Magic: the Gathering

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Pauper: Spy Walls, a Evolução dos Combos e a Saúde do Metagame

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O deck de Balustrade Spy evoluiu para um arquétipo mais consistente e eficaz em executar seu combo, e conforme o Pauper se adapta, o Metagame ganha sinais que já vimos com outros decks, e que ligam um sinal de alerta para a saúde do formato

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revisado por Tabata Marques

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Existem cards que são apenas um erro de design. Peças como Nadu, Winged Wisdom acontecem de terem habilidades fortes demais ou combinações eficientes para o Metagame em que ele está proposto. Algo foi negligenciado pela equipe de design e, consequentemente, o card performa bem melhor do que o planejado.

Outros, como Balustrade Spy e seu irmão incomum Undercity Informer, acabam quebrando formatos porque algo novo saiu que possibilita novas interações com esses cards — no Pioneer, por exemplo, ambos foram banidos quando os terrenos de dupla face de Zendikar Rising criou um combo eficiente demais e sem concessões de base de mana.

O Spy Combo tem sido o centro do debate em formatos competitivos há alguns meses. Primeiro, no Legacy, onde muitos jogadores defendem o banimento de Balustrade Spy e Undercity Informer porque a maioria dos jogos do arquétipo são parcialmente definidos por quem começa a partida caso o oponente não tenha Force of Will e similares para impedir o combo no primeiro ou segundo turno, e a mensagem da última atualização de Banidas e Restritas sobre o Legacy deixou um sabor amargo na comunidade do formato.

Mais recentemente, o arquétipo ganhou mais atenção no Pauper: o combo já existia antes com o plano de usar cinco terrenos e Land Grant para encontrar a mana necessária — eficiente, rápido, mas muito inconsistente quando comparado com outras estratégias que faziam algo parecido, como o Dredge. Mas há cerca de um mês, uma nova vertente do Spy Combo nasceu mesclando o plano de outro arquétipo conhecido — Walls — com um combo-kill.

O Spy Walls é agora o quarto ou quinto deck mais jogado do formato, e cresce em representação a cada semana enquanto vemos outros arquétipos se adaptarem. Voltamos aos tempos onde uma ou duas cópias de Relic of Progenitus no maindeck, começamos a ver cards como Envelop, que lida com Dread Return pelo menor custo possível, chegar nos Sideboards de estratégias como Elves e também a ascensão de estratégias não-interativas no Top 8 dos Challenges mais recentes, o que levanta a questão: o Spy Walls é um deck saudável para o Pauper?

O que é o Spy Walls?

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Como explicamos acima, o Spy Walls é um deck de combo que mescla dois arquétipos distintos: Walls Combo e Spy-Combo. Seu objetivo é buscar todos os cinco terrenos da lista com cards como Land Grant, Sagu Wildling e as criaturas com landcycling para conjurar Balustrade Spy, colocar todos os cards no cemitério, e usar uma combinação qualquer de três criaturas para jogar o flashback de Dread Return, devolvendo Lotleth Giant para o campo de batalha, cujo efeito de ETB causará dano letal.

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O pacote de Walls oferece ao arquétipo três elementos importantes:

  • Ele garante mais facilidade em acesso a mana apesar de usar apenas cinco terrenos no deck. Cards como Wall of Roots, Overgrown Battlement e Axebane Guardian combinados com Quirion Ranger permitem até conjurar Sagu Wildling e Generous Ent para um plano de Beatdown/Ramp mais justo.
  • As criaturas do Walls possuem resistência alta, permitindo segurar o clock do oponente por mais turnos, e como falamos de um arquétipo cuja estratégia principal envolve um “one-turn kill”, cada pseudo-turno extra que você ganha te deixa um passo mais próximo da vitória.
  • Usar mais criaturas permite incluir Lead the Stampede e Winding Way como fontes de vantagem em cartas. Como toda criatura do deck faz alguma coisa e temos poucos terrenos, é comum comprar entre três e cinco cards com essas mágicas, além delas permitirem cavar fundo em busca de Balustrade Spy.

    Em resumo, o pacote de Walls torna o Spy Combo muito mais consistente, menos linear e abre espaço para condições de vitória alternativas. Parece familiar.

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    Sempre que um combo explode no Pauper, ele evolui em seguida. O Broodscale Combo foi de um All-In Magic Symbol BMagic Symbol G para adicionar um splash de Magic Symbol G para Writhing Chrysalis, que possibilitava um jogo de Midrange eficiente com a constante ameaça de um hit-kill. Antes de ser banido, All That Glitters começou no Affinity, mas passou a dominar de vez o Metagame quando entrou nas listas de Boros Synthesizer, cujo plano de jogo era mais eficiente em jogar o jogo justo, e Peregrine Drake começou em listas inteiramente voltadas para o combo até chegar na sua cada de Izzet que mesclava o potencial de mana infinita com uma estratégia de Control com Mulldrifter e interação barata.

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    O motivador para as transformações do Spy Combo começou com Sagu Wildling em Tarkir: Dragonstormlink outside website. O novo dragão oferecia outro meio barato de encontrar os terrenos da lista enquanto contava como mais uma criatura para Lotleth Giant — eventualmente, passou a fazer sentido inserir mais e mais criaturas até chegar no plano de jogar com Walls, uma estratégia que, no Magic Online, tem dificuldade de fechar o jogo pela intensidade de cliques que as interações comuns do arquétipo para vencer demandam.

    Adaptando-se às Adaptações

    Sempre que um novo combo aparece, é natural que ele siga um ciclo no Pauper: ele nasce, passa pelo teste de fogo para ganhar relevância no Metagame e, se conseguir, o resto do formato se adapta a ele. Em seguida, o deck evolui, começa a adotar novas propostas e possibilidades e nasce assim uma segunda vertente dele, provavelmente trocando velocidade por consistência. Nós estamos aqui, e o próximo passo é o formato se adaptar novamente.

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    Começamos a ver cópias de Relic of Progenitus no maindeck de Boros Synthesizer e afins ou mais presença do artefato em Sideboards diversos, algumas listas começam a adotar Faerie Macabre como uma resposta de difícil interação que só precisa tirar os cards certos no momento do combo, e alguns arquétipos começam a incluir Envelop como a resposta barata mais resiliente contra Dread Return, e também vemos um leve acréscimo de Nihil Spellbomb em listas de Wildfire e Affinity, que já utilizavam o artefato naturalmente.

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    A outra tendência que começamos a ver a partir deste ponto é um acréscimo das linhas mais comuns possíveis para ganhar de combos no Pauper tendo mais presença no Metagame: Blue-Based como Faeries e Tolarian Terror são os predadores históricos de Combos em quase todo formato competitivo. No caso do Spy Walls, é fácil lidar com um hate de cemitério que já está na mesa com Masked Vandal, mas trabalhar em volta de diversos Counterspells é um desafio que ele tenta compensar com posição de mesa.

    O crescimento dos combos e arquétipos não interativos são outro sintoma comum. Decks como Elves ou High Tide tem como objetivo principal vencer antes que o oponente, e poucas respostas pontuais e mais foco em velocidade tende a ser a rota natural para lidar com um arquétipo que prevalece na falta de interação.

    O Spy Walls, inclusive, é excelente em responder.

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    Masked Vandal se transformou em ferramenta de maindeck junto de Mesmeric Fiend já que Lead the Stampede e Winding Way são fontes de vantagem em cartas confiáveis, e algumas listas recentes têm apostado em Mirrorshell Crab para interação de pilha ou até para anular Faerie Macabre.

    O resultado é o xadrez entre o Metagame e o Spy Combo se estreitar, e o debate sobre a saúde do formato consequentemente retorna ao ciclo de questionarmos se um “combo é bom demais para o Pauper”.

    O Fator Diversão e a Saúde do Pauper

    Assim como no Legacy, um dos argumentos mais comuns que vejo em reclamações sobre o Spy Walls (e o High Tide na mesma categoria) é que ele não é um deck divertido de jogar contra. Ele faz todas as tomadas de decisões não importarem se o oponente encontrar um Balustrade Spy e secar os terrenos da sua lista, e enquanto ele requer muito mais setup num ambiente de apenas cards comuns, o estilo de progressão de jogo dele tende a não beneficiar estratégias que os jogadores gostam.

    Todos têm uma visão distinta do que Magic deveria ser, e elas nunca estarão em harmonia absoluta — se estivessem, haveria algo de muito errado com a estrutura do jogo ou com a natureza humana. Durante muitos anos, o Pauper foi o palco de verdadeiros shows de atrito entre mirrors de Midrange com Monarch e Faeries, e desde Modern Horizons 2, vivemos pulos instantâneos entre Metagames estáveis e picos de irregularidades que parecem injustas. Em alguns casos, elas de fato são, em outros, os jogadores só não gostam de enfrentar aquilo.

    Spy Combo e High Tide estão neste critério. Ainda parece cedo para afirmar que qualquer um deles é quebrado ao ponto de demandar mais um banimento no formato — os cards-chave, Balustrade Spy e High Tide, seriam os alvos óbvios —, e é natural que as forças que regem as regras de um ambiente competitivo tenha discordâncias com aquilo que a comunidade considera ideal.

    Nos padrões atuais de Magic, por exemplo, a prioridade para os jogadores parece sustentada em três pilares:

  • Inovação: Um formato precisa ter espaço para novos decks surgirem e novas techs nascerem nas estratégias pré-existentes. Quanto mais fechado o Metagame e quanto mais tempo as mesmas estratégias permanecem no topo, menos interessante ele se torna. Um exemplo recente envolve o quanto jogadores e criadores de conteúdo criticam o Pioneer por ser um formato “muito parado”.
  • Diversão: Um formato precisa ser divertido. Vale ressaltar que “diversão” em um card game é subjetivo, mas há consenso majoritário de que um formato divertido é aquele onde as partidas são interativas, proveitosas e, idealmente, onde cada jogada importa para o seu caminho até a vitória.
  • Estabilidade: Um formato não pode mudar de Metagame constantemente. Se a recorrência de power creep/banimentos for muito grande, menos seguro se torna investir naquele cenário e menos atraente fica jogar um jogo onde o próximo set pode sempre trazer algo para invalidar tudo o que veio antes.

    Para o regimento de um formato competitivo, no entanto, os pilares que costumam sedimentar a saúde do Metagame são definidos por:

  • Dados: Toda mudança em um formato precisa ser sustentada com dados (idealmente, estes deveriam ser mais claros, mas a Wizards of the Coast não trabalha desta maneira). Se um deck é presente demais, o quanto disso tem a ver com a maneira como o formato se comporta? O que as taxas de vitória conam sobre o cenário competitivo? Um deck só é muito presente por ser muito popular, ou porque ele faz algo muito melhor do que o resto?
  • Diversidade: O Metagame de um formato deve ser diverso. Os números podem variar de um cenário para outro, mas qualquer arquétipo que comece a apresentar números muito altos em comparação aos demais decks em torneios deve ser observado e intervenções podem e devem ser avaliadas com base nos dados.
  • Estabilidade: Um formato não pode sofrer intervenções recorrentes a menos que necessário para os fins de diversidade e/ou para corrigir erros comprovados pelos dados e representação de cada arquétipo. Quanto menos banimentos, melhor para todos.
  • Aproveitamento: Pode também ser chamado de diversão, mas a maneira como um regimento define esse fator difere bastante de como um jogador faria. Por conta do acesso a dados mais assertivos e, de preferência, do distanciamento da influência da opinião pública, banir ou não banir algo pode ser influenciado pela experiência proporcionada por um determinado card, ou arquétipo. Por exemplo, o banimento de Cauldron Familiar do Standard em agosto de 2020 foi baseada na experiência de jogo negativa que o deck de Food oferecia para o formato em um período de isolamento social, visto que ele muitas vezes significava assistir o oponente fazer micro-interações durante vários minutos sem tomar qualquer ação, pois não existem atalhos nas plataformas digitais.

    Spy Combo, High Tide e a Próxima Banlist

    O próximo anúncio de Banidas e Restritas ocorre em 24 de Novembro, mas o Pauper Format Panel mencionou no último anúncio que poderiam adiantar a data de banimentos para o formato a fim de definir o destino de High Tide, e o destino de Balustrade Spy pode ser conectado ao do card azul.

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    A maior preocupação com High Tide é o quanto sua estratégia promove jogos não interativos e demorados, especialmente nos jogos presenciais em que o relógio da rodada é compartilhado — uma situação bem diferente de Balustrade Spy, que possui um combo determinístico e, portanto, não estende tanto a partida.

    No entanto, o Spy Walls/Spy Combo também levanta preocupações e dúvidas sobre a viabilidade de jogos não-interativos, e no caso dele, pode ser gradualmente mais difícil competir com ele sem jogar de azul, ignorar o que ele está fazendo e ser mais rápido, ou abarrotar sua lista com respostas pontuais visando atrasar seu plano pela maior quantidade possível de turnos.

    Apesar da rápida ascensão, ainda é cedo para afirmar que Balustrade Spy sinaliza tantos problemas no Pauper como aparenta no Legacy e como foi no Pioneer. O próximo anúncio do PFP — quando ele ocorrer — também definirá o quanto o “fator diversão” faz parte da equação do comitê em relação à saúde do Pauper, dado como muitos jogadores enxergam esses combos como partidas pouco divertidas.

    Até lá, talvez o Metagame se adapte, jogadores se cansem da novidade mais recente e comecem a procurar outros arquétipos, ou talvez o Spy Walls chegue em números similares ao que vimos há poucos meses com Basking Broodscale.