde 1923. Nenhuma empresa se mantém tão bem sem entender o mercado e fazer previsões assertivas sobre o futuro, e em algum momento, alguém em uma sala de reuniões pode ter previsto uma flutuação instável do dólar este ano, como estamos vendo ocorrer no primeiro trimestre de 2025.

A Hasbro é uma empresa grande, e como toda marca multinacional, ela gera receita e tem confiança do mercado em cima de ações. Se a moeda de um país entra em um ciclo de instabilidade, a confiança nas empresas daquele país tende a diminuir - houve uma época em que os Estados Unidos seriam imunes a este tipo de situação pela predominância do dólar em relações comerciais, mas estamos vivendo tempos em que tal garantia está ameaçada - e, consequentemente, empresas precisam tomar medidas para manter os seus lucros altos e garantir uma margem positiva para os seus investidores.

Adicione isso ao fato de que, em 2024, Magic diminuiu em 1%. Parece pouco e a Hasbro atribuiu essa redução ao sucesso de Lord of the Rings no ano anterior, e o Report saiu pouco depois da Wizards of the Coast fazer a sua primeira revelação dos cards de Final Fantasy e colocar suas primeiras preorders à venda - que segundo o CEO da Hasbro, Chris Cox, esgotou em uma hora.

Todos os pontos afirmam que as medidas de colocar um produto mais caro e aproveitar o hype em torno dele na mesma semana em que precisava fazer um report de que sua maior fonte de lucros hoje diminuiu em 1% foi uma decisão estratégica para manter a confiabilidade do mercado na Hasbro - e aumentar os preços dos produtos de Universes Beyond não apenas faz parte do processo de direito de imagem, como amplia a segurança da empresa em um momento de alta instabilidade no comércio global e na moeda norte-americana.

“Monkey’s Paw Curls”

A Pata de Macaco é um conto de terror escrito por W. W. Jacobs em 1902. Sua história gira em torno de um talismã que concede desejos, mas que cada um deles vem com um preço alto - o termo “Monkey’s Paw Curls” (algo como "A Pata de Macaco se enrola") é comumente usado para ilustrar uma situação onde um desejo ou demanda popular é concedida, mas as consequências delas aparecem e são catastróficas.

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Magic já teve vários momentos como este, e o atual não é diferente. Durante alguns anos, jogadores reclamaram que havia coisas demais sendo lançadas em um espaço de tempo muito curto. Como resposta, a Wizards anunciou que 2025 teriam apenas sete expansões, sendo três delas em Universes Beyond - a primeira “consequência” do desejo era clara: todas as edições do ano, exceto Innistrad Remasteredlink outside website, valeriam no Standard.

A decisão, apesar de recebida com apreensão, parecia lógica em muitas frentes: o Standard precisa ser o epicentro do Magic para o jogo funcionar, é um formato que ajuda quem vem de Universes Beyond a se familiarizar com o Magic competitivo e, por fim, o “custo” de menos edições em um ano seria compensado pela demanda maior dos cards lançados já que todos entrariam no ciclo completo de Magic, incluindo o Standard e o Pioneer.

O aumento de preços, no entanto, adiciona um novo agravante na equação e uma “vantagem” da Hasbro para manter o seu crescimento anual em torno de Magic. Como há menos produtos sendo lançados, eles precisam vender mais, e além de vender mais, eles precisam custar mais para compensar uma suposta “perda” que ter menos sets no ano causaria - afinal, Magic é um produto a ser vendido e a Hasbro nunca teve problemas em deixar esse fato muito evidente.

Três Universes Beyond por ano podem matar o Standard na América Latina

Quando os sets de 2025 foram anunciados, uma das minhas maiores preocupações foi de ter três sets de Universes Beyond em um ano e este parecer o “novo normal” daqui adiante. Meu problema estava em como os collabs de Magic precisam parecer especiais para gerar hype e, consequentemente, um número considerável de vendas do produto ao mesmo tempo que ele não fica ostracizado dentro e fora da comunidade - Magic retém seu senso de identidade convidativo para novos e velhos jogadores enquanto um Universes Beyond anual faria o trabalho de agregar mais jogadores e criar um ambiente mais “festivo” entre os fãs de ambas as marcas, não diferente do que ocorreu com Lord of the Rings.

Agora, com os preços anunciados e a certeza que de Universes Beyond sempre será mais caro do que uma expansão in-universe, a necessidade de reduzir a quantidade de sets de Universes Beyond por ano se torna mais necessária: idealmente, muitos jogadores não se importariam de ter um set no ano “um pouco mais forte” por um preço “um pouco mais alto” - sim, haveria reclamações nas mídias sociais e gente postando a imagem de Greed nas redes de Magic, mas o produto venderia bem e jogadores de Standard teriam sempre um ano entre um UB e outro para se preparar financeiramente.

Com três sets, não existe preparo. Será uma sucessão de bombas de preços que dificultará a aquisição dos cards.

Um argumento comum nessa situação é o famoso “não compre boosters, compre singles”. No entanto, para haver singles no mercado, é necessário que lojas abram pacotes, e Magic possui menos boosters por boxes agora, e se os boosters de Universes Beyond estão mais caros e as boxes de vem com menos boosters, o resultado mais óbvio é o de singles mais caras para justificar o custo de abertura das boxes.

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Para algumas regiões, a mudança será quase irrisória: A diferença de US$ 4,50 para US$ 7 é pouco relevante para jogadores norte-americanos e europeus, e o preço do deck de Commander de US$ 45 para US$ 70, apesar de desconfortável, não é um impeditivo que pode corroer uma parte significativa da renda mensal de alguém em países com moedas mais valorizadas.

A América Latina, por outro lado, pode sofrer consideravelmente.

Quase todas as moedas da América Latina são desvalorizadas em relação ao dólar. O Brasil, por exemplo, tem o dólar comercial cotado em R$ 5,90 em 28 de fevereiro (data em que este artigo está sendo escrito). Sem considerar taxas extras de importação, manutenção de preços, IOF, e outros elementos pertinentes de transações internacionais - Magic é um produto importado via distribuidoras - podemos considerar que cada um dólar daquele booster pack de US$ 7 equivale a quase seis vezes o seu valor no Brasil: no bruto, um Booster de Universes Beyond custaria R$ 40, com as taxas e outras questões de logística, o valor pode facilmente chegar em R$ 50 ou um pouco mais por Booster.

O salário mínimo do Brasil hoje é R$ 1.509. Uma box de Universes Beyond com valor bruto de US$ 7 por Booster pode equivaler a quase o valor de um salário mínimo brasileiro ao bater R$ 1.239,00 - novamente, sem contar taxas e custos logísticos.

Vamos desconsiderar jogadores que compram Boosters - estes, por exemplo, já são raros na maioria das regiões do Brasil - e focar apenas nas lojas existentes na região: para cada case aberta, uma loja precisará precificar os cards da coleção em um valor que, no montante dos cards que importam, elas paguem o custo da abertura das cases, além obviamente de todos os custos fixos para ter uma loja: aluguel, funcionários, contas básicas como luz e água, e outros para, no mínimo, fazer o produto se pagar - a obtenção de lucro vem após esses custos serem compensados e, novamente, essas afirmações são sem considerar os fatores variáveis como quantidade de clientes em potencial para card X ou Y, fluxo de movimento da loja para eventos, entre outros.

Com cada box mais cara e tendo menos boosters, o resultado será de singles mais caras no mercado, e o custo final do produto (o card) para o consumidor será mais alto do que, por exemplo, foi com Aetherdrift ou Duskmourn, e o resultado de ter um impacto equivalente ao de Modern Horizons três vezes no ano é criar menos segurança de investimento em Magic para países menos economicamente desenvolvidos, e com menos segurança para investir no jogo, tanto os jogadores quanto os donos de loja podem se sentir desmotivados em comprar mais - se menos Magic é vendido em um país, menos Magic será comprado por distribuidoras, e com menos Magic comprado por distribuidoras, menos o Magic existe naquela região.

Não tenho dúvidas de que há uma parcela de jogadores e colecionadores que poderão comprar muito dessas expansões mais caras no Brasil ou na América Latina, e a demografia do jogador médio de Magic não é da maioria das pessoas que recebem um salário mínimo. No entanto, se US$ 25 já faz diferença no bolso de um cidadão médio estadunidense ao ponto deles se manifestarem nas redes, R$ 120+ para o cidadão médio brasileiro faz muita diferença.

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Isso coloca o Magic como o conhecemos em loja local em uma situação sensível, principalmente no Standard: se o custo do jogo já seria mais alto com seis expansões no ano e ficou ainda mais com boosters a US$ 7 para três das principais coleções, muitos que não seguem o circuito mais competitivo podem não se interessar em jogar algo além do Commander ou Pauper, e se muitos abandonam o Standard ou outros formatos competitivos e os sets de Universes Beyond não conseguem repor essa demografia, é provável que lojas tenham de fazer escolhas difíceis sobre quais produtos valem a pena comprar e quais não fazem, e a América Latina comece a ver situações onde certas expansões de Standard não valem a pena comprar, colocando em cheque a disponibilidade de singles para muitas lojas enquanto inflaciona o preço de staples pela baixa disponibilidade.

Estes são tempos de incerteza. Talvez, o produto Magic: The Gathering já não seja “um produto para você” para uma grande parcela dos jogadores latinos. Tem sido mais comum vê-los migrando para outros card games por serem mais acessíveis ou oferecerem mais suporte competitivo na região.

Se menos jogadores estão investindo em Magic, menos motivos a Wizards of the Coast tem para criar eventos e dar o devido suporte para a região - os RCQs já deixaram de ser um circuito do Brasil e da América Latina para ser LatAm como um todo. Se a demografia de jogadores em certas regiões diminuírem, menos chances temos de recuperar algum suporte mínimo da Wizards, matando inclusive a possibilidade de termos o nosso próprio Spotlight Series.

Em 16 anos acompanhando este jogo, nunca percebi o Magic na América Latina - principalmente no Brasil - com tanta incerteza. Os ventos de mudanças sopraram como um furacão e será um desafio da comunidade e das lojas realinhar todas as coisas e continuar mantendo um ambiente que favoreça o Magic competitivo no país de maneira que seja saudável para ambas as partes.

Nos resta observar os próximos episódios e torcer para o melhor dos resultados. Pelo bem da comunidade de Magic no Brasil e em outros países. Até lá, espero que essa anomalia de três sets com preços de produtos premium seja apenas um momento do ano de 2025, e que a Wizards repense o conceito de ter tantos Universes Beyond em um período tão curto.