Magic: the Gathering

Opinião

Banlist: Wizards acertou em manter a data do próximo anúncio

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Apesar de Nadu ser um problema no Modern em plena temporada de RCQs, a Wizards decidir manter a data do próximo anúncio de Banidas e Restritas para 26 de agosto reforça a integridade de Magic enquanto jogo e preserva a confiança de que intervenções-surpresa são exceções.

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revisado por Tabata Marques

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Na última terça-feira (24 de julho), Blake Rasmussen, representante de Relações Públicas da Wizards of the Coast, anunciou durante o programa WeeklyMTG que o próximo anúncio de Banidas e Restritas do jogo não será antecipado e permanece na data prevista: 26 de agosto de 2024.

No mesmo programa, Blake mencionou que mesmo com uma temporada de RCQs no formato Modern começando em duas semanas, eles preferem reter a integridade das datas que a Wizards propõe para seus banimentos é o melhor para Magic e permite aos jogadores se prepararem de acordo, e que eles estão considerando meios de estabelecer datas mais assertivas para não prejudicar a base do cenário competitivo.

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A repercussão, é claro, foi bem negativa: as mídias sociais foram lotadas de reclamações e comentários sobre como a primeira metade dos RCQs está arruinada devido a um formato quebrado que ninguém quer jogar, e até nomes renomados de Magic: The Gathering expressaram insatisfação com a inatividade da Wizards em relação ao elefante na sala do atual Modern competitivo, Nadu, Winged Wisdom.

Mas o quanto essa decisão é realmente ruim para o jogo e estaria a Wizards, dessa vez, errada? Sendo bem claro desde já: não, não está. Seja por decisões de comprometimento ou, como alguns especulam, comercial, a decisão de manter o calendário previsto é, de fato, benéfico para Magic no longo prazo.

Não mudar a data da Banlist é bom para o jogo no longo prazo

Houve um tempo, como mencionado por Rasmussen no programa, aonde a Wizards estabeleceu a regra de fazer banimentos sempre quando necessário, com anúncios sem datas previstas que, posteriormente, se transformaram em um aviso de uma semana, que movimentava mercados, fazia cards como Splinter Twin subirem de preço por viés especulativo, entre outras consequências inerentes daquela época.

Para quem jogava Magic competitivo e investia dinheiro no jogo para participar de torneios ou se qualificar para eles, essa época é uma das mais sombrias do jogo: a insegurança em não saber quando seus cards seriam banidos desmotivava jogadores a experimentarem os novos melhores decks fora do ambiente digital. Afinal, quem queria investir na nova staple e/ou no arquétipo que se destacou no Pro Tour para jogar numa loja local? E quem investia em staples corria o risco delas serem prevalentes demais ao ponto de tomar um banimento.

No fim, a fórmula de “ban surpresa” gerava muita insegurança em todas as camadas do jogo competitivo; na compra de singles, no treino com uma lista para um grande torneio, o preparo do Sideboard de outros jogadores e nos guias tão comuns na internet hoje e diversas outras consequências que, no fim, levaram a Wizards a voltar para o padrão de datas marcadas para atualizações, utilizado pela empresa por mais de uma década.

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Desde então, tivemos poucos casos aonde intervenções foram feitas fora do previsto, com a mais recente sendo o banimento pré-lançamento de Cranial Ram no Pauper, aonde o PFP, comitê oficial do formato, opera de forma separada da Wizards e têm autonomia para anúncios fora de data dos quais Gavin Verhey, porta-voz do comitê, mencionou no último anúncio que essas medidas são exceções e não deverão tratadas como a norma para o jogo.

Há outro detalhe importante no anúncio da Cranial Ram, do qual estamos vendo nesse momento: abrir exceções criam novas expectativas. Não importa o quanto alguém fale “isso é uma exceção”, jogadores vão esperar por aquilo de novo, e se isso acontece com mais frequência, a integridade do atual sistema de banimentos é deteriorada e leva, novamente, ao medo de investir em cards e/ou treinar com o melhor deck pelo risco de, do dia para a noite, você perder uma lista inteira.

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Logo, a decisão de manter a data de 26 de agosto para as prováveis mudanças em vários formatos competitivos não só é esperada como a melhor decisão possível para o médio e longo prazo da saúde do Magic competitivo e da confiança que o seu público-alvo têm em relação ao dinheiro que investem em peças de papelão colorido na sua busca por entretenimento, satisfação e bons resultados.

O tempo das mídias sociais não é o mesmo tempo do mundo real

Essa abstração lógica não vai retirar a frustração. Por mais que Blake tenha explicado perfeitamente os motivos por trás de não intervir no Modern antes da temporada de RCQs, jogadores, influenciadores e outras pessoas vão repercutir isso no antigo Twitter, Reddit, Instagram, Tik Tok, Facebook e qualquer outra mídia social da sua escolha - é o espaço delas de expressar revolta, é o canto que elas têm na Agora moderna da nossa sociedade, seja para um jogo de papelão colorido ou para qualquer outro assunto.

O tempo das mídias sociais, convenhamos, é muito diferente do mundo real. Pense em quantos debates sobre a sociedade passam meses ou anos sendo repercutidos nas redes antes de chegar a qualquer plenário, ou tribunal. Casos aonde essas coisas acontecem do dia para a noite ou no prazo de uma semana são raros e requerem mobilização social em grande escala, e ainda assim, há esferas que não podem e não devem ceder ao clamor enfurecido das mídias sociais: legislações levam anos para serem aplicadas em uma sociedade, e decisões políticas, idealmente, seriam mais ponderadas antes de tentar “jogar para a torcida”.

Magic não é política e nem uma lei, mas é um negócio, um produto a ser vendido. Como tal, ele segue uma balança muito sensível e carregado de incoerência notória quando falamos de recepção pública: por um lado, uma marca quer manter seu público das mídias sociais constantemente engajado no seu produto (olá, temporada perpétua de spoilers), por outro, a empresa não pode tomar todas as decisões com base no que as redes querem.

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Para o mal e para o bem, a Wizards segue essa lógica. Da mesma maneira que as massas enfurecidas não a impede de fazer prévias de uma expansão nova que sai daqui a seis ou nove meses, ela também não força a mão da empresa em mudar seu calendário de banimentos, apesar da insatisfação das massas poder, sim, impactar quais cards são banidos - talvez tanto quanto as decisões comerciais.

E não estamos impaciente demais? Comunidades de jogos, em geral, não sabem muito bem o que querem: por um lado, reclamamos de lidarmos com formatos ruins por mais um mês até a empresa os corrigir, por outro, não gostamos da ideia de intervenções imediatistas porque elas tiram a segurança de comprar o produto. Temos pressa, mas não ao ponto de querer banimentos a qualquer momento, queremos cards novos para nossos decks, mas não queremos power creep, buscamos estabilidade nos formatos competitivos, mas deixamos o hype tomar conta na primeira aparição de um card que sai daqui a seis meses.

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Magic tem muitos jogadores e, naturalmente, essa mesma proporção de pluralidade de ideias que impossibilitam movimentos uníssonos porque, tal qual nossa sociedade, tendemos a enxergar as coisas no espectro das nossas necessidades e não no escopo abstrato e coletivo do qual, no geral, seria capaz de nos afastar permanentemente do jogo.

Mas me permita apresentá-los com mais uma das longas histórias de jogador boomer: antes dos anúncios sem data prevista, banimentos em Magic ocorriam, em média, a cada três meses. Isso gerava, como gera hoje, segurança e expectativa de quanto tempo você deve ter com seu investimento em um deck novo.

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Montou uma lista de Hogaak, Arisen Necropolis quando Modern Horizons saiu? Parabéns, você tem três meses com ele (acabou sendo mais porque baniram Bridge from Below primeiro). Estava no Modern em 2016 e pegou o Death’s Shadow quando ele mudou o Metagame inteiro? Você sabia que, em três meses, era possível que ele deixasse o formato. E não existe qualquer diferença entre essas circunstâncias e o caso de Nadu, Winged Wisdom, que se solidificou como problema após os resultados do Pro Tour MH3 em 28 de junho.

Entre o lançamento de Modern Horizons 3link outside website e a próxima atualização de banidas e restritas, são aproximadamente dois meses e meio de distância. Sim, dois meses e meio em que o Modern foi tomado por um arquétipo que oferece uma péssima experiência de jogo e nem vamos comentar da demora para banir Grief do Legacy ou lidar com Amalia Benavides Aguirre no Pioneer por problemas logísticos, mas para o formato vigente, são dois meses e meio de espera.

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O que mudou foi a coleta de dados e a base de jogadores. Hoje, a informação é repassada muito mais rápido por essas mesmas mídias sociais que também aceleraram nossa percepção do tempo. Quando jogadores postam, o tempo inteiro, que fizeram Top 8 com o melhor deck do Modern e/ou sobre como Nadu cria uma das piores experiências de jogo em todos os âmbitos, maior fica a sensação de emergência no senso coletivo, o que, por sua vez, faz dois meses e meio parecerem uma eternidade - e a janela atual, com mais lançamentos e onde estamos sempre vendo novas prévias e cards também não ajuda nesse ponto.

E esse clamor por soluções provisórias também desvia o foco de qual é o verdadeiro problema, aquele que começou essa sequência de situações problemáticas recorrentes em todos os formatos eternos.

O problema está na filosofia de design de Modern Horizons

Power creep sempre vai existir. Quando Counsel of the Soratami se transformou em Mulldrifter, foi um power creep, e quando Quick Study saiu em Wilds of Eldraine, também foi outra escalada do nível de poder.

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Conforme jogos envelhecem e mais produtos saem, é natural que cards novos, com versões mais eficientes e/ou com leves upgrades de efeitos antigos, saiam. É parte de manter o jogo fresco e motiva a comprarem seu produto, base elementar de qualquer TCG e uma força inevitável que independe da vontade do jogador.

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Power creep, no entanto, é um balanço. Uma hora, ele sobe demais e, eventualmente, tem de descer. É o motivo pelo qual, vez ou outra, vemos uma expansão de Standard menos impressionante quando comparada com as outras do seu ciclo. Do contrário, ou o jogo quebra, ou ele viverá numa escalada de poder perpétua que, eventualmente, o levará a ruína e à insatisfação geral dos jogadores.

A linha de produtos Modern Horizons e qualquer outro voltado para formatos eternos, entretanto, não precisa se preocupar com isso. Pelo contrário, designs mais ousados e sinergias mais poderosas são motivados nesse produto para, intencionalmente, impactar Metagames onde a vasta história de Magic.

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O resultado fica claro sempre nas primeiras semanas: os formatos mudam completamente, e até quando o nível de poder não tenta “acompanhar”, como em Lord of the Rings, certos cards se tornam tão prevalentes que alteram toda a estrutura competitiva como foi com The One Ring e Orcish Bowmasters - duas staples cheias de controvérsias no Modern e no Legacy, respectivamente.

A escalada recorrente de poder para formatos eternos, visando os impactar e assim transformar o produto em um sucesso de vendas - o objetivo primário de qualquer empresa - é o que tem feito Magic se tornar mais desbalanceado quando olhamos para o escopo geral: efeitos mais eficientes, custos mais baixos, caixas de texto cada vez maiores, mecânicas que interagem de maneiras inesperadas porque é possível trabalhar com mais ousadia em sets como Modern Horizons, criam um ambiente aonde “rotacionar” se tornou comum até em formatos onde, antes, jogadores se gabavam por não precisar investir constantemente em novidades.

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Basta ver o Metagame do Pro Tour Modern Horizons 3: de todos os arquétipos mais presentes, apenas o Mono Black Grief permaneceu dentre os arquétipos do “antigo Modern” e seus resultados em comparação com as listas de Necrodominance foi pífio ao ponto de deixar claro qual deles era a melhor escolha.

Se algo precisa mudar para termos menos situações como a atual com Nadu, é a de parar de criar produtos para formatos eternos que alteram completamente o cenário porque isso abre mais possibilidades do que o Metagame aguenta. No Modern, 7 dos 10 decks mais jogados hoje nasceram ou ressurgiram com MH 3 em um formato dado como desbalanceado e pouco divertido de se jogar.

A má notícia, entretanto, é de que isso não vai mudar, não tão cedo: jogadores de Magic adoram mudanças nos formatos. Mesmo que uma parcela barulhenta diga o contrário, é possível comprovar tanto por experiência local quanto no geral que o interesse por Modern aumentou após o lançamento de MH3 enquanto o Pioneer, formato não-afetado pela expansão e cujo ambiente competitivo está estável faz cerca de seis meses, tem perdido popularidade e recebe críticas por ser “obsoleto” e/ou “miserável de se jogar sempre com os mesmos decks” - outra mudança da percepção pública que, em outros tempos, defendia a estabilidade do investimento em detrimento da inovação.

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Power Creep requer mais Intervenções

Mas se expansões como a linha Modern Horizons força rotações e puxa o nível de poder de um formato exponencialmente para cima, cabe a Wizards, se não é capaz de remediar o power creep, tomar decisões mais assertivas sobre datas e banimentos.

Três meses, o padrão “normal” para a maioria dos formatos, pode ser, de fato, tempo demais para Modern Horizons. Ninguém gosta de jogar formatos quebrados e ter uma temporada de RCQs logo em seguida para promover seu produto não é um planejamento que levou em conta a possibilidade do Metagame quebrar.

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Nadu é certamente um desses casos, e nem pelos seus números: ele é uma estratégia de looping* inconclusivo, ou seja, em algum estágio ele pode falhar por algum motivo e, consequentemente, parar o combo, compartilhando um traço que levou ao banimento de Krark-Clan Ironworks no Modern, além de consumir tempo demais “fazendo coisas”, traço em comum com o motivo para terem banido Sensei’s Divining Top no Legacy.

Não fosse suficiente, seus números no Pro Tour MH3 foram absurdos, talvez só não mais altos e prevalentes do que os do Eldrazi Winter. Ele era o deck mais esperado, colocou cinco cópias no Top 8 e protagonizou duas rodadas das quartas de finais e das finais com mirrors - ele estava acima do resto do cenário mesmo com um alvo gigante nas costas, e ainda levou o torneio.

Por fim, não podemos ignorar o fator logístico: Nadu é complicado de pilotar manualmente. Se ele já é um inferno de jogar no Magic Online por conta dos cliques, imagina precisar apontar todos os triggers dele e lembrar cada vez que um ou outro efeito foi desencadeado até alcançar algum looping? Quantos judge calls situações em torno dele causarão nos RCQs? Quantos jogos serão ganhos ou perdidos por uma má-interpretação das regras em torno dele e/ou algum esquecimento de trigger?

Apesar de concordar com a decisão de manter a janela de banimentos original, a existência de um arquétipo tão complicado e com situações tão complexas de partida cria a necessidade de estabelecer datas mais assertivas para tornar dos RCQs mais justos e com ambientes saudáveis no que concerne ao deckbuilding e desenrolar das partidas. E já que abordamos o aspecto logístico das partidas, Amalia Benavides Aguirre deveria ter sido banida do Pioneer faz meses pelo mesmo problema.

Mas e a temporada de RCQs?

A temporada perde. É um fato.

Ter um banimento no meio dos RCQs basicamente significa que os jogadores precisarão se preparar para outro Metagame enquanto jogam os torneios. Muitos, certamente, já estão experimentando techs e arquétipos que podem se beneficiar caso Nadu, Winged Wisdom seja realmente banido em 26 de agosto.

Agora, convenhamos, esse não é o apocalipse e a “troca” é relativamente justa: quem escolheu jogar de Nadu na temporada sabe que o arquétipo vai perder alguma coisa, potencialmente o seu card-chave porque qualquer outra escolha será um erro aos moldes de Bridge from Below, então eles terão algumas semanas para jogar com o arquétipo antes de o perder para sempre. Alguns certamente consideram essa uma troca justa.

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Por outro lado, haverá ambientes e RCQs, principalmente de lojas locais e/ou lojas menores, aonde é provável que nem sequer uma lista de Nadu apareça no Metagame por todas as consequências inerentes de jogar com ele. Afinal, estamos falando de um arquétipo cansativo, com muitos triggers, que consome muito tempo e provavelmente vai desaparecer, e também existem jogadores que não verão essa “troca” como proveitosa e, portanto, não perderão tempo investindo numa lista.

Há o risco de comprometer eventos e o absoluto melhor deck dominar ambientes, a mudança brusca com um banimento no meio da temporada é um problema que não deveria acontecer, A data do último anúncio deveria ter sido uma ou duas semanas após o Pro Tour e banido Nadu, mas nenhum desses representa o fim do mundo para ninguém.

Os RCQs vão acontecer, jogadores vão se classificar, novas listas vão surgir e desaparecer, o Metagame vai mudar, banimentos ocorrerão em 26 de agosto, o jogo continua.

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