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Pauper: Morte ao Affinity!

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Após nove meses e três banimentos, o Affinity continua, possivelmente, no espaço de melhor deck do Pauper. Por isso, precisamos debater o futuro do arquétipo novamente.

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revisado por Tabata Marques

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Nove meses após o lançamento de Modern Horizons II, o Affinity já passou por um total de quatro banimentos no Pauper.

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E ainda assim, duas semanas após o último anúncio do Pauper Format Panel, o arquétipo continua a ser um dos maiores representantes do formato, ou até mesmo o melhor deck do Pauper atualmente. Apesar de vermos gradualmente uma representação menor no Top 32 dos eventos deste último fim de semana, torna-se evidente o potencial que ele ainda possui — principalmente quando consegue três slots no Top 8 do Pauper Super Qualifier e quatro slots no Top 8 do Pauper Challenge.

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Tudo isso além da notória presença de múltiplas peças de Sideboard para lidar especificamente com essa matchup como, por exemplo, a lista de Boros Kitty que foi vencedora do Super Qualifier deste sábado, com quatro cópias de Dust to Dust, quatro cópias de Revoke Existence e duas de Gorilla Shaman no Sideboard.

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Overkill? Talvez.

Mas o ponto aqui é que o Affinity ainda é extremamente presente no Pauper mesmo com três intervenções diretas ocorrendo em menos de um ano. Por isso, hoje gostaria de abordar um pouco sobre com o que estamos lidando e a sensibilidade a qual parece nos carecer quando pensamos em banimentos para um dos decks mais poderosos do formato atualmente, e o que pode ou não ser feito para resolvermos esta situação que tem criado significativas divergências entre a comunidade e o PFP, além de tentar explicar de maneira mais objetiva o quão complexa a situação em que estamos realmente pode ser.

Os Culpados

Vamos começar com o óbvio: existe um ciclo de culpados diretos pelo atual sucesso do Affinity: as Bridges.

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Já repeti isso uma dezena de vezes em meus artigos sobre Pauper e banimentos, mas as Bridges basicamente deram ao Affinity a consistência que permitiu que ele fosse uma estratégia “de loteria”, que era extremamente poderoso quando funcionava, mas passava por uma sequência de jogos onde ele simplesmente perdia para si mesmo, até um poderosíssimo Midrange baseado em Card Advantage e clock rápido que não se equipara a absolutamente nenhum outro deck disponível no formato, tornando-se uma mistura quase perfeita entre o Aggro, Midrange e Combo, até que retirassem o terceiro espectro através dos banimentos de Atog e Disciple of the Vault.

Apesar de as Bridges serem especificamente o que oferece tamanha consistência ao arquétipo, precisamos também admitir que ele ganhou diversas novas peças poderosas nos últimos lançamentos, especialmente no quesito Card Advantage.

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Todos esses cards foram lançados após Modern Horizons II, e todos dão ao Affinity um novo ângulo de mais recursos sem contar unicamente com Thoughtcast, que se tornou praticamente obsoleto quando comparado a outros efeitos “adicionais” nos cards acima e praticamente vê jogo apenas como um 2-of, enquanto Reckoner’s Bargain e Deadly Dispute sempre ocupam três ou quatro slots do Maindeck cada.

Experimental Synthesizer já pode ser considerado um novo pilar do Pauper, e o principal motivo para presenciarmos a ascensão das variantes de Boros novamente, além do novo artefato de Neon Dynasty também ter mostrado presença em outras listas como o Moggwarts, mas não podemos esquecer que o Affinity também obteve benefícios da inclusão deste artefato, e provavelmente só não faz melhor uso dele do que o Boros pela falta de interação com Kor Skyfisher e Glint Hawk.

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Para mim, o fato mais peculiar encontra-se em Blood Fountain, porque ele é um efeito de recursão que só vale a pena no Affinity, por conta de adicionar dois artefatos ao campo de batalha quando é conjurado, além de que qualquer criatura que ele retorna para a mão do cemitério, como Myr Enforcer ou Gearseeker Serpent, é uma ameaça por conta própria sem grande dificuldade.

Dito isso, o fato é que o Affinity obteve muitos meios de se gerar altas doses de card advantage “com benefícios” em apenas um ano, e isso também não colaborou para que banimentos fossem o suficiente, afinal o Affinity possui:

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Criaturas baratas e com um impacto relevante na mesa que o recompensam meramente por executar seu plano de jogo, permitindo-o atuar tanto no plano de “go big” como no de “go wide”.

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O melhor removal baseado em dano do formato e um sweeper que pune as estratégias de Go-Wide (que poderiam atrasar seu plano de jogo com chump blocking) por apenas uma mana, possibilitando um maior alcance na partida, ou a possibilidade de remover bloqueadores para atacar numa mesa vazia. Algumas listas estão até incluindo cópias de Lightning Bolt para obter um alcance adicional.

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A melhor engine de Card Advantage do Pauper atualmente, superando o significativo poder de cantrips como Preordain e Ponder por possibilitarem o quesito quantidade ao invés de qualidade nos draws por, virtualmente, o mesmo custo e dando acesso à mesma quantidade de cards.

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Payoffs poderosos que agregam ainda mais valor à sua engine, transformando alguns dos seus cards em virtuais Ancestral Recall, enquanto sinergizam bem com o entorno do seu plano de jogo.

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Uma wincondition alternativa que não depende do combate e ainda funciona como removal contra criaturas pequenas e adiciona inevitabilidade ao Late-Game.

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Uma infinidade de cards flexíveis que podem receber um espaço no seu maindeck ou Sideboard.

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Toda essa junção de elementos tornam do Affinity o “monstro” que é atualmente para o Pauper, e é notório o constante sentimento de insatisfação por uma boa parcela da comunidade com relação à constante presença do arquétipo no cenário competitivo.

Creio que muitos jogadores estão simplesmente cansados de jogar contra Affinity e vê-lo suceder como melhor deck do formato por conta da ausência de um banimento que parece óbvio, mas que não ocorre por questões que parecem atreladas a preservação. Isso por que banir as Bridges não apenas seria um marco impactante para todo o formato (afinal, dez cards seriam banidos de uma única vez), como também provavelmente o enfraqueceria significativamente, já que a ausência de uma manabase eficiente, em conjunto com os recentes banimentos, poderiam o tornar inconsistente demais para que valesse a pena jogar com ele, mesmo com a excessiva quantia de card advantage disponível atualmente.

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Afinal, quando você precisa dedicar tantos slots para uma matchup específica, se torna cansativo transitar entre as partidas de ligas e Challenges, especialmente quando a evidência que você possui dos resultados e do decorrer das suas partidas é que tais slots realmente são necessários porque o deck que você espera enfrentar e precisa se dedicar contra realmente demonstra-se tão predominante quanto você espera, pelo menos com base nas suas evidências anedóticas.

Ressalto plenamente que evidências anedóticas se tornaram uma recorrência quase predominante quando debatemos o cenário competitivo de Magic: The Gathering nas mais diferentes camadas, e não é incomum que jogadores não consigam mais discernir evidências baseadas em dados de opiniões com forte viés pessoal. Tem sido assim para política e ciência, porque não aconteceria o mesmo para um hobby como Magic também?

No entanto, e se alterássemos um pouco a perspectiva e avaliássemos essa situação de forma menos voltada para um viés de confirmação de que “o Affinity permanece quebrado”?

Affinity é o novo Azul? Dust to Dust é o novo Pyroblast?

Por muitos e muitos anos, presenciamos uma predominância dos Blue-Based Decks no Pauper que permaneceu mesmo após o Blue Monday, e que ainda precisou de outras intervenções diretas no formato posteriormente, como o banimento de Mystic Sanctuary e Fall from Favor, criando um formato e um ambiente onde Pyroblast era praticamente obrigatório caso você estivesse jogando com vermelho ou, até mesmo, um card que fazia valer um splash para o vermelho em algumas listas.

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Pyroblast e seu irmão gêmeo, Red Elemental Blast, foram sempre pilares do Sideboard do Pauper, especialmente porque afetavam uma significativa gama de arquétipos entre Faeries, Delver, Tron, Jeskai, dentre outras estratégias que possuíam como core, ou peças-chave, uma base de cartas azuis.

Hoje, os tempos mudaram, e onde Pyroblast parecia obrigatório para lidar com o Metagame do Pauper no ano passado, hoje o formato é ditado por meios eficientes de remover artefatos, como Dust to Dust, Gorilla Shaman, dentre outras opções.

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Com listas de artefato ganhando cada vez mais atenção, é mais que natural que remoções de artefato estejam inclusos no Sideboard, em especial aqueles que servem para mais de uma ocasião, como Abrade, Revoke Existence ou até mesmo o próprio Dust to Dust, porque não apenas eles colaboram para lidar com o melhor deck do formato, como também interagem com uma significativa quantia de arquétipos que se encontram presentes como reais competidores agora, indo do Boros até as listas de Cleansing Wildfire e passando por decks como Bogles (no caso de Revoke Existence) ou as recentes variantes de Tron (que basicamente são voltadas para um combo com artefatos de custo baixo e Foundry Inspector).

No entanto, também precisamos considerar que essas opções, apesar de serem relativamente viáveis em outras matchups, nunca foram e nunca serão tão abrangentes quanto Pyroblast costumava ser no que concerne a responder uma significativa gama de ameaças.

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Na minha concepção particular, o que ocorre com o Affinity é uma situação parecida com o que vimos ocorrer inúmeras vezes com os Blue-Based Decks: o entorno da sua base é tão eficiente e tão bem-estruturada que intervenções diretas removendo peças pontuais que não fazem parte do “core” (no caso dos Blue-Based, falávamos de cantrips e cards como Spellstutter Sprite e Ninja of the Deep Hours) simplesmente não possuem impacto o suficiente para fazer com que o arquétipo em questão fique muito abaixo do que costumava estar antes dos banimentos, definindo-o como um constante definidor do Metagame e exigindo que os jogadores, para competir, sempre precisem respeitá-lo como oponente e dedicar slots de Sideboard contra ele.

Podemos afirmar que esse não é um estado saudável para o Metagame, da mesma forma que para alguns produtores de conteúdo, também não parecia saudável você necessitar de quatro cópias de Pyroblast e algumas cópias de Electrickery no seu Sideboard para competir com a estratégia mais popular do formato na época, mas também parece necessário avaliar quais são as consequências práticas da ausência do Affinity no formato.

O Pauper seria melhor sem o Affinity?

Afinal, o Pauper seria um formato melhor, mais saudável ou divertido se simplesmente tirarmos o Affinity de vez do Metagame, ou enfraquece-lo ao ponto de que ele não consiga mais se estabelecer num cenário competitivo?

Que arquétipos se estabeleceriam na sua ausência, e em quais cenários o formato ficaria mais saudável, ou até quando estaríamos satisfeitos com essa ausência até precisarmos apontar outro deck desbalanceado e culpa-lo pela saúde ruim do cenário competitivo?

Antes das recentes levas de banimentos e da predominância de Storm e Affinity após MH2, era muito comum lermos jogadores comentando a sua insatisfação com o formato com base em algumas mecânicas, como Tron, Monarch, ou a presença de Snuff Out como um “free removal”, demandando uma intervenção direta que colaborasse para a diversificação do Metagame. O que ocorreu, no entanto, é que cards mais poderosos saíram entre 2021 e 2022, alterando significativamente a natureza do formato e abrindo espaço para problemas recorrentes que incluem a ascensão do Affinity. A dúvida que permanece é se realmente queremos que ele deixe de existir ao remover o seu core, as Bridges, ou se realmente se faz necessária outra série de intervenções com base nos resultados — um ponto em que ainda é muito cedo para avaliarmos, já que se passaram apenas duas semanas de evento desde a última série de bans.

Ou seja, tivemos uma significativa mudança em todo o espectro do cenário competitivo do Pauper. Decks como Faeries estão agora na categoria de Tier 1.5, enquanto Boros e Affinity ascenderam para a categoria de Tier 1, e arquétipos como Monarch, Cascade e afins se diluíram e abriram espaço para que algumas estratégias mais agressivas pudessem suceder nos eventos, como pudemos observar com Stompy ou Burn nas últimas semanas.

O formato seria melhor se removêssemos o Affinity da matemática, ou ele apenas retornaria para um estado que é igualmente desinteressante para com uma parte da comunidade? Estamos realmente lidando com um deck quebrado, ou apenas pegamos um nível de desgosto pessoal de precisar jogar contra ele e vê-lo dentre os principais competidores mesmo após uma sequência de intervenções? O Affinity é forte demais, ou apenas não gostamos do que ele se tornou?

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Eu não tenho a resposta para essas perguntas, e careço de dados para alimentar afirmações de como o formato seria melhor ou pior sem a presença do atual melhor deck do Pauper. No entanto, com apenas duas semanas de eventos, considero que uma série de evidências que estão sendo apresentadas, até mesmo por jogadores experientes, possuem pontos que carecem de consideração quanto à complexidade que esse debate realmente demanda.

Quais medidas podem ser tomadas?

Dito isso, concluo este artigo comentando a minha perspectiva pessoal de sugestões quanto a resolução deste debate que já se permeia pela comunidade por nove meses.

Primeiro, observar e esperar um pouco mais

Estamos na segunda semana após os últimos banimentos e, apesar de eu ter certeza de que o Affinity permanecerá como parte integrante do topo do formato, precisamos dar ainda algumas semanas para que o formato possa se estabelecer e existam dados o suficiente á serem analisados para se considerar a necessidade de outra intervenção direta com base em estatísticas sólidas como winrate, representatividade, dentre outros.

É muito provável que outro anúncio de Banidas e Restritas ocorra após o lançamento de Streets of New Capenna, uma interferência que pode provar-se um tanto tardia caso o formato entre em um estado deplorável nas próximas duas ou três semanas, mas também considero improvável que a Wizards permite um anúncio de banidas e restritas durante a temporada de prévias da nova edição.

Até lá, os jogadores possuem duas opções: ou eles jogam o Pauper conforme ele se apresenta, ou não jogam. Ambas são opções válidas e apresentam um argumento e um posicionamento referente ao atual estado do formato. Devemos sim, ficar de olho nos Challenges e observarmos a representatividade do Affinity e de outros decks nas próximas semanas, mas parece ainda muito cedo para dizermos “os bans não funcionaram, o formato continua quebrado”.

Banir as Bridges, desbanir Sojourner’s Companion

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Se outra intervenção direta provar-se necessária, creio que já passamos da fase de desviarmos da responsabilidade das Bridges na atual situação do Pauper, inclusive fora do espectro do Affinity, onde diversos outras estratégias tiram proveito delas com Cleansing Wildfire, Makeshift Munitions e Deadly Dispute ao ponto de que não faz mais o menor sentido em esperar que o Pauper fique “bem” enquanto as Bridges estiverem presentes no formato.

Porém, também parece necessário considerar que sem Atog, Disciple of the Vault e até Prophetic Prism, o Affinity se tornaria inviável e absolutamente pouco consistente sem a presença de um manafixing eficiente, e como Prophetic Prism se tornou “injusto demais” para o formato por conta do quanto o Tron tira proveito do manafixing + draw, suponho que exista uma opção para manter a viabilidade do Affinity por meio do desbanimento de Sojourner’s Companion, que o possibilitaria jogar com mais ameaças incolores (num total de 12 com Frogmite e Myr Enforcer) enquanto também funciona como um manafixing útil com sua habilidade de Cycling, que poderia também ser complementada com Trinket Mage.

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Essencialmente, essa mudança faria com que ele novamente se tornasse extremamente suscetível ao hate de Gorilla Shaman, que foi sempre o “police card” contra o deck da mesma forma que Rest in Peace sempre foi o fun police do Dredge no Modern, enquanto abre a possibilidade dele conseguir “focar” em uma base de duas ou três cores, com acesso a mágicas coloridas poderosas, como Blood Fountain e Deadly Dispute, sem abdicar de alguma velocidade ou consistência se as cores certas não vierem, por uma maior quantidade de ameaças incolores do qual ele pode recorrer.

Deadly Dispute e Experimental Synthesizer ficam na Watchlist

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Eu tenho a certeza que, mesmo se o Affinity desaparecer, Experimental Synthesizer e Deadly Dispute continuarão se estabelecendo como pilares do formato porque são mágicas individualmente poderosas demais para não serem jogadas em algumas listas.

No pior cenário, Deadly Dispute ainda é um Draw 2 por uma mana com manafixing que interage absurdamente bem com Ichor Wellspring e Chromatic Star, enquanto Experimental Synthesizer é um pseudo Light Up the Stage na forma de um artefato que pode ser reaproveitado em dezenas de maneiras.

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Também precisamos considerar que ambas as peças são muito poderosas numa shell que também comporta Makeshift Munitions que, apesar de ser um card extremamente poderoso para o entorno do formato, considero uma adição exemplarmente saudável para o Pauper porque funciona como um potente “fun police” contra Faeries.

No entanto, não me surpreenderia se, eventualmente, ambas as engines de Card Advantage acima se provem poderosas demais para o Pauper e acabem tornando-se alvo de outra leva de banimentos até o fim de 2022.

Conclusão

Isso é tudo por hoje.

É muito provável que, nas próximas semanas, observaremos o Affinity tomar algumas posições no Top 8 e Top 16 dos próximos eventos competitivos, visto que este é um evento natural dado que ele ainda possui o seu core extremamente eficiente e adiciona muita consistência e valor, tornando-o um dos, se não o principal, competidor do formato.

Faltam ainda algumas semanas para o começo da temporada de previews de New Capenna, e suponho que podemos aproveitar este tempo para reavaliarmos não apenas o estado atual do formato, como também o posicionamento do Metagame como um todo, especularmos e considerarmos em quais pontos a ausência do Affinity poderia ser prejudicial ou benéfica, e em quais circunstâncias seria possível mantê-lo no formato sem se tornar integralmente predominante e se aprese dos demais decks competitivos.

O debate sobre o Affinity é relativamente confuso, longo, demanda certa complexidade de fatores e acaba sendo muitas vezes simplificado pela comunidade, e o que tentei fazer neste artigo foi abrir um debate objetivo e direto sobre o atual estado do formato no que se refere a este arquétipo. Espero que sirva para ampliar um pouco mais a discussão em polos que não sejam especificamente antagônicos e bilaterais.

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Obrigado pela leitura!