Introdução

Vesperlark é um card intrigante que esteve sempre às margens de ser jogável ou completamente irrelevante, a depender do contexto do formato em que ele pode se encaixar e isso deve-se ao sucesso que seu antecessor, Reveilark, teve durante sua época de Standard, com combos minuciosos que são utilizados até hoje nas mesas de Commander e vive sempre nos corações de quem presenciou as temporadas de Standard que incluíam o bloco de Lorwyn/Shadowmoor.
Porém Vesperlark nunca chegou a obter o mínimo do sucesso que seu antecessor teve. Afinal, Modern Horizons foi uma coleção dedicada inteiramente ao Modern e que trouxe Staples de múltiplos formatos que impactaram e impactam o Metagame dos formatos eternos até hoje como Force of Negation, Seasoned Pyromancer, Urza, Lord Hight Artificer, Yawgmoth, Thran Physician, as Canopy Lands, sem contar cards que foram banidos de algum formato como Arcum’s Astrolabe, Hogaak, Arisen Necropolis e Wrenn and Six.
Em meio a tanto power level, Vesperlark se torna obsoleto, irrelevante, pouco significativo para os formatos em que é válido, o que soa como uma enorme injustiça com um card que parece possuir tanto potencial oculto, apenas esperando o set de cartas certas surgirem para quebrá-lo.
E isso nos leva ao presente. Ou melhor, o futuro, já que JumpStart: Historic Horizons foi adiado para o dia 24 de Agosto, uma coleção exclusiva do Magic Arena que incluirá mais de 370 cards para o formato Historic, incluindo cards exclusivos para a plataforma digital e diversos cards que estiveram presentes em Modern Horizons e seu sucessor, Modern Horizons II.
Vesperlark está entre os cards presentes em Historic Horizons, e junto dele, um card que cria uma interação com Elemental nunca existente antes no Magic, e que nunca existirá no Magic tabletop:

A habilidade de Perpetually só existirá no Magic Arena, e essencialmente funciona da seguinte maneira: Um card que receber um efeito perpetuamente reterá este efeito independente da zona em que ele esteja.
Ou seja, uma criatura que foi alvo de um Davriel’s Withering resolvido terá -1/-2 em literalmente qualquer zona do jogo, isso inclui se ela voltar para a mão, for colocada no cemitério ou levada ao exílio.
Voltemos para Vesperlark, uma criatura que quando morre devolve uma criatura de poder 1 ou menor do cemitério para o jogo.
Logo, o combo funciona da seguinte maneira: Você joga Davriel’s Withering em Vesperlark, que se tornará uma criatura 1/0 e morrerá. A habilidade de Vesperlark desencadeará, você dá alvo nela em seu cemitério, já que ela possui 1 de poder e ela voltará para o jogo como uma criatura 1/0, morrendo novamente e este loop pode ser repetido ao infinito para ETB e Death Triggers infinitos.
Temos o loop, que infelizmente não faz absolutamente nada por conta própria, e, portanto, precisamos encontrar meios de abusar dele.
Felizmente, o Historic está repleto de meios de abusar de ETBs e Death Triggers:

Visto que temos diversas opções disponíveis, precisamos fazer um filtro de para onde queremos ir com este combo e quais são as opções mais interessantes:
O objetivo com qualquer combo infinito tende a ser conseguir ganhar o jogo com ele, especialmente no Magic Arena. Logo, Lolth, Spider Queen está descartada porque nenhuma de suas habilidades ganha o jogo imediatamente.
Vida infinita não ganha jogos, portanto, Soul Warden e Daxos, Blessed by the Sun provavelmente não valem a pena a menos que interajam com o resto do deck.
Queremos manter o combo na menor quantidade de cores o possível, o que exclui Selhoff Occultist, Anax, Hardened in the Forge e Judith, the Scourge Diva.
Isso nos deixa com Blood Artist, Cruel Celebrant, Corpse Knight e Bastion of Remembrance.
Corpse Knight e Cruel Celebrant possuem um requerimento de cores maior, o que pode ser problemático a depender da eficiência da manabase do deck, então Blood Artist e Bastion of Remembrance são os que restam.
Ambos os cards se encaixam perfeitamente na estratégia de ganhar o jogo com o combo, e cada um deles possui suas qualidades e defeitos:

Blood Artist é uma criatura, custa uma mana a menos, pode ser devolvido do cemitério com Vesperlark e pode ser sacrificado por outras criaturas para um trigger adicional.
Já Bastion of Remembrance custa uma mana a mais, produz um corpo na mesa, e possui a vantagem de ser menos suscetível a interação quando entra em jogo, tornando-o uma escolha mais “segura” para realizar o combo em turnos separados.
Com a inclusão destes cards para fechar o combo, fica muito claro a rota necessária pata transformar esta interação num deck: Visto que as peças envolvidas não são poderosas o suficiente por conta própria, torna-se improvável que um deck com uma pilha de cartas boas e combo no meio realmente funcionasse, então é preciso apostar na sinergia, apostar que os cards que estamos utilizando serão bons fora do contexto do combo, dar-lhes mais valor diante da estratégia do deck e tornar do combo uma opção, e não uma obrigatoriedade para ganhar o jogo.
Isso não é difícil no caso de Davriel’s Withering, visto que um removal permanente que dá -1/-2 numa criatura-alvo é bem mais relevante do que parece, matando Elite Spellbinder, Burning-Tree Emissary, Esper Sentinel (que estará com certeza presente em diversas listas), Seasoned Pyromancer, invalida Dreadhorde Arcanist e mata permanentemente Cauldon Familiar, Gutterbones, Scapheap Scrounger, entre outros.
Bastion of Remembrance/Blood Artist e Vesperlark podem trabalhar bem em conjunto: o encantamento quer que suas criaturas morram para causar dano ao oponente, enquanto o Elemental quer trazer suas criaturas de volta do cemitério. É possível, portanto, criar sinergias entre estes cards e outros para construir uma engine funcional que não depende exclusivamente do combo para funcionar.
O Deck
Quanto mais eu construía a lista, mais ficava claro para mim que o plano de jogo óbvio (Aristocrats) não funcionaria tão bem quanto eu gostaria porque a junção de cartas necessárias pareciam medíocres em comparação ao que outros decks fazem: Se eu aposto na interação de Cauldron Familiar + Witch’s Oven, eu estou jogando com um Jund Sacrifice/Jund Food piorado. Se eu aposto em obter valor de death triggers com Priest of Forgotten Gods, eu estou jogando com uma parcela de criaturas minimamente medíocres para fazer um deck funcional.
Por outro lado, não adiantava de nada jogar o combo num “tribal de cartas boas” porque o combo se tornaria medíocre perante os demais cards utilizados pelo deck. Não adianta incluir Knight of the Ebon Legion e Luminarch Aspirant como alvos para o efeito de Vesperlark se você está meramente construindo uma versão pior de um Mono-Black ou Mono-White Aggro.
Com o tempo, ficou claro que a melhor opção era procurar mesclar a proposta de jogo que os cards da minha lista demanda junto a uma engine de valor que não apenas justificasse o uso destes cards, mas também pudessem interagir entre si e fossem boas por conta própria. Quatro versões depois (passando por BW, Mardu, e duas versões de Abzan), cheguei a esta lista:
Esta lista é essencialmente uma versão Abzan dos decks de Citadel (comumente nas cores de Jund) com inclusões de Historic Horizons que permitem ao arquétipo construir algumas sinergias extremamente poderosas.

Antes de falar dos novos cards, começarei explicando a inclusão de Bastion of Remembrance ao invés de Blood Artist: O encantamento é mais difícil de se resolver e cria um corpo 1/1 quando entra em jogo, logo já garante pelo menos um trigger ao decorrer da partida sem sair da mesa.
Com a engine do deck sendo voltada para a interação de Yawgmoth, Thran Physician e Bastion of Remembrance, onde você pode sacrificar criaturas “de graça”, já que você ganhará 1 de vida toda vez que uma criatura morrer, oferendo dessa maneira uma quantidade absurda de valor e controle de mesa com Yawgmoth.
Bastion of Remembrance também interage muito bem com seu outro payoff: Bolas’s Citadel, onde as criaturas sacrificadas desencadearão uma sequência de dano que comumente levará ao fim da partida.

A realidade é que, quanto mais eu mexia no deck, mais ele se tornava um deck de Yawgmoth que, por acaso, tinha um combo ao invés de um deck de combo que usava Yawgmoth como uma engine.
Uma das novas inclusões de Historic Horizons, Yawgmoth, Thran Physician é essencialmente metade de Mayhem Devil e metade de Midnight Reaper num mesmo card: Ele possui a capacidade de controlar a mesa do oponente e segurar o jogo por conta própria ao sacrificar criaturas, e compra cards enquanto o faz, garantindo que um deck como este sempre consiga manter a sua mão cheia e a mesa do oponente limpa enquanto interage muito bem com Bastion of Remembrance.
Este card é uma das inclusões mais poderosas que testei de Historic Horizons até o momento, e mesmo sem o famoso combo com criaturas com Undying, eu tenho certeza de Yawgmoth, Thran Physician terá muito a oferecer no Metagame competitivo do Historic.

O outro payoff e late-game supremo do deck: Bolas’s Citadel é card advantage e finisher em um único card, e com a quantidade de vida certa e permanentes suficientes, pode ser utilizado em um único turno para ganhar o jogo.
Acredito que o número de cópias deste card pode subir para três ou até quatro cópias a depender do quanto você quer apostar na engine de Yawgmoth, Thran Physician (já que ambos requerem permanentes em jogo), mas, num contexto geral, optei por priorizar Yawgmoth já que custa menos mana e interage melhor com Bastion of Remembrance e com a mesa do oponente.

Tenho dúvidas se Blade Splicer é o card certo neste slot, já que compete com Woe Strider e Callous Bloodmage, mas o fato deste card ter uma boa interação com Vesperlark e um corpo 3/3 com First Strike bloquear bem criaturas como Bonecrusher Giant me fizeram prioriza-la.
Pretendo posteriormente testar Woe Strider neste slot, dado que Vesperlark já possui os mais diversos alvos válidos e o requerimento maior de mana branca no deck pode provar-se um problema em algumas ocasiões.

Por fim, Trostani Discordant não é exatamente o card que você esperaria ver numa lista do Historic, mas particularmente foi um dos que mais chamou minha atenção dentre as mais diversas opções que eu tentei utilizar.
Primeiro, esta é a melhor criatura no formato para se reanimar com Vesperlark, visto que possui impacto imediato na mesa, aumenta o poder das suas criaturas e seus tokens podem dar alguma vida extra, que significa mais ativações de Yawgmoth, Thran Physician e Bolas’s Citadel.
Segundo, como mencionado acima, o card cria três corpos na mesa, o que interage com basicamente tudo o que o deck tenta fazer enquanto ajuda a segurar os Aggros com corpos 2/2 Lifelink ou a estabelecer pressão contra os Controls.
Por fim, ela habilita ao deck atribuir um plano de jogo agressivo que, apesar de não ser o principal foco da lista, quando combinado com a capacidade de Yawgmoth de limpar a mesa do oponente, pode criar uma postura e posição na mesa que precisa ser respeitada.
Possivelmente, quatro cópias é um número muito alto, visto que só podemos a descartar com o próprio Yawgmoth, e eu poderia considerar utilizar uma cópia a menos, mas não imagino o deck utilizando menos do que três cópias visto o quão absurdo as interações de Yawgmoth + Bastion of Remembrance + Vesperlark se tornam com Trostani.

Com tantas bombas de mid-game para serem utilizadas, o early game do deck precisa ser voltado em acelerar a mana para que estes cards caiam rápido no jogo.
Llanowar Elves e Gilded Goose permitem ao deck ir da curva 1 para a curva 3 e posteriormente para a curva 4. Gilded Goose também cria duas permanentes a serem sacrificadas com Citadel e funciona como um ótimo mana-sink no late-game para obter vida extra.
Prosperous Innkeeper é um card que tem se mostrado cada vez mais eficiente em diversos formatos competitivos, tal como Gilded Goose, cria duas permanentes na mesa com um único card, enquanto também pode ser utilizado com o combo para obter uma quantidade gigantesca de vida, o que pode ser relevante em algumas partidas contra os decks agressivos do formato.

A manabase tem como propósito ter a menor quantidade de lands viradas nos turnos iniciais, e ter a maior quantidade possível de acesso á mana verde sem prejudicar as demais cores, já que com ela podemos utilizar nossos mana dorks, onde oito deles podem adicionar mana de qualquer cor.
A única land virada do deck é Indatha Triome, por conta da sua habilidade de Cycling que pode mostrar-se útil, e Phyrexian Tower é outro meio que o deck possui de sacrificar criaturas e acelerar a mana.
Opções de Sideboard
Como podem ver, eu não adicionei um sideboard ao deck, e isso tem a ver com que não sabemos como exatamente será o formato após o lançamento de Historic Horizons, e eu não posso simplesmente sair colocando cards conforme o que eu penso que vai acontecer.
Num ponto de vista geral, este deck parece favorecido contra creature-based decks como Goblins, Elves, Selesnya Company, e se existir no futuro, Humans e Merfolks; enquanto provavelmente não funciona tão bem contra decks Control e deve ser horrendo contra decks de Mayhem Devil.
Logo, acredito que podemos começar considerando a adição de Thoughtseize para os decks Control e Declaration in Stone ou outro removal eficiente para lidar com Mayhem Devil.
Também precisaremos de cards para lidar com hates de cemitério, como Knight of Autumn para Rest in Peace, enquanto também podemos usar alguns hatebears pontuais como Thalia, Guardian of Thraben e Esper Sentinel para punir removals de custo alto.
Dicas e Truques
Apesar de eu não ter testado o deck no Magic Arena ainda (afinal, Historic Horizons ainda não saiu), existem algumas interações e pontos neste deck que devem ser mencionados:
1) Você pode responder ao trigger de Evoke de Vesperlark jogando Davriel’s Withering antes do Evoke resolver, tornando-o um combo de três manas. Você também pode sacrificá-lo para Yawgmoth, Thran Physician ou Bolas’s Citadel da mesma maneira.
2) Você pode responder um removal do oponente em Yawgmoth com Davriel’s Withering, tornando-o permanentemente uma criatura 1/2 e, logo, ele pode ser reanimado com Vesperlark.
3) Tente sempre ter um alvo válido para Vesperlark no cemitério quando tentar realizar o combo. Dessa maneira, caso seu oponente responda a Davriel’s Withering matando o Vesperlark, você pelo menos devolverá uma criatura de seu cemitério para o jogo.
4) Davriel’s Withering lida permanentemente com criaturas que voltam do cemitério como Arclight Phoenix, Scrapheap Scrounger, Skyclave Shade, Cauldron Familiar e Gutterbones.
5) Caso você tenha Yawgmoth e Citadel em jogo, você pode sempre remover um card indesejado do topo do deck sacrificando uma criatura com Yawgmoth para comprar um card.
6) Você pode jogar Yawgmoth, Thran Physician no turno 2 ou Trostani Discordant no turno 3 com Phyrexian Tower caso você tenha feito um mana dork no turno 1 (para Yawgmoth) ou 2 (para Trostani), basta sacrificar o dork após ele gerar mana para adicionar duas manas pretas.
7) Prosperous Innkeeper lhe dá 1 de vida toda vez que uma criatura entra em jogo. Logo, pode ser utilizada como engine com Yawgmoth enquanto você tiver criaturas para jogar
8) Lembre-se que Yawgmoth possui a habilidade de Proliferate, que adiciona em cada permanente com um marcador, outro marcador do mesmo tipo. Portanto, pode ser bem mais interessante distribuir seus marcadores -1/-1 em criaturas distintas durante o jogo para então limpar a mesa do oponente com múltiplas ativações do Proliferate.
9) Tenha em mente também que marcadores +1/+1 e marcadores -1/-1 se anulam quando estão numa mesma permanente. Isso pode ser importante contra decks de Luminarch Aspirant ou The Great Henge.
10) Por fim, Yawgmoth, Thran Physician tem proteção contra Humanos. Isso pode provar-se relevante caso Humans realmente venha a se tornar um arquétipo competitivo o suficiente.
Conclusão
Este foi meu deck tech referente ao combo de Vesperlark com Davriel’s Withering, um combo que só existirá no Magic Arena e apresenta algum potencial no jogo quando construído da maneira certa.
Apesar de as cartas do combo não serem excepcionais, eles acabam por servirem como boas cartas se você dedicar slots a interações com um sac outlet tão poderoso como Yawgmoth, Thran Physician.
Como mencionado anteriormente, a minha jornada na elaboração de uma lista para o mais novo combo do Historic acabou me levando não à criação de um combo deck, mas à criação de um deck de Yawgmoth que, por acaso, possui um combo que funciona bem com o resto da base que o deck utiliza.
Dito isso, Yawgmoth, Thran Physician parece hoje muito mais poderoso do que eu inicialmente o considerei quando fiz o meu review da coleção. A junção de Mayhem Devil e Midnight Reaper com enabler numa única carta com certeza terá grande potencial dentro do Historic e com certeza o veremos em alguns arquétipos.
Quanto ao combo, o tempo dirá se ele é competitivamente viável ou não. Tivemos decks de combo muito poderosos surgindo no Historic nos últimos meses, mas nenhum deles era integralmente baseado em criaturas, o que pode se provar um novo espaço para os combos do formato.
Porém, caso esse combo torne-se predominante no Metagame, não me surpreenderá se vermos a primeira errata de Historic Horizons sendo feita em Davriel’s Withering (e possivelmente em Davriel, Soul Broker também, já que este card também habilita o combo), o que seria um marco na facilidade de correção que existe em cards inteiramente dedicados à plataforma digital.
Obrigado pela leitura!













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