Magic: the Gathering

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Pauper: Banimentos nunca resolverão o verdadeiro problema

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A predominância do Affinity no formato é apenas o sintoma de um problema crônico e muito maior que o Pauper tem enfrentado faz muitos anos, e não há banimento que o resolva.

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revisado por Tabata Marques

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Faz apenas cinco meses desde que escrevi um artigo cobrando da Wizards um posicionamento sobre o estado polarizado em que o Pauper se encontrava no momentolink outside website, por conta da ascensão de Chatterstorm e Sojourner’s Companion, então, particularmente, não esperava precisar escrever outro artigo sobre banimentos tão cedo, e decidi que não vou escrever sobre o Affinity.

Eu tenho dois motivos para isso: O primeiro é que, particularmente, o Pauper não é o formato mais empolgante para mim, faz bastante tempo, e a cada novo lançamento, me sinto mais distante e menos interessado no formato por alguns motivos óbvios, como a inclusão de cards/mecânicas que claramente quebram o cenário competitivo, enquanto a própria natureza do formato, desde antes de Commander Legends, não é a mais empolgante para os tipos de jogos que gosto de jogar. Então, apesar de jogar periodicamente em eventos locais ou online, o formato não tem sido meu foco principal e tem perdido seu espaço para o Pioneer que, apesar de todo o debate sobre decks como Izzet Phoenix e Naya Winota, tem apresentado estilos de jogos muito mais diversificados do que o formato de cartas comuns atualmente.

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O segundo motivo é que eu não vejo meios práticos de, num futuro próximo, o Pauper ser consertado. Não importa se algo do Affinity será banido quando o problema do formato encontra-se numa camada muito mais profunda, e tem saído de controle há mais de dois anos, tornando o formato extremamente instável para os jogadores, comumente criando cenários onde um deck opressivo surge, ou onde o Metagame torna-se extremamente entediante por uma dezena de motivos, que vão de padronização dos meios de jogo até resultados repetitivos para o desenvolvimento de uma partida.

É óbvio que isso não é uma exclusividade do Pauper, e pode ocorrer com qualquer formato competitivo, mas existem alguns pontos nesse quesito onde isso tem sido muito mais prejudicial para o Pauper do que para qualquer outro formato eterno, em especial na falta de velocidade e assertividade para resolver os problemas, até mesmo quando eles são causados por bugs da plataforma digital, e é bem desagradável ver que estas mudanças só ocorrem na semana anterior aos grandes eventos, como Showcases e Qualifiers.

A minha concepção particular do Pauper atualmente não é boa porque formato está doente, cheio de problemas crônicos que se manifestam recorrentemente, mesmo nos momentos em que afirmamos que ele está “saudável”, e que não vejo perspectiva de dias melhores, onde o formato recebe a devida atenção, ocorrendo no próximo ano.

O Atual Cenário: Affinity está quebrado

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Caso você não esteja acompanhando o formato, o Affinity hoje compõe cerca de 30% do Metagame do Pauper, o que é um número aceitável para um “melhor deck” do formato, mas a sua conversão para o Top 8 é a mais alta do formato por uma margem significativa.

Como exemplo, veja os decks do Top 16 dos Challenges do último Sábado e Domingo.

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As variantes de Affinity (que hoje são majoritariamente Grixis ou Rakdos) ocuparam um total de treze das dezesseis vagas do Top 8 dos Challenges deste fim de semana, e dezoito das trinta e duas vagas do Top 16.

Além disso, arquétipos conhecidos estão adotando diversos elementos para lidar com o atual melhor deck e, ainda assim, continuam perdendo para o Affinity, ou precisam recorrer a uma quantidade absurda de respostas no sideboard, como foi o caso do Tron ganhador do Challenge do dia 13 de Novembro, que utilizou um total de onze cartas no Sideboard para a matchup contra este arquétipo.

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Então, creio estar bem evidente para qualquer um que não possua uma opinião enviezada por pilotar o arquétipo, ou por se beneficiar da predominância do deck (o que, particularmente, julgo que não existe nenhum outro deck realmente se beneficiando no momento), que algo precisa ser banido do Affinity, e a discussão sobre o que precisa ser banido é bastante longa, e talvez até mereça um artigo próprio, mas eu gostaria de atentar o seu foco para uma questão muito mais importante, da qual toda a discussão de banimentos que estamos tendo desde Fall from Favor se encaixa, e que todas as intervenções que tivemos nos últimos anos são uma consequência desta questão:

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Cards Problemáticos no Pauper são um sintoma, não a doença

Você se lembra da última vez em que tivemos um entendimento geral de que o Pauper estava saudável e divertido? Faz bastante tempo.

Até mesmo em momentos onde o formato estava mais diversificado, como após o banimento de Fall from Favor, ainda havia um debate gigantesco sobre a quantidade de decks que recorriam à mecânica de Monarch, ou sobre como os decks de Big Mana estavam suprimindo outros Midranges, ou sobre como Cast Down e Snuff Out tornaram do Dimir Faeries eficiente demais.

E se olharmos para o passado, estamos debatendo a saúde do formato de maneira negativa e, na maioria das ocasiões, sempre por conta de cards novos, desde Peregrine Drake.

E diante de tantos debates sobre a saúde do Metagame, a saúde do formato tornou-se uma espiral infindável de problemas que só cresce á cada ano.

E se ocorrerem banimentos para o Affinity, ainda estaremos debatendo uma série de outras mecânicas, decks e interações problemáticas para o formato e questionando quando/se a Wizards pretende tomar alguma atitude com relação a elas, ou se deixarão o formato definhar e precisar se virar para lidar com tal problema.

Segue abaixo uma lista de uma grande parcela de cards, decks ou mecânicas não-inclusas no Affinity, consideradas problemáticas para o formato em alguma escala.

Tenham em mente que eles não necessariamente representam a minha visão particular do formato (apesar de eu concordar com alguns dos pontos apresentados):

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Começando pelo Monarca, a mecânica é considerada extremamente parasítica para o formato, pois padroniza os meios de card advantage, oferece uma vantagem que não foi planejada para ser utilizada em partidas de Single-Player, e favorece estilos de jogo pouco-interativos, onde um jogador pode simplesmente evitar todo e qualquer ataque do oponente com removals/sweepers, fog effects e bloqueadores, enquanto o soterra em uma pilha de card advantage até dominar a partida.

O Monarch começou como uma mecânica interessante, que adicionava um novo meio dos decks Midranges conseguirem se manter no formato e ficarem a par com o card selection estabelecido pelos Blue-Based Decks, enquanto também permitia jogos de atrito mais interessantes, e os decks Aggro mais rápidos, como o Stompy, tornavam da opção de jogar com o Monarca um risco nos primeiros jogos, mas levou apenas alguns poucos anos para os jogadores “resolverem” as fraquezas da mecânica, criando arquétipos cada vez mais otimizados, enquanto diversas outras estratégias passaram a recorrer ao Monarch.

Hoje, a mecânica tornou-se praticamente obrigatória em quaisquer decks não-Aggro / não-Tron do Pauper, e até mesmo decks como Faeries utilizam duas ou três cópias de Thorn of the Black Rose, ou Crimson Fleet Commodore para manter o card advantage contra os Midranges.

Ou seja, o formato, quando não está polarizado, torna-se voltado para o Monarca.

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Muito é dito sobre o Tron, em especial sobre o quanto o arquétipo é pouco-divertido de se jogar contra por conta de seus soft locks e loops de spells, e o quanto este arquétipo é problemático por levar uma parcela significativa de jogos ao empate ou a uma vitória de 1-0 nos torneios de tabletop.

Porém, o mais evidente problema do Tron é que o arquétipo essencialmente limita a viabilidade de decks Control no Pauper porque nenhum deck Control será melhor que o Tron, já que ele consegue quebrar a matemática de mana e realizar mais jogadas em um único turno do que qualquer outro deck que não utiliza as lands de Urza conseguiria.

Além disso, o Tron é outro arquétipo extremamente limitador no formato, por ser um poderoso predador natural dos Midranges, enquanto também consegue suprimir a maioria dos decks Aggro com seus fog-effects e o soft-lock de Stonehorn Dignitary.

É interessante pensar, entretanto, que o Tron está sendo colocado em cheque nos últimos meses por conta da (também problemática) interação de Cleansing Wildfire com terrenos indestrutíveis.

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Eu fiz um artigo onde explico a maneira como arquétipos como o Faeries sempre serão o melhor deck do formatolink outside website quando o Metagame está equilibrado, por conta das vantagens que um arquétipo de Turbo Xerox naturalmente possui no jogo, mas isso não significa que a predominância do arquétipo deva ser sempre ignorada, e nem que ela não seja considerada um problema em determinadas ocasiões.

No final das contas, Spellstutter Sprite ainda é, como exemplificado no artigo, um Snapcaster Mage para Mental Misstep e, posteriormente, um Snapcaster Mage para Prohibit ou até Counterspell, enquanto sua interação com Ninja of the Deep Hours é extremamente poderosa desde os primórdios do formato, e o fato de ainda estar presente hoje e manter-se a par de mecânicas como o Monarch demonstra o quão eficiente esta combinação e o arquétipo são.

Na realidade, uma das razões pelas quais The Monarch ainda parece justo e necessário para o Pauper é que a mecânica permite às demais cores conseguirem se manter a par do card advantage e filtragem de topo que os decks azuis, principalmente Faeries e Delver (que já nem é mais competitivamente viável) possuem.

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Existe um debate atualmente sobre banir as novas Duais Indestrutíveis de Modern Horizons II, não apenas pelo quanto estes cards colaboraram em tornar do Affinity o que ele se tornou, como também pela sua interação com Cleansing Wildfire.

A combinação de Cleansing Wildfire com estas lands permite que um jogador possua um Ramp de custo 2 que se repõe na mão do seu controlador, enquanto conserta sua mana e acelera seu plano de jogo, facilitando splashes e afins, sendo, portanto, uma interação comparável ao atualmente banido Arcum’s Astrolabe, apesar de bem menos splashável em outras cores.

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Essa interação, além da predominância atual do Affinity, leva alguns jogadores e criadores de conteúdo a acreditar que todo o ciclo de dual lands de Modern Horizons II deveria ser banido.

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Tal como o Monarch, Bonder’s Ornament é um card com potencial para padronizar o card advantage entre decks Midrange e de Big Mana e, acoplado ao manafixing proposto pelo artefato, preocupa alguns jogadores de que, na ausência da mecânica de Conspiracy, o card torne-se uma necessidade obrigatória no maindeck dos Midranges, e no Sideboard de outros decks para manter a paridade em cards durante uma partida.

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Por fim, há diversos jogadores que acreditam que o banimento de Arcum’s Astrolabe deveria ter sido acompanhado por Ephemerate por conta da poderosa interação que o card possui com Evoke, e com Stonehorn Dignitary e/ou Mnemonic Wall, e agora, Ardent Elementalist, dentre os mais diversos efeitos de ETB que existem e existirão no Pauper.

Em um mundo sem Monarch, é altamente possível que Ephemerate protagonizasse algumas das principais engines de Card Advantage ao lado de Mulldrifter e outros cards poderosos, como Soul of Migration.

Além destes, existem outros cards que são vagamente considerados como problemáticos para o Pauper, e definitivamente surgirão muitos outros nos próximos anos que também serão vistos como problemáticos, ou podem até mesmo quebrar o formato novamente.

Ou, mais necessariamente, o Magic competitivo meio que se tornou um período onde jogadores aproveitam momentos de calmaria antes da próxima tempestade da nova mecânica quebrada e/ou deck opressor.

Banimentos não resolverão todos os problemas

Um movimento comum por parte da comunidade de Magic: The Gathering nos últimos anos foi a banalização do banimento: muitas pessoas, especialmente jogadores, possuem a tendência de avaliar banimentos com base no seu gosto pessoal, ou desgosto particular quanto a um determinado deck, ou estratégia, o que particularmente enxergo como um meio infantilizado de avaliar as situações perante um jogo competitivo.

Muitas coisas podem ser consideradas na hora de banir um card: Representatividade do Metagame, fator diversão, procedimentos de jogo (cards como Second Sunrise e Cauldron Familiar foram banidos por apresentar padrões repetitivos de jogadas), dentre outros, e é imprevisível saber quando a Wizards considera plausível banir um card ou não com base em determinados sentimentos pessoais, mas se tem algo que acredito que sempre devemos considerar ao falar de banimentos é a situação do formato.

Porém, acredito ser importante embasar a sua visão sobre as coisas com base nos dados e no Metagame, e não com seus sentimentos pessoais.

Alex Ullman, mais conhecido como NerdtotheCorelink outside website faz um ótimo trabalho em embasar suas opiniões particulares sobre a saúde do formato com estatísticas e representatividade dos decks nos resultados dos Challenges de cada semana e, apesar da minha tendência a discordar de metade de suas afirmações referentes a banimentos, reconheço e respeito a quantidade de tempo e dedicação necessária para analisar o formato com embasamento estatístico.

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Outro produtor de conteúdo que realiza um ótimo trabalho em apresentar as estatísticas do Metagame do Pauper é o meu conterrâneo Álvaro França, capitão do time Heavy Gears, do MindGearslink outside website, que entrou em hiato recentemente, mas que realizou sempre um bom trabalho em avaliar o formato.

Onde muitas pessoas, incluindo muitos criadores de conteúdo falham ao avaliar o formato, é na necessidade de enxergarmos os fatos pelo que eles são, e não pelo o que nós gostaríamos que eles fossem.

E a realidade infeliz da qual eu enxergo é que, mesmo que baníssemos vinte ou mais cartas do Pauper, o formato continuaria problemático e/ou levaria apenas até o próximo Masters ou Horizons para quebrar o formato novamente, porque o Magic mudou drasticamentelink outside website, especialmente nos últimos três ou quatro anos, com a filosofia de F.I.R.E. sendo aplicada nos mais diferentes aspectos e aumentando o poder individual e os efeitos de cada card em todo formato competitivo, além de também tomar medidas mais ousadas com os formatos, comumente trazendo cards que acabam sendo problemáticos para algum formato competitivo, mas também dezenas ou centenas de cards que impactam positivamente o Metagame, e trazem novas ideias ou reforçam arquétipos menos conhecidos.

Por exemplo, podemos estar passando por um momento terrível com o Affinity atualmente, mas já pararam para perceber que o Mono-Red Blitz, graças a Festival Crasher, Kessig Flamebreather, Ancestral Anger e Reckless Impulse, está se tornando um deck real?

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O mesmo pode ser dito de diversos outros decks que surgiram graças a Ardent Elementalist, ou Late to Dinner, ou como Sarulf’s Packmate tornou-se uma staple dos decks de Cascade, ou como First Day of Class trouxe um poderoso, porém não injusto combo para o Pauper na forma do Moggwarts?

Por outro lado, este aumento significativo no Power Level trará cards problemáticos com uma maior frequência, portanto, torna-se necessário dosar quando um card realmente necessita ser banido ou não, e quando um arquétipo está sendo opressivo ou não, porque a tendência do jogo é que, tanto nos slots de comuns quanto nos de Mítica-Rara, cards cada vez mais poderosos serão introduzidos com o passar dos anos, e quando nós estamos sempre pedindo intervenções diretas, estamos tentando voltar para uma época do Pauper que simplesmente pode nem sequer existir mais porque o jogo mudou como um todo.

Além disso, é compreensível que, apesar de estarmos vendo cada vez mais cards e mais decks surgindo, o formato ainda esteja entranhado nos mesmos “velhos” arquétipos durante este tempo: Faeries, Monarch, Tron, e Affinity, abrindo pouco espaço para que outros decks apareçam, porque eles precisam ser muito bons para competir com estratégias tão bem-definidas e conseguir seu espaço no Metagame, como ocorreu com os decks de Ephemerate, Cascade e Moggwarts, tal como ocorre em todos os formatos competitivos.

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Apesar de considerar que ainda existe muito potencial não-descoberto nas interações do formato (alguns anos atrás, o Grixis Affinity seria uma piada se comparado às versões Temur), o Pauper não é mais o “paraíso do deckbuilder”, e possui seus pilares bem-estabelecidos que precisam ser respeitados na hora de montar sua lista.

Também faz-se necessário avaliar o impacto que cada mudança no Metagame causaria com uma intervenção direta. O quão predominante Faeries se tornaria na ausência de Monarch? Quais são os decks que Tron mantém em cheque que poderiam se beneficiar de seu banimento? A partida de Spellstutter Sprite ou Ninja of the Deep Hours faria com que o formato se tornasse mais diversificado ou criaria outro enorme desequilíbrio no Metagame?

Ou seja, banir alguns dos pilares fundamentais do Pauper atualmente abriria espaço para a diversidade do Metagame, ou para o absoluto caos?

Infelizmente, não há como prever todos os resultados e, apesar de concordar que mecânicas como Monarch são parasitárias e que o formato poderia estar em uma situação melhor, também precisamos nos lembrar que sempre existirão melhores decks, e mesmo que todos os pilares do formato fossem banidos hoje, outros surgiriam e, provavelmente, estaríamos tendo esta mesma discussão novamente em seis meses ou menos.

O Pauper têm um inimigo, Seu nome é Limitado

A parte mais frustrante desse recorrente desequilíbrio no cenário competitivo do formato é que isso não ocorre vindo de uma ação deliberada ou um planejamento que deu errado na hora de produzir uma edição, e sim de acidentes que ocorrem constantemente porque o Limitado define o futuro do Pauper.

Particularmente, a relação entre o Pauper e o Limitado é estranhamente abusiva: Para melhorar o draft e o selado, determinados cards perigosos para o formato são colocados nos slots de comuns porque promovem um estilo de jogo interessante e divertido, enquanto as respostas igualmente relevantes para estes problemas nunca surgem especificamente como cartas comuns porque elas quebram a simetria destes formatos.

Por consequência, o Pauper recebe diversas cartas de impacto degenerativo porque elas são importantes/divertidas para o Limitado das edições, mas não recebe as respostas eficientes necessárias para lidar com elas porque promovem um estado de anti-jogo ou são específicas demais para slots de cartas comuns.

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Todos os cards acima, atualmente banidos, saíram como comuns nas suas respectivas edições por propósitos envolvendo o Limitado, elas não foram especificamente consideradas para o Pauper, e já foi admitido algumas vezes que existia o conhecimento de que estas inclusões (exceto por Arcum’s Astrolabe, suponho) poderiam ser problemáticas para o formato, mas que a importância delas para o Limitado era mais importante.

Comumente, esta afirmação veio junto de um “observaremos de perto o impacto no Pauper”, que infelizmente parecem palavras vazias quando passamos meses lidando com um formato de três decks durante a temporada de Chatterstorm, e que ações imediatas no formato costumam sempre ocorrer uma ou duas semanas antes de um grande evento, como um Showcase ou Qualifier, fazendo com que passemos bastante tempo jogando formatos polarizados, como estamos neste presente momento.

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Curiosamente, essa situação difere de quando alguns cards são introduzidos no formato tendo em mente que elas são dedicadas ao Pauper, como é o caso com o ciclo de comuns apresentadas em Modern Horizons, onde todos elas foram um grande sucesso e impactaram, ou ainda impactam, o formato de alguma maneira positiva na maioria das ocasiões, e quando vemos cards sendo incluídos que parecem servir a este propósito, como parece ter sido o caso com o recente pacote de cards vermelhos, eles tendem a cumprir um bom propósito sem criar uma discrepância muito alta de Power Level.

Mas o formato sofre de uma severa doença nas raízes do seu desenvolvimento, um problema crônico que está diretamente vinculada à todas as situações onde existiram estratégias opressivas e decks quebrados nos últimos anos, com todos sempre sendo sintomas de um problema bem maior:

O Pauper é um formato subserviente ao Limitado de cada lançamento, o que comumente pode trazer boas ameaças, mas que limita significativamente a quantidade de respostas e meios eficientes de lidar com efeitos e arquétipos poderosos, como Storm ou Affinity, criando um cenário onde o formato fica sempre sujeito ao risco do que cada edição pode acidentalmente trazer para quebrá-lo, sem ter as melhores maneiras de policiar estas inclusões porque as respostas específicas para estas estratégias são muito específicas, ou muito restritivas para slots de comuns do Limitado, criando um constante e repetitivo estado de crise na saúde do Metagame, especialmente em sets não-voltados para o Standard, onde o Power Level costuma ser mais alto.

E enquanto o Pauper estiver diretamente ligado ao Limitado, as inclusões para o formato sempre oferecerão um risco, ou serão totalmente entediantes.

Como é possível consertar o Pauper?

A primeira e única coisa que podemos fazer como comunidade é fazer nossa voz ser ouvida. Mas para isso, precisamos trabalhar em conjunto e perante um único interesse, algo praticamente impossível para uma comunidade de jogos, porque somos naturalmente condicionados a termos diversas discordâncias uns com os outros, muito mais do que realmente deveríamos.

Mas creio que todos nós concordamos que a Wizards precisa olhar com um pouco mais de atenção, cuidado e carinho para um dos formatos que possui a comunidade mais ativa da Internet, mesmo num momento onde nossa principal plataforma de jogo é o Magic Online, e creio que podemos cobrar melhores posicionamentos da empresa para lidar com os problemas que surgem no Metagame, estabelecendo prazos razoáveis para cada ocasião, onde é possível analisar o quanto o formato precisa de uma intervenção direta, ou não, com base em dados dos quais apenas a Wizards possui.

Sendo bem honesto, acredito que a Wizards deveria dar mais transparência para o gerenciamento de seus formatos competitivos: A comunidade de Legacy está sofrendo com Ragavan, Nimble Pilferer faz bastante tempo e nada foi feito até o momento, e nós sequer sabemos exatamente como o comitê que analisa os formatos competitivos enxerga a situação porque não existe um parecer, análise ou sequer uma nota pública feita sobre o assunto.

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Seria muito importante, não apenas para o Pauper, mas para todos os formatos, se um comitê passasse a dar anúncios públicos sobre a visão deles quanto à saúde dos formatos competitivos, conforme a demanda e necessidade, para podermos entender exatamente quais são os padrões pelo quais os formatos estão sendo avaliados, e por qual razão ações imediatas não estão sendo tomadas quando um arquétipo se torna opressivo.

É claro que precisamos de tempo para resolver os problemas do Metagame: Um arquétipo pode parecer opressivo no primeiro mês, enquanto no segundo os jogadores encontram os meios necessários para explorar suas fraquezas e obter uma vantagem estratégica; vimos isso ocorrer diversas vezes no cenário competitivo, especialmente no Standard, e creio que três meses seja um bom exemplo.

Porém, existem situações que são discrepantes demais, como foi o caso de Chatterstorm, onde três meses foi tempo demais porque o formato já estava claramente quebrado desde a terceira semana da temporada, principalmente quando já havia o conhecimento dos riscos que a inclusão de um mini-Empty the Warrens poderia trazer.

Já quanto ao problema mais complexo, a dependência do Pauper para com o Limitado, acredito que existem algumas soluções que podem ser aplicadas para desvincular os formatos e adicionar cartas necessárias para o Pauper sem estragar a experiência de Draft ou Selado de cada Set.

Agora, infelizmente precisarei entrar num território inexplorado e possivelmente utópico, acabando por abandonar em partes o meu raciocínio de enxergar as coisas pelo que elas são, porque não existe uma solução palpável que já esteja sendo aplicada, e me vejo na obrigação moral de, ao apresentar uma crítica, também apresentar as propostas de soluções para o problema vigente ou, caso contrário, estaria apenas “reclamando” sobre o assunto.

E por mais que estas práticas nunca tenham ocorrido, elas não se tratam de medidas absolutamente impossíveis de serem praticadas.

Crie um set ou bundle exclusivo para o Pauper no Magic Online.

A Wizards tem, literalmente, um formato onde eles tornam válidos o que eles quiserem, quando quiserem: O Histórico.

E, considerando as origens digitais que o Pauper possui, seria tão errado ou difícil fazer o mesmo para ele?

Vocês poderiam chamá-lo de Pauper Horizons, ou da forma que preferirem, mas visando introduzir cards incomuns e raros para o formato, tanto para dar meios de lidar com problemas crônicos, como também para agitar o Metagame com downshifts específicos que possam ser interessantes para a saúde do Metagame.

É claro que, com como todo set dedicado a um formato em específico, é possível que algumas adições ou cards poderiam quebrar o Pauper, e seria necessário atitudes rápidas para lidar com estes problemas, mas a introdução de um produto dedicado ao formato poderia trazer novos cards para combater alguns dos problemas crônicos do Metagame, ou prepará-los para downshifts mais poderosos com respostas eficientes, sem a necessidade de extrapolar nas inclusões dos slots de comuns de um draft set.

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Não creio que um produto dedicado ao Pauper seja realmente viável para o tabletop, porque este produto precisaria ser vendido por um preço viável, e não é o que costumamos ver ocorrer com produtos como Commander Collection e similiares, que trazem um bundle específico de cards.

Porém, existem alguns produtos de tabletop que poderiam ter reprints pontuais:

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Lembram-se de quando Forked Bolt teve um reprint num Duel Deck acidentalmente como uma carta comum e, portanto, tornou-se válida no Pauper?

Não creio que nada impeça a Wizards de tomar a mesma ação deliberada nos seguintes produtos, especialmente quando vimos alterações de texto e símbolo de set sendo feitas em produtos específicos recentemente.

Commander Decks: Os decks de Commander, que saem agora junto de cada set, são um ótimo exemplo de um produto onde há a possibilidade de introduzir cartas ao Pauper sem necessariamente passar pelo Limitado. Imagine ter a inclusão de cards como Deafening Silence ou Shattering Spree através de um Commander Deck? E esta ação não afetaria diretamente o valor de mercado destes cards (talvez até os encareceria um pouco), já que eles teriam a mesma disponibilidade de qualquer outro card presente na lista.

The List: A The List é uma lista de cards específicos que são reprints que podem vir nos Set Boosters de cada edição, e que incluem cards de outras edições com um símbolo de Planeswalker no canto da borda inferior. Estes cards não são válidos no Standard e não entram nos formatos selados. Logo, downshifts pontuais neste slot poderiam ser muito confusos porque a mecânica da The List em si já é muito confusa, mas criaria uma opção viável de introduzir novos cards ao formato.

Challenger Decks: O Pauper têm se tornado um formato gradualmente mais caro a cada ano, onde muitos dos decks Tier 1 encontram-se acima dos 50 dólares, então apesar de a hipótese ser extremamente improvável, dado o valor de um Challenger Deck Standard ou Pioneer, a introdução de Pauper Challenger Decks com a inserção de downshifts em slots específicos da lista seria outra maneira de não apenas introduzir novos cards, como também introduzir o formato a muitas comunidades locais. Você consegue imaginar duas ou três cópias de Skullcrack no Sideboard de um Challenger Deck Burn? Seria apavorante, eu sei.

Secret Lair: Por fim, a Wizards faz todo tipo de loucura nos produtos de Secret Lair (É sério, todo tipo de loucura mesmo), indo de lands básicas repletas de rules text, passando por crossovers com outras séries e jogos, até... bom, isso:

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Então, criar um Superdrop ou até mesmo uma série de um, ou dois drops dos produtos de Secret Lair com a intenção de introduzir cards ao Pauper (basicamente, fazendo com que o símbolo do drop seja o símbolo de uma carta comum) seria outra maneira de resolver o problema da subserviência do Pauper ao Limitado, e uma opção extremamente lucrativa para a Wizards, já que estes produtos se vendem como altamente colecionáveis.

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Dito isso, essa é a opção que menos me agrada, porque o Secret Lair é um produto muito limitado, muito caro e a inclusão de cards específicos no Pauper sem o aumento de disponibilidade poderia aumentar o preço destes cards de maneira significativa, tornando do formato ainda mais caro e criando um grande problema para a economia do formato.

Porém, é uma ideia maluca para um produto igualmente maluco.

De qualquer maneira, independente do meio pelo qual a Wizards viesse a tomar esta atitude, eu recomendaria à comunidade que responda com a sua carteira e procure apoiar o produto porque, ao final do dia, Magic, um jogo pelo qual temos grande apreço, ainda é um produto a ser vendido pela Hasbro, e se tem uma linguagem que a Hasbro entende plenamente é a do dinheiro.

Este foi essencialmente o mesmo conselho que dei sobre o Pioneer quando anunciaram os Challenger Decks: A melhor forma de um formato ter mais suporte competitivo e de produtos é ele vender bem e ser bem-recebido pelo público, e demonstrar este apoio é o que abre a iniciativa para que mais produtos e mais oportunidades surjam para um formato.

E quanto ao ban no Affinity?

No caso do Affinity, está muito claro que algo precisa ser banido porque o arquétipo está consistente demais para ser combatido pelo resto do formato e considerando que, eventualmente, banimentos ocorram (e isso pode levar bastante tempo, dado que a Wizards demorou três meses para resolver um estado do formato que estava muito pior do que o atual e levou duas ou três semanas para banir temporariamente Faerie Miscreant por conta de um bug), quais são os ângulos pelos quais uma intervenção direta pode ser feita?

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O argumento mais recorrente é de que Atog deveria ser banido, pois o deck já faz demais para precisar de um card que se tornou um sac outlet gratuito, um combo de duas cartas e uma ameaça que precisa ser respondida por conta própria.

Ao remover Atog, você remove do deck a sua inevitabilidade, enquanto também torna muito mais lenta a interação de Disciple of the Vault com sac outlets, além de garantir que os oponentes não precisem mais jogar sempre em volta da possibilidade de um combo-kill no turno do oponente, podendo utilizar cards como Hydroblast de maneira mais eficiente ao decorrer da partida.

Honestamente, creio que esta seja a opção provável de ocorrer, pois, com a consistência e valor adicionados ao Affinity atualmente fazem com que ele não precise mais jogar em volta do oponente, o que aumenta significativamente a consistência com qual o combo se apresenta como uma ameaça.

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Eu poderia ver a Wizards banindo Disciple of the Vault, o que seria uma decisão lamentável e cujo impacto prático seria inferior ao necessário, pois mesmo que o arquétipo perca a possibilidade de ganhar a partida com combinações envolvendo Makeshift Munitions ou Atog, não seria o suficiente para lidar com o principal problema do arquétipo: A consistência.

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O ciclo de lands indestrutíveis é um caso complicado, porque não adianta banir uma seleção específica destes terrenos, pois o arquétipo pode alterar sua configuração para jogar com literalmente qualquer combinação de três cores e utilizar estes terrenos.

Logo, o único jeito de privar o Affinity de sua consistência seria banir todas as lands indestrutíveis, um movimento do qual não consigo imaginar a Wizards fazendo para um produto “premium” como Modern Horizons II, já que essencialmente estaria banindo dez cartas de uma única vez.

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Então, se estamos falando de manabase, quais são as chances da Wizards tomar um caminho que já ocorreu em outras ocasiões (mais necessariamente com Daze e Gitaxian Probe, não mencionarei Gush porque ela nunca foi uma carta de Magic justa), e banir um ciclo de cards antigos para corrigir um arquétipo que se tornou forte demais por uma junção de cards novos, e nesse caso, estou falando das lands artefato de Mirrodin.

Pode parecer um tanto exagerado, e obviamente arquétipos como Boros Monarch, além de decks de Metalcraft, sofreriam significativamente com esta decisão (mas não é como se o Boros Monarch fosse um deck Tier 1 desde o lançamento de Commander Legends), mas eu poderia enxergar a possibilidade de, caso um banimento no Atog não seja o suficiente, a Wizards decida tomar a decisão de banir as cinco lands artefato coloridas e reduzir significativamente a velocidade do arquétipo, essencialmente enfraquecendo-o a níveis nunca vistos anteriormente com banimentos no formato.

Não creio, no momento, ser a decisão mais prudente para lidar com o atual problema, mas consigo imaginar uma situação onde banir Atog não é o suficiente para fazer com que o Affinity volte a um patamar de jogo saudável, e não reste escolha, se não realizar um banimento severo e devastador para o arquétipo.

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Outra opção comumente mencionada é a de banir os “mini-cruises” do deck, removendo sua capacidade de comprar três ou mais cards a cada turno, mas tanto Thoughtcast quanto Deadly Dispute podem fazer coisas muito interessantes fora do Affinity, e com algumas listas passando a utilizar Reckless Impulse no seu pacote de draws, já não tenho certeza se remover as draw spells seriam o suficiente, ou até mesmo o banimento mais justo.

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Particularmente, eu baniria tanto Atog quanto Disciple of the Vault para tornar o Affinity um deck que necessita ganhar a partida através do combate, ou com mais ativações de Makeshift Munitions do que é humanamente viável, tornando-o um deck potencialmente mais justo e pode ser parado por removals eficientes e fog effects.

Talvez não seja o suficiente, mas é um bom com começo.

Conclusão

Acredito que isso é tudo o que tenho a dizer sobre o Pauper, seu atual estado, e a espiral crônica de problemas que está constantemente afetando o Metagame.

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Honestamente, penso que a comunidade precisa discutir menos banimentos e demandar mais cuidado, reconhecimento e atenção para com o formato, porque não importa quantos cards deixem o formato, o problema que o Pauper enfrenta é crônico, constante e só será mitigado quando seu obrigatório vínculo com o Limitado for enfraquecido, abrindo oportunidades para respostas mais eficientes e downshifts melhores em outros produtos.

Temos uma comunidade ativa e totalmente apaixonada por Magic e cartas comuns, e é de grande importância que tenhamos o nosso espaço no Magic e no cuidado da Wizards também, seja no cenário competitivo, como também durante a produção de novos produtos, e acredito que este é um ponto do qual todos nós podemos ou deveríamos concordar a respeito.

Portanto, se você, tal como eu, quer mudar como o formato é gerenciado e não ter de lidar com tantos cenários caóticos repetidas vezes no Metagame, nossa melhor saída é demandar mais reconhecimento ao Pauper, um formato que movimentou 142 jogadores num evento paralelo do MTG Vegas neste fim de semana, onde competiram por uma Tropical Island.

E se um torneio de Pauper vale uma Tropical Island, suponho que isso significa que o formato pode ser levado um pouco mais à sério e com um pouco mais de consideração e respeito, não é?

Obrigado pela leitura!