Magic: the Gathering

Opinião

Magic, problemas e postura de vida

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Procurando informações sobre um campeonato fui surpreendido com um lindo relato de vida e Magic, vejam.

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revisado por Tabata Marques

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Bom dia meus queridos apreciadores de Phyrexia! Aqui neste artigo coloco um relato que tive ao pegar informações sobre um torneio de CMD 500 que vai ocorrer em um evento aqui em Minas Gerais, Conselheiro Lafaiete, dia 5 de Junho.

Fora o jabá, o que realmente me motivou foi o relato de vida do organizador responsável pelo Magic no evento, a maneira como ele conseguiu utilizar o jogo como ferramenta na própria vida e é sobre isso que falaremos hoje.

Relato de um jogador de Magic

Foi em 2017 que comecei no Magic, comprando lotes de bulks na internet. Sem a mínima noção de formatos e lista de banidas, eu e outros dois amigos montamos decks para participar de um torneio de Magic, em uma loja de BH. Claro, fomos severamente espancados, não fazíamos ideia de power level, metagame, estratégia, não tínhamos nada! Mas foi naquele dia que conheci o Commander.

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Comprei o pré-montado do The Ur-Dragon e foi amor à primeira vista. Daquele dia em diante, meu objetivo seria adquirir e colecionar a tribo, enquanto aprendia sobre o delicioso mesão. Começamos a jogar na minha casa, em Ouro Branco, aos fins de semana, e sempre havia uma novidade que mudava o ritmo da mesa. À medida que conhecíamos novas habilidades, mudávamos todos os decks.

As 10 globais perderam sentido quando o amiguinho mostrou o indestrutível, que logo perdeu atenção quando alguém descobriu o exílio e desta forma, pouco a pouco, nos aprofundávamos cada vez mais no infinito do jogo. Pessoas foram entrando, jogadores de 10, 15 anos atrás, tiravam suas caixas de sapato de cima do guarda-roupa para voltar a jogar e já estávamos em 8 pessoas. Outros assuntos tomaram espaço na cozinha, quadrinhos, filmes, animes, política, tudo era debate para o plano de fundo do mesão.

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Foi em meados de 2018, quando vez ou outra atingíamos 10 a 12 pessoas semanais, que minha filha foi diagnosticada de leucemia. Comecei a frequentar Belo Horizonte 3, 4 vezes por semana, às vezes, a semana inteira. Quando não estava no hospital, resolvi conhecer mais as lojas, trocando cartas, comprando, vendendo, conhecendo players e quando percebi, aquilo virou minha válvula de escape. Com tal experiência que fui adquirindo, comecei a negociar mais cartas, pegar novas visões de jogo. Minha esposa percebeu ser minha forma de aliviar a tensão, elaborando estratégias, jogando aos fins de semana, eu conseguia manter a cabeça firme para trabalhar e revezar o hospital.

Foi um tempo bem longo, até que o tratamento da minha filha obteve resultado, diminuindo as frequências de internações, ela podendo estar em casa, e a rotina retornando aos pouquinhos. Nesse momento, já estávamos fechando 2 a 3 mesas toda sexta e sábado. Um dos jogadores nos apresentou o Mizzix e seu combo de turno infinito. Confesso, foi difícil. A ideia de deck combo começou a dividir opiniões no play group. Gerou discussão. Briga.

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Obrigou a todos a reformar os decks, tirando criaturas, colocando respostas. Em algumas semanas, aquele único deck restabeleceu o meta da mesa, abriu um monte de discussão, afastou alguns jogadores, mas, também fez mudanças que hoje considero essenciais. Após a mudança, arquétipos surgiram, decks controles, midranges e outros combos, até que entramos na era da otimização, e novos debates surgiram.

Estava aberta a temporada de rate. O que era bem fácil, considerando que meu grupo era totalmente heterogêneo, tínhamos pessoas da comunidade LGBTQ+, conservadores, ricos, pobres, pessoas de vários e opostos alinhamentos políticos, e religiosos, mais e menos instruídos, enfim, várias linhas de raciocínios diferentes. No jogo, não era diferente. O conceito de otimização vs. power level vs. competitivo era uma tempestade que caía na mesa todo fim de semana.

A mesa ficava desgostosa toda vez que uma vitória era apontada ao investimento, ao arquétipo ou qualquer necessidade de explicação técnica para ela. Eu tentava sempre alcançar um ponto comum para evitar tais situações. Desde quando precisamos justificar que ganhamos no mesão? Tudo coincidia com o fim do tratamento da minha filha. O que me fez re-observar a minha vida: havia perdido minha faculdade, estava sem recursos e subempregado. E imagina o que me mantinha a sanidade nesses momentos? O bom e velho mesão.

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Senti que faltava uma loja para abastecer os locais, gerir premiação, dar um sentido que justificasse as melhorias e investimentos dos decks. Decidi fazer um campeonato e ver se seria viável abrir uma... Daí a minha primeira decepção. De quase 20 jogadores contínuos, apenas 2 compraram a ideia. Ainda não tinham a minha visão de Magic: the Gathering. Me senti o único que sustentava aquilo. Eles não acreditavam ainda. Mas um dia eles entenderiam... “A paciência é a linha que separa o jogador que faz a diferença do tóxico”. Enquanto não entendia isso, diminuí a minha influência no jogo. Com minha filha boa, era hora de me reerguer. Upei minha coleção, pimpei, colecionei. Mas a vida é implacável e a pandemia veio.

Nosso grupo por medo se afastou, mudei para a roça e em mesas de no máximo 4 pessoas fui me reerguendo, melhorei o emprego e corri atrás novamente da galera. E com tempo e conversa fomos nos acostumando com a ordem dos triggers, nosso Magic foi ficando mais técnico, educado, evoluído, por assim dizer. Entendemos que power level não tem tanto a ver com valor. Ficou só a rixa, algumas jogadas por rancor bobo de jogos passados, mas acho que todo mesão tem esse problema, estamos melhorando.

Não sei vocês, mas ainda que forfun, eu gosto de um jogo rítmico, com jogadas que fazem sentido e com estratégia objetiva, não para ver um descontando no outro. Entre tantas mudanças de jogo, senti meu grupo mais em sintonia comigo, e isso me animou a fazer algo a mais.

A oportunidade veio quando ao procurar sobre o ANIME LAFA para levar minhas meninas, e descobri que não iria ter Magic. Kelyane, organizadora do evento, disse que não houve interesse de ninguém em trazer o jogo, então pedi uma chance. Mais uma vez resolvi tentar. A região aqui é carente de lojas, a comunidade aqui existe e precisa de motivação para ter nosso hobbie atualizado, zelado e acompanhado. Entrei em contato com uma loja, coloquei para eles o meu intuito com o evento, cujo objetivo seria olhar para os jogadores iniciantes na região, algo que ainda é muito difícil no nosso jogo. Eles nos responderam enviando todo material para confecção de decks de aprendizado para serem distribuídos no dia, para os mesões forfun, e o próprio evento cobriu boosters para serem distribuídos para os primeiros a chegar e para o torneio, eu mesmo disponibilizei os prêmios.

O evento não é apenas Magic, é uma mistura de gostos, atrações e culturas. Haverá recolhimento de alimentos para entidades de ajuda, aproveitando a oportunidade de reunir todos, então além de mim, muitos estão trabalhando ali para trazer a válvula de escape a muitos que precisam, e acredito que este evento abrirá grandes portas.

Moral da história para quem joga Magic

1 — Para muitos pode ser somente um hobbie, mas Magic pode ser uma boa válvula de escape e um importante apoio a uma vida. Trate com respeito.

2 — Magic une pessoas. Elas serão diferentes em opções e posições em suas vidas, e ele une porque ao jogar isso não importa, o que importa é o jogo.

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3 — Power level não é valor em Magic, mas valor ajuda em alguns casos.

4 — Em todos os lugares, para quem joga Magic, dá para separar 2 tipos de jogadores: quem quer fazer e quem só quer reclamar. Às vezes vai ser pelo formato, às vezes vai ser pelo dia, ou até mesmo pelo tempo.

Não seja ou cultive o segundo tipo, incentive quem quer fazer algo pelo nosso Hobbie, independente do formato.

5 — Existem 2 tipos de jogador: o crítico e o conciliador. A escolha de qual você vai ser é toda sua, mas de críticos o mundo já está cheio.

Para quem leu até aqui, meu obrigado.

Contatos para o campeonato:

+55 31 8426-5657 — Keylane

+55 31 9523-2012 — Ramon