O Campeonato Mundial 31, que ocorreu neste fim de semana, foi o palco para o principal evento competitivo de Magic: The Gathering do ano, e apesar das críticas que podem ser feitas sobre o baixo investimento que a Wizards of the Coast faz em promover o ápice do seu jogo profissional, o evento também trouxe, além da oportunidade de assistir os melhores jogadores do mundo competindo, algumas novidades para o Standard.
Entre essas, se destaca o Izzet Lessons. O deck mais jogado do evento, que colocou quatro cópias no Top 8. Seus resultados foram o suficiente para levantar um discurso já velho nas mídias sociais de que o Standard hoje é perpetuamente dominado por decks , afinal, seria o terceiro arquétipo a mostrar resultados expressivos nessa combinação de cores durante o ano.
Talvez, no entanto, a história dessa estratégia seja um pouco diferente. É possível que ele tenha surgido em um momento oportuno no Metagame, ou tenha funcionado como resposta a algo. No geral, as taxas de vitória dele não apontam para uma estratégia dominante ainda, e existem meios de derrotá-lo e até ter partidas vantajosas contra ele.
O que é o Izzet Lessons?
Izzet Lessons é um deck composto da interação entre Gran-Gran e Accumulate Wisdom com os diversos cards de Lessons para transformar o draw em um Ancestral Recall, em essência gerando uma quantidade considerável de valor pelo menor custo possível enquanto utiliza mágicas baratas para interagir com a mesa.

O deck complementa essa linha utilizando Stormchaser’s Talent e a interação com Boomerang Basics para exercer pressão com fichas de Prowess, ganhando também a inevitabilidade de poder sempre reutilizar Boomerang Basics no late-game para devolver Talent, e utilizar Talent para devolver Boomerang Basics, criando um lento porém frequente exército de fichas 1/1.

A partir deste ponto, as demais linhas de jogo se misturam. Alguns optam pela combinação de Eddymurk Crab e outras ameaças baratas, outros optam por uma linha mais “Control” com Stock Up, mas parece que a versão mais eficaz neste momento utiliza Artist’s Talent — que viabiliza Accumulate Wisdom como “draw 3 por uma mana” com mais consistência — junto de Monument to Endurance e Abandon Attachments como condição de vitória, onde cada mágica conjurada pode se transformar em mais draws, lootings e, consequentemente, se transformam em Lava Spikes com o Monumento.

Como o Izzet Lessons dominou o Mundial?
O Izzet Lessons, como já mencionado, foi o deck mais jogado do Mundial, e também teve a maior representação de cópias no Top 8 do torneio. É natural que o discurso neste momento gire em torno de dois argumentos: que Stormchaser’s Talent é eficiente demais com Bounce, e que Accumulate Wisdom é perigosamente próximo demais de Ancestral Recall — mas isso é ignorar também as demais nuances do ambiente do mundial, e como o Metagame do evento estava, em partes, a seu favor.
Talvez ele não tenha dominado
Apesar da representação no torneio e de colocar a maior quantidade de jogadores no Top 8, o Izzet Lessons pode não ter dominado as rodadas de Standard.
Sua taxa de vitórias geral ficou em torno de 57%, o que é bom, mas não o suficiente para colocá-lo como estratégia dominante, principalmente quando este estava, em tese, fora do radar. Se separarmos as variantes, os números ficam mais interessantes: segundo o usuário do Reddit Optimustormtv, as versões com Monument to Endurance foram consideravelmente melhores do que as sem, com 63.9% de winrate contra o restante do formato, enquanto as variantes sem este combo tiveram apenas 44.9%.
É possível que uma versão tenha dominado e sido puxada para baixo na winrate geral pela outra, e descobriremos a partir das próximas semanas se o Metagame geral do formato será capaz de se adaptar e quantas concessões serão feitas para este fim.
A vantagem estratégica
Apesar de estar diante da face de todos, a combinação de Accumulate Wisdom com Gran-Gran não havia demonstrado resultados expressivos nos torneios competitivos até o mundial. Por consequência, existem alguns riscos tomados quando um arquétipo supostamente “fora do radar” aparece em um torneio deste porte como estratégia dominante: jogadores não se prepararam apropriadamente para lidar com ele, outros não saberão como fazer a linha de jogo mais otimizada para lidar com uma determinada partida.
Quem pilotou o Izzet Lessons possui, neste caso, uma vantagem estratégica em comparativo com o restante do formato, pois teve a oportunidade de treinar ostensivamente contra todos os demais arquétipos, enquanto uma parcela dos oponentes talvez não teve a mesma experiência contra Lessons — pelo menos não com a amostragem desejada para encontrar os principais ins e outs.

Além disso, Lessons possui uma base específica, mas hoje se divide em diferentes variações, e cada uma requer um tipo de interação: você quer Abrade contra Monument to Endurance, mas este é um card péssimo contra Eddymurk Crab, enquanto Broadside Barrage tem o papel oposto.
Não saber como lidar com cada variante e as possibilidades de respostas que você precisa é uma vantagem estratégica importante, que deve inclusive se manter como parte do atrativo do Izzet Lessons até que a versão completamente otimizada seja construída.
Decks como o Izzet Lessons também são muito populares em eventos grandes porque possuem um bom teto de aprendizagem somado com nível de poder alto. Sim, a combinação de Accumulate Wisdom com Artist’s Talent ou Gran-Gran é um Ancestral Recall, mas entender como extrair o máximo de valor possível dos seus cards e o timing ideal é um desafio quando as linhas mais óbvias podem, na verdade, serem as erradas, e essa curva de habilidade se torna um diferencial quando você está competindo com os melhores jogadores do mundo, fazendo parte da potencial vantagem estratégica que o arquétipo teve no evento.
Falta de respostas contra os principais cards

Existe uma quantidade relativamente pequena de respostas contra cemitérios nos Sideboards dos decks do Campeonato Mundial, e o Izzet Lessons requer que cards estejam no cemitério para extrair o máximo de valor de Gran-Gran e Accumulate Wisdom.
Jogadores não apostaram tanto em hates de artefatos e cards como Annul agora que Agatha’s Soul Cauldron não possui mais um arquétipo próprio, e o Izzet Lessons utiliza Monument to Endurance como condição de vitória, inclusive sendo resiliente contra cemitérios quando já possui a engine com Artist’s Talent ativa.
Os jogadores se prepararam demais contra Badgermole Cub e outros arquétipos que estavam em alta no Metagame nas últimas semanas, e apesar da cultura comum de ampliar a quantidade de one-ofs ou two-ofs para ter um escopo mais abrangente de respostas contra jogos distintos, não havia respostas suficientes para lidar apropriadamente com este arquétipo.
Seguindo adiante: como derrotar Izzet Lessons
Agora que o deck está no radar, cabe a pergunta: como lidar com o Izzet Lessons?
O hype vai viver durante duas ou mais semanas até os jogadores encontrarem a próxima grande novidade, ou o Metagame se estabilizar ao ponto de comportar o deck-destaque do Campeonato Nacional, e este passa por compreender como o arquétipo opera e avaliar quais foram os decks que funcionaram melhor contra ele.
Hate de Cemitério e interação barata abrangente

Em tese, cards como Gran-Gran e Accumulate Wisdom só funcionam porque o Izzet Lessons tem muita facilidade de alimentar o cemitério e respostas pontuais que funcionam melhor contra outras estratégias não são eficazes em evitar que ele tenha esses cards ativos consistentemente.
São necessários hates direcionados que tenham como principal função poder exilar todo o cemitério de uma vez, como Soul-Guide Lantern, ou desativar permanentemente a capacidade do oponente de alimentar o próprio cemitério, como em Rest in Peace. Cards como Ghost Vacuum são muito lentos para esse fim, e o deck possui muita facilidade em resolver hates repetidos em forma de criatura como Keen-Eyed Curator ou Scavenging Ooze.

Respostas abrangentes que consigam atacar o deck em múltiplos ângulos também são mais necessárias agora. Vamos imaginar um card como Abrade: se a versão com Monument to Endurance se provar a mais eficaz, faz sentido utilizá-lo no maindeck ou Sideboard pois ele lida com uma das condições de vitória e com o principal habilitador de redução de custos, Gran-Gran.
O mesmo pode ser considerado para cards como Withering Torment, que lidam com criaturas enquanto também resolvem Stormchaser’s Talent e Artist’s Talent no mesmo slot. Outros cards, como Annul, lidam pelo menor custo possível com as condições de vitória do deck, enquanto Heritage Reclamation é lento como hate de cemitério, mas também resolve permanentes problemáticas enquanto nunca é um card morto na mão do seu dono.
Jogue de Reanimator
Reanimator é um dos calcanhares de Aquiles do Izzet Lessons. Este é um deck visando fazer trocas justas e ganhar o jogo soterrando o oponente com a pressão das fichas de Stormchaser’s Talent ou com a combinação das suas outras mágicas e Monument to Endurance, mas nada disso importa quando o oponente explode com um combo, e a atual versão do arquétipo é extremamente sub-otimizada para lidar com construções de planos de jogo que não se encontram na mesa.
Com uma taxa de vitórias de 33% contra Reanimator durante o Mundial, é evidente que as atuais configurações de Prowess têm poucas chances de ganhar contra o oponente. No entanto, não é uma partida imbatível: Seth Manfield, por exemplo, conseguiu ganhar de Ken Yukuhiro por conta da própria inconsistência das listas de Reanimator em achar as peças para fechar o combo e/ou ter topdecks ruins.
Jogue com decks que geram mais valor ou demandam mais respostas

Se olharmos para o escopo geral, não parece que o Izzet Lessons é tão imbatível quanto pareceu: os decks de Ouroboroid tiveram uma winrate positiva contra ele, enquanto o esquecido, porém ainda presente, Dimir Midrange se mostrou capaz de jogar bem contra ambas as vertentes do arquétipo.
A versão com Monument teve uma taxa de 33% contra Simic Aggro, 47% contra Golgari Ouroboroid e terminou o dia com apenas uma vitória entre as quatro partidas que o Dimir Midrange enfrentou contra ele, e os números não parecem diferir tanto para as outras variantes.
Por outro lado, Izzet Prowess e Jeskai Control se destacaram melhor contra as listas tradicionais, enquanto tiveram números consideravelmente piores contra as listas com Monument to Endurance, colocando-os em uma posição sensível onde será necessário considerar adaptações para lidar com a inevitabilidade dessa versão.
Concluindo
O Izzet Lessons parece um arquétipo que se beneficiou de ser uma grande novidade para deixar sua marca no Campeonato Mundial, mas os números, taxas de vitória e movimentações do Metagame não parecem colocá-lo no papel de arquétipo predominante do Standard no futuro: ele tem vantagens e a combinação de Accumulate Wisdom com redução de custos é uma jogada notavelmente explosiva, mas isso não necessariamente o coloca no papel de opressor ou o deixa ao lado de outros decks problemáticos da história recente — pelo menos não na versão atual.
Agora que o arquétipo está no radar, o Standard vai se movimentar. Jogadores criarão respostas e counter-plays, ao mesmo tempo que outros apostarão no potencial de crescimento do arquétipo para criar novas variantes dele até surgir uma “lista perfeita” — somado com o hype, é preferível contar com ter boas respostas para o arquétipo nas próximas semanas, então preparem seus Abrade contra Monument to Endurance, e lembrem-se que tanto essa estratégia quanto o possível melhor arquétipo contra ele hoje são parcialmente dependentes do cemitério para explodir.
Obrigado pela leitura!












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