Para o debate do assunto deste artigo, recomendamos assistir ao vídeo publicado no programa Good Morning Magic desta semana em que Gavin Verhey, porta-voz do Pauper Format Panel comenta sobre a atual saúde do formato, o motivo para não banirem nada no anúncio de 16 de dezembro e como os principais arquétipos do atual Metagame se convertem em vitórias.
Durante o vídeo, Gavin pergunta entre duas ou três vezes o que os jogadores pensam do formato hoje, o que eles baniriam ou quais mudanças eles fariam. A proposta nunca é boa: a maioria dos jogadores de qualquer TCG embasa suas demandas e reclamações sobre cards ou formatos em evidências anedóticas, ou, ainda mais comum, na sensação de jogar contra aquele deck - se sua lista é ruim contra Kuldotha Red, você não vai gostar do Kuldotha Red e vai considerar ele injusto demais para o Pauper que você quer jogar.
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Não importa o quanto olhemos para um tópico - neste caso, alguns decks - este só será um problema se nós quisermos que ele seja um problema. Por anos, vimos um agora membro do PFP advogar que as cantrips como Preordain ou Ponder deveriam ser banidas do Pauper para segurar os arquétipos azuis. Também vimos, neste mesmo período, diversas pessoas advogarem pelo banimento da mecânica de Monarch, que nunca ocorreu - ambos os casos, em 2024, são relíquias do passado. O formato mudou e o status quo de melhores estratégias também.
Um dos maiores desafios no Pauper de hoje é diferenciar ele do que o formato sempre foi: alguns decks funcionam melhor do que outros e definem o comportamento do Metagame. Affinity tomou o lugar que pertenceu historicamente ao Faeries, Kuldotha Red levou a velocidade do formato para o espectro oposto ao que o Tron puxava, e a única anomalia real nessa equação é o Broodscale Combo porque existe uma linha muito tênue entre justo e quebrado em qualquer arquétipo com um insta-win - Atog foi banido por isso.
Se a intenção do PFP é receber um Feedback através do vídeo para entender as demandas do formato, estes são meus dois cents: o Pauper não precisa de banimentos neste momento, pois o problema do formato não vai ser resolvido com eles.
O Dilema dos Três Decks
O Pauper viveu situações crônicas em que o formato era definido, em média, por três decks: Faeries, Boros Monarch e Tron foi o mais longínquo, mas não o único, pois estratégias como Stompy tiveram seu momento nessa tríade e provocaram mudanças como, por exemplo, a adoção do splash ao vermelho no Faeries para Skred e Lightning Bolt.
A tríade mudou conforme os anos - em maioria com a presença de Faeries - para incluir decks como Cascade, Ephemerate, Burn, entre outros conforme uma nova expansão saía, e até em Metagames quebrados ela existiu: Storm, Affinity e Faeries foi um dos momentos mais turbulentos da história do Pauper que se assemelha com um dos raros casos em que essa lógica deixa de se aplicar, como quando Turbo Initiative se tornou o absoluto melhor deck.
Nesse meio tempo, tivemos a ascensão do Affinity: um Aggro-Combo que tinha um sério Calcanhar de Aquiles com Gorilla Shaman e Shenanigans ganhou uma dúzia de terrenos que o tornam absurdamente resiliente contra hate. Nesse mesmo período, ganhamos Deadly Dispute que se encaixou na lista, aumentou sua consistência, e nunca mais saiu.
Hoje, o Affinity foi protagonista de mais banimentos no Pauper do que qualquer outro arquétipo: Atog, Sojourner’s Companion, Disciple of the Vault, All That Glitters e Cranial Ram foram todos removidos do formato por causa dele e a maioria serviu exclusivamente para tirar o “hit-kill” ao invés de consertar o arquétipo.
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Por muitos anos, fui um dos defensores de que o problema do Affinity está nas Bridges de Modern Horizons - e está, pois retirou do deck sua maior fraqueza enquanto lhe permite trapacear em custos de mana como nenhum outro arquétipo - mas os demais banimentos fizeram tanto em tirar as linhas injustas do Affinity que, a essa altura, ele é o Midrange mais eficiente do formato, com Myr Enforcer sendo seu Tarmogoyf.
Ele está para o Pauper de 2024 o que Jund foi para o Modern na década passada e o que o Delver é para o Legacy até hoje, inclusive com o mesmo problema crônico: se sai algo que facilita demais as coisas ou lhe garante uma linha de vitória fora do combate, ele quebra.
E então, temos o Kuldotha Red.
Kukdotha Red nasceu efetivamente em 2022 com o lançamento de Experimental Synthesizer e se solidificou com o reprint de Monastery Swiftspear em Double Masters. Em partes, seu espaço no Metagame foi uma benção porque tirou o “risco Tron” do Pauper: agora, decks que quisessem fazer loopings com mágicas e travar partidas com Turbo Fog precisavam ser mais rápidos, pois gastar três ou quatro turnos sem fazer nada e corrigindo sua mana já não era viável.
Os tempos mudaram. Monastery Swiftspear foi banida, pois tornou o formato rápido demais e, em troca, o Kuldotha Red ganhou um poderoso pacote de criaturas de uma mana com Goblin Blast-Runner e, mais recentemente, Goblin Tomb Raider, ambos cards que interagem bem com o arquétipo enquanto emulam Goblin Guide ou Zurgo Bellstriker sem concessões.
Então, por que banir algo do Kuldotha Red seria ruim?
Primeiro porque ele é o arquétipo mais fácil de responder dentre os melhores do Pauper hoje, como comprovado pelo fato dele ter uma taxa de vitórias mais baixa nos Games 2 e 3. Parece irrelevante, mas muito da popularidade desse deck se dá pelo fato dele ser o "pick and play" do formato. Segundo, o Kuldotha Red segura arquétipos contra os quais seriam mais enjoativos e mais desgastantes de jogar contra. Terceiro, ele coloca em cheque qualquer estratégia não interativa ao impor que o oponente precisa ser mais rápido do que ele.
No fim, o Kuldotha Red é o fun police do Pauper hoje. O teste de fogo que todo arquétipo precisa passar para ser competitivamente viável, mas que consegue ser superado com facilidade nos jogos pós-sideboard porque há uma diversidade gigante de respostas possíveis contra ele, e o Pauper seria pior e talvez algumas estratégias não seriam sequer viáveis se ele não estivesse entre os melhores decks, segurando estratégias que promovem o anti-jogo.
E então, temos o deck anti-jogo da tríade. A posição do Broodscale Combo é muito sensível: ele surgiu no formato, tomou o lugar de outro melhor deck (Terror) e ficou lá, onde se desenvolveu para variantes de Jund com Writhing Chrysalis e continua tendo uma das maiores taxas de representação em muitos eventos de Pauper de larga escala e nos Challenges.
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Em tese, isso não justifica um banimento neste deck, mas ser um combo de duas cartas fácil de executar é um problema. Muitos cards do Affinity foram banidos por esse mesmo dilema, e a diferença entre os dois se resume em quão bem o Broodscale Combo consegue estabelecer e executar um plano B, ou o quanto o seu combo de duas cartas entra em outras bases já existentes.
A resposta hoje é "nem tão bem assim". Mesmo nas variantes de Jund, ele não se destaca tanto no seu plano de Midrange ao ponto deste ser igualmente perigoso quando comparado ao combo, como foi o caso do Affinity em seus banimentos, mas a partir do momento em que esse plano se provar eficiente demais e/ou quando o plano de combo for tão consistente ao ponto de abdicar de outras propostas ser a melhor escolha, dificulta-se justificar manter ele no formato.
Então, por que não banir nada agora?
Do ponto de vista da tríade, porque não importa quais cards você retire dos decks, eles vão se manter no topo ou serão substituídos por outros arquétipos que formarão uma nova tríade de melhores decks, que por sua vez, ditarão as regras de como baralhos são construídos e criarão outro Metagame onde X funciona e Y não. É impossível escapar dessa máxima porque é assim que formatos competitivos funcionam.
Além disso, apesar de existirem melhores decks, o estado do Metagame do Pauper é diverso, não diferente de outros estados em que Faeries era o regulador. Hoje, aproximadamente seis arquétipos compõem 60% do Metagame do Pauper: além da tríade, temos Mono Blue Terror, Madness Burn e Gruul Ramp - mas os demais 40% são compostos de outros arquétipos, alguns como Mono White Aggro, Faeries, Dredge ou Black Gardens que conseguem fazer resultados em Top 8 de Challenges e outros torneios.
Estratégias como Kuldotha Red são inerentemente fáceis de pilotar, então é comum que eles apareçam em maior quantidade em Ligas ou Challenges. Affinity, pelo seu status longínquo de melhor deck, tem uma base de jogadores muito sólida dedicada ao arquétipo enquanto seus resultados o comprovam como uma estratégia confiável para quem quer se dedicar ao Pauper, e o Broodscale Combo é a categoria de arquétipo que também é muito popular com ambas as demografias: o botão de free-win consistente.
Pode-se afirmar que há um problema de discrepância de números no Pauper, mas ele não vai ser resolvido com banimentos. O que o formato precisa, por ironia, é mais power creep nos lugares certos.
O Problema do Pauper está no design
Magic é um jogo estranho. Por um lado, a criatividade do design de cards é quase infindável mesmo quando temos diversas variações de Kicker, mas existem certos efeitos que se aplicam universalmente entre os sets para manter o draft viável, e como esses ocorrem nas comuns, é possível que o mesmo ciclo se repita várias vezes porque cards, em maioria, não são - e nem devem ser - feitos com o Pauper em mente.
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Por exemplo, nós precisávamos de cinco versões diferentes de Deadly Dispute?
E quanto a cards como Goblin Blast-Runner ou Goblin Tomb Raider? Parecia pertinente que All That Glitters saísse como comum olhando para o Pauper? Kuldotha Red precisava de Clockwork Percussionist para aumentar sua consistência?
A resposta para todas elas é: não. Nenhum desses cards era necessário, pois só solidificaram decks já muito bem estabelecidos no Metagame. Mas esses não foram inseridos no Pauper intencionalmente, eles calham de serem boas opções para o ambiente de selado e cabe ao PFP decidir se eles são bons para o formato de comuns - Cranial Ram não era e o comitê não desperdiçou tempo em banir o card.
Por outro lado, e cards como Thraben Charm? Malevolent Rumble? Ou, talvez, Troll of Khazad-dûm? E o pacote de Gates com Basilisk Gate? Novice Inspector foi uma adição ruim, mesmo sendo uma versão quase idêntica à Thraben Inspector?
A resposta para a maioria desses provavelmente seria não, pois todos colaboraram ativamente para melhorar arquétipos que não se encontram no topo absoluto do Metagame. Malevolent Rumble, por exemplo, é uma cola poderosíssima para o Broodscale Combo, Gruul Ramp e Bogles, e mesmo assim, você dificilmente verá um jogador afirmando que ele é o card que precisa ser banido para enfraquecer decks.
Portanto, a solução do Pauper não será encontrada nos banimentos, mas em trazer cards bons para as combinações de cores e/ou arquétipos certos. Decks como Elves, Bogles, Heroic, Tron e outros arquétipos hoje menos populares, ou até estratégias no Tier 1.5 como Mono White Aggro são os arquétipos que necessitam da inserção de cards mais poderosos para se parear ao nível de poder do formato, e seguir o caminho reverso com banimentos vai apenas criar cenários cuja consequência pode ser ainda pior: jogadores seriam mais felizes se o Metagame retornasse para uma tríade de Blue-Based, Big Mana e Midrange?
É óbvio que esperar que o formato se resolva tem um limiar. Se os números crescem demais, os decks ficam homogenizados e o espaço para outras estratégias diminui, intervenções são necessárias para manter o formato interessante e divertido. Hoje, apesar das reclamações nas mídias sociais, o Pauper se apresenta como um ambiente diverso, mas que, como todos os formatos de Magic, tem sua escala de melhores estratégias com maior representação.
Esse processo pode levar meses, ou até anos - Faeries foi o melhor deck por uma década - e talvez não seja possível apenas esperar até que isso aconteça. Talvez, Elves nunca ganhe as ferramentas para entrar no Tier 1. Talvez, Heroic nunca seja um deck competitivamente viável de novo. Talvez, Tron se torne uma relíquia do passado.
O que pode ser banido?
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Nesse caso, o Pauper pode querer interferências do PFP para balançar um pouco o formato, mesmo que ele não esteja quebrado. Seguindo o exemplo de Jegantha, the Wellspring no Pioneer, é possível fazer mudanças no Pauper retirando alguns cards-chave para ampliar a diversidade do Metagame.
Neste caso, se fosse necessário fazer banimentos imediatos, as escolhas mais plausíveis seriam:
Krark-Clan Shaman gera card advantage enquanto é um sweeper barato, eficiente e digno de maindeck no melhor deck do formato. Ele é o único jeito de limpar a mesa por uma mana e ainda recompensa o Affinity apenas por jogar o jogo.
Existem muitos decks que podem estar sendo limitados pela presença dele, e o Pauper hoje conta com uma quantia suficientemente relevante de sweepers que não geram valor positivo com Ichor Wellspring e cards semelhantes e/ou que não podem ser recorridos com Blood Fountain, sem contar sua interação com Toxin Analysis que o transforma em um Day of Judgment por duas manas.
Deadly Dispute é o card mais jogado de maindeck do Pauper e um dos pilares tanto do Affinity quanto do Broodscale Combo e de uma dúzia de outras estratégias. Retirá-lo faria com que esses arquétipos precisassem de substitutos úteis e, para ambos, Fanatical Offering é provavelmente a melhor opção. Seu banimento não seria o suficiente para lidar com os dilemas de qualquer um desses arquétipos, pois existem substitutos viáveis em excesso, mas retirar o acesso ao Tesouro que ele gera faz diferença em muitas partidas e Fanatical Offering talvez não ofereça a mesma versatilidade.
Basking Broodscale é a peça central do combo com Sadistic Glee. Hoje, não parece necessário banir ele, mas como mencionado acima, um combo de dois cards está no limiar de ser autossuficiente demais e/ou ter um plano B tão eficiente ao ponto de forçar o oponente demais em ambas as frentes. Quando um desses dois acontecer, o combo terá de ir embora - e esta é uma situação de quando, não se.
Há dois meios de lidar com o Kuldotha Red. A primeira opção é com Goblin Tomb Raider, o mais próximo de Goblin Guide que o Pauper já teve. O principal motivo para seu banimento é que um 2/2 por com Haste é rápido demais, mas a outra razão envolve a maneira como ele pune algumas respostas padrão para essa partida, como End the Festivities ou Shrivel. Nesse sentido, retirá-lo do deck tornaria as respostas lineares contra Kuldotha Red melhores.
A outra opção é Goblin Bushwhacker, que cortaria permanentemente o potencial explosivo com Kuldotha Rebirth e outras criaturas, tornando-o significativamente mais lento.
Conclusão
Isso é tudo por hoje!
Em caso de dúvidas, fique à vontade para deixar um comentário!
Obrigado pela leitura!
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