Faz um tempo desde que o Timeless teve movimentação no Metagame e por um bom motivo: em essência, tudo o que entra no Magic Arena — expansões principais, special slots, Horizons sets, Alchemy — é válido no formato sem qualquer intervenção ou alterações nos cards através de nerfs. Desde sua origem, existem apenas três cards restritos no formato: Channel, Demonic Tutor e Tibalt’s Trickery.

O Timeless é um formato engraçado. Seu Metagame é, ao mesmo tempo, miserável e divertido, sua pool de cartas te faz olhar para algumas coisas e questionar como aquilo é válido (Necropotence, restrita até no Vintage, pode ser utilizado com quatro cópias no formato e nem sequer está presente em um Tier 1 hoje) enquanto, em outras partes, ele é muito parecido com o Modern quando vemos os principais decks do formato — Energy, Dimir/Esper Frog, Belcher, All Spells — enquanto mescla cards como Show and Tell no meio e cria um acordo não-escrito entre o formato e o jogador.
Ao aceitar jogar este formato, você está aceitando todos os custos, freios e contrapesos e a própria natureza proposta pela sua pool de cartas. Não diferente do Legacy, você sabe que coisas injustas podem acontecer, sabe que alguém pode te ganhar repentinamente e que o “anti-jogo” é parte da natureza dele: antes porque existem combos difíceis de interagir em um ambiente sem Force of Will e cuja Force of Negation nos foi negada com o lançamento de Final Fantasy, e agora porque o principal recurso que um jogador de Magic precisa pode ser negado irrestritamente desde o primeiro turno.

Strip Mine não é válida como quatro cópias em um formato desde janeiro de 1998, quando foi restrita no Vintage e por um bom motivo — ele é o efeito mais poderoso de disrupção de mana da história do jogo.
Este é, provavelmente, o card mais importante que o formato recebeu desde Modern Horizons 3, ou desde Show and Tell. Sim, tivemos cards como Chrome Mox que mudaram o Metagame e a maneira de construir certos decks, mas nenhuma delas pode mudar o formato inteiro como Strip Mine, e agora, uma das maiores dúvidas que jogadores de Timeless podem ter é “como jogar em volta disso?”.
Strip Mine no Timeless: Como jogar em volta de disrupção de mana
Strip Mine está restrita desde 1998, dez anos antes de eu começar a jogar Magic: The Gathering, então eu não tenho as respostas perfeitas de como jogar em volta do card por experiência direta com ele, mas aprendi muito sobre como lidar com este tipo de efeito vindo de outro card muito conhecido e que não existe no Timeless… ainda.

Se você joga Legacy, conhece Wasteland, um dos pilares que mantém o equilíbrio das bases de mana e evita que jogadores possam apenas ir para pilhas de quatro ou cinco cores com as melhores cartas do formato. Jogar em torno de Wasteland é uma necessidade de deckbuilding, e se sua lista não consegue, é necessário ter um bom motivo, como jogar de All Spells ou algum combo que não se importe de perder um terreno porque consegue gerar mana de outras maneiras.
Do contrário, você precisa de um terreno básico, talvez dois, para evitar um “lock” que te deixe sem mana durante muitos turnos e existe um equilíbrio interessante, pelo menos nos decks azuis do Legacy, entre querer reduzir a quantidade de terrenos por conta da abundância de cantrips eficientes disponíveis somado com a necessidade de jogar com Wasteland ou de ter recursos o suficiente para aceitar os riscos de perder um terreno ou dois para ele durante a partida.
Strip Mine burla essa lógica de ter umas básicas a mais para evitar um lock: se você não tem land drops o suficiente, você não vai jogar o jogo, então para este exercício, vamos considerar que cometi o erro de não usar terrenos básicos na minha lista.
O Keep: E se eles tiverem?
Jogar contra Strip Mine / Wasteland significa tomar algumas decisões extras na mão inicial. O Timeless já é habituado ao conceito de considerar o “e se eles tiverem X ou jogarem com Y?” no início da partida pela natureza inerente dos combos e decks não interativos do Metagame, mas agora essa linha também envolve os seus recursos.
Tenha sempre em mente: seu oponente tem quatro Strip Mine, você tem X terrenos. É óbvio que isso significa que você tem mais chances de comprar mais terrenos do que seu oponente tem de jogar mais de uma Mine durante a partida, mas é importante considerar também o quão consistentemente você acessa os seus terrenos.
A maioria dos decks do Timeless joga com aproximadamente 18 a 23 terrenos, a depender do quanto você precisa conjurar drops que custam mais mana. Listas como Mardu Energy conseguem operar com uma base de mana pequena porque tudo no deck custa uma, ou duas manas exceto por Lurrus of the Dream-Den, e ele tecnicamente consegue se safar mesmo se perder um terreno no início do jogo porque tudo requer pouca mana para ser jogado, mas ele também pode ser punido severamente pela dificuldade que possui de achar mais terrenos.

Para pegar outro exemplo, o Dimir Frog joga com cerca de 20 e 22 terrenos contando MDFCs, mas poderia se safar com 19 ou 18 se reduzisse um pouco mais os seus custos de mana. Em uma comparação direta, o Dimir Frog teria muito mais facilidade do que o Mardu Energy de manter mãos com dois terrenos mesmo tendo a mesma quantidade na sua lista porque ele têm mais facilidade de acesso a mais terrenos por conta dos diversos efeitos de draw baratos que possui, como Brainstorm e Psychic Frog — você pode, sim, tomar um Strip Mine nos dois primeiros turnos, mas consegue se recuperar muito melhor deles.
Então, uma regra básica do keep a partir de agora é considerar o quanto uma Strip Mine no primeiro turno atrapalha a sua mão inicial e o quão fácil/provável é de você encontrar outro terreno ou fonte de mana no topo com suas mágicas. Quanto mais segura a resposta para essas duas perguntas for, melhor é o seu keep para jogar em torno deste card.
Preserve as suas Fetch Lands

As Fetch Lands são tecnicamente imunes à Strip Mine e Wasteland. O oponente pode dar alvo nelas, mas isso oferece uma troca de recursos negativa para eles onde nós damos o LD porque basta sacrificar a Fetch para buscar um terreno para fazer a habilidade perder o alvo.
A maioria da minha experiência com Legacy vem de jogar com decks de Delver of Secrets. Nesses, é comum preservar as Fetch Lands na mesa por uma dúzia de motivos que envolvem tanto se proteger de Wasteland quanto capitalizar em cima de Brainstorm, Ponder, ou até da habilidade do próprio Delver para se livrar de um card ruim do topo.
Tendo consciência de que Strip Mine existe no formato, é importante se atender à necessidade de estourar suas Fetch Lands, lembrando que elas podem virar apenas uma Lotus Petal que te custou um de vida e uma mana no médio prazo. Usar a mana para jogar os cards certos no timing certo se torna ainda mais importante neste ambiente, afinal, é possível que você já não tenha mais três terrenos em jogo no turno seguinte — pior cenário, você terá apenas um.
Stifle é seu maior amigo e inimigo

Stifle é agora o pior melhor amigo do formato: ele está do lado daqueles que querem privar o oponente da sua mana e do lado de quem quer proteger os seus terrenos.
Usando o exemplo acima, jogadores agora serão mais propensos a evitar estourar fetch lands sem necessidade nos primeiros turnos por medo de perder sua mana permanentemente e ficar sem um sequenciamento mais impactante nos turnos seguintes, o que abre mais espaço para Stifle fazer o que faz de melhor: anular Fetch Lands e funcionar como um LD de uma mana.
No entanto, a mágica também funciona para o propósito contrário e anula a habilidade de Strip Mine por apenas uma mana sem ser uma resposta específica para apenas este cenário: existem diversos triggers que Stifle pode responder no formato, com alguns deles sendo capazes até de vencer jogos, e querendo ou não, o formato demandará ainda mais eficiência de mana agora.
Considere fontes alternativas de mana
Em outros tempos, defendi que fontes de mana rápida deveriam ser restritas no Timeless com Chrome Mox e Dark Ritual sendo os principais alvos porque o restante do Metagame parecia incapaz de acompanhar e isso dava muita consistência para decks injustos sem as respostas apropriadas para o resto do formato. Enquanto ainda acredito que precisamos de respostas melhores — e Strip Mine é uma “resposta” —, a existência dele muda a maneira como precisamos enxergar essas fontes no formato: elas deixam de ser apenas algo para turnos degenerados e passam a ter uma relação de contrapesos para garantir que jogos, de fato, aconteçam.

As melhores escolhas no formato hoje provavelmente são Chrome Mox e Deathrite Shaman, especialmente o segundo caso.
Chrome Mox é muito mais jogado hoje e é uma fonte gratuita de mana que permite algumas das principais jogadas injustas do formato, mas ele ainda exige um card extra da sua mão no processo e cria topdecks piores conforme a partida se desenvolve. Ele é excelente nos primeiros turnos, onde Strip Mine importa mais, mas é só uma fonte de mana.
Deathrite Shaman, por outro lado, faz um pouco de tudo: ganha vida, é uma criatura, um drop barato para jogar mesmo perante um possível lock, lida com outros potenciais looks que teremos envolvendo Blood Moon e Ancient Tomb, se transforme em hate de cemitério e é uma ferramenta que funciona igualmente para Aggro, Midrange e Tempo. Ele tem os problemas de custar mana e morrer para remoções tradicionais, mas resolve o dilema do “se o oponente tiver um LD” com mais facilidade e menos recursos do que Chrome Mox.
Ajuste seu deck de acordo

Se o Timeless já era um formato muito eficiente em mana, ele se torna ainda mais agora. Os tempos para cards com valor de mana alto que não sejam essenciais para o seu plano de jogo passaram, e até peças como Phlage, Titan of Fire’s Fury se tornam incógnitas pelo seu alto requerimento de cores e custos para funcionar que não combinam com um Metagame mais restringido da capacidade de jogar terrenos sem impeditivos.
Valorize a mana em cada um dos seus turnos, saiba que talvez você não a tenha para a jogada seguinte e considere, ao construir sua lista, se é realmente necessário utilizar aquele card visto o quão presente ou não Strip Mine e outros efeitos de LD estão sendo utilizados no Metagame.
Strip Mine no Timeless: Como Jogar com o terreno
Tenha uma linha de jogo proativa
Strip Mine também é perda de recursos para você, você está perdendo um terreno do turno para tirar um do oponente e isso significa que precisamos extrair algo dele além de atrasar o oponente porque estamos nos atrasando junto.
Mana Drain e Strip Mine não combinam… muito. Mesmo que, eventualmente, exista uma espécie de Urborg, Tomb of Yawgmoth para Ilhas no futuro, terrenos como Wasteland ou Strip Mine precisam vir acompanhados de uma perda de Tempo suficiente para tirar o equilíbrio do oponente por alguns turnos.

Considere o exemplo mais modernamente clássico desta situação: meu primeiro turno envolve Fetch Land para Steam Vents para Delver of Secrets. Meu oponente joga o primeiro turno dele e passa, meu Delver transforma, jogo uma Strip Mine, destruo o terreno dele e ataco para três com Flying — agora, meu oponente está uma mana atrás e provavelmente com o clock também atrás se não acumular mais recursos e o Tempo da partida está ao meu favor mesmo se nenhum de nós comprarmos mais terrenos pelo resto da partida.
O mesmo se aplica para o caso contrário: se minha jogada de primeiro turno foi um Delver of Secrets e o oponente gasta o turno dele destruindo meu terreno, se meu Delver transformar, o Tempo continua ao meu favor por mais alguns turnos se ele não for respondido, e se eu tenho mais um terreno e um Spell Pierce qualquer, esse Delver pode apenas me carregar para a vitória. Afinal, se meu oponente jogar outra Strip Mine, ele perdeu dois recursos e dois turnos tentando tirar o meu acesso à mana enquanto um 3/2 com Flying continuará o atacando.
Ou seja, você precisa de algo que faça o Strip Mine que você usou valer a pena. Pode ser antes com cards como Ragavan, Nimble Pilferer, Dragon’s Rage Channeler ou até Deathrite Shaman, ou depois com cards que impactam o jogo de outras maneiras, como um Magus of the Moon no segundo turno com Chrome Mox e Ancient Tomb, ou até um one-drop qualquer que, agora, seu oponente terá mais dificuldade de responder.
Jogar e ativar um LD gratuito só porque ele é forte não vai te levar para a vitória se o seu follow-up é um Fatal Push ou Mana Drain. Proatividade é necessária, mesmo que este seja cavar mais fundo com cantrips em busca da ameaça que vai ganhar o jogo para você enquanto o oponente se atrapalha com a mana dele — o que nos leva ao próximo ponto.
Não é porque você pode, que você deve
Seu primeiro turno foi uma Fetch Land. Seu oponente joga Ragavan, Nimble Pilferer e passa. Você estoura sua Fetch Land, busca um Undercity Sewers e encontra um Orcish Bowmasters com o Surveil. Seu segundo land drop é uma Strip Mine, é melhor estourar o terreno do oponente ou conjurar Bowmasters para lidar com Ragavan? A resposta é óbvia: Ragavan gera mais valor no longo prazo e seu oponente pode encontrar a mana que precisa mesmo se não tiver um terreno na mão.

Considere, então, um caso menos óbvio: o one-drop do oponente foi uma Dragon’s Rage Channeler. Se você joga Strip Mine, o oponente tem um 1/1 na mesa e você precisará lidar com ele depois. Se ele tiver outro terreno em jogo, você arrisca de haver alguma possibilidade de Channeler virar um 3/3 e sair do alcance de Bowmasters no turno seguinte.
Neste caso, os riscos são: jogar Bowmasters, lidar com Channeler e precisar talvez resolver algo maior depois, ou tirar um terreno, ter Channeler na mesa por mais um turno com potencial de desencadear o Delirium se o oponente comprar uma Mishra’s Bauble ou similar com suas cantrips, que também punirão a decisão de não jogar Bowmasters naquele turno.
Eu optaria pelo Bowmasters. Não apenas vou lidar com o Channeler do oponente, como, se o terreno dele do segundo turno for uma Strip Mine, ele terá de decidir entre me privar de mana ou tentar jogar outra mágica. Se essa mágica não lidar com Bowmasters e a ficha, o Tempo ainda é positivo para mim.

Um caso semelhante poderia ocorrer com Thalia, Guardian of Thraben. Supondo que o deck do seu oponente seja algum combo baseado em mágicas de não-criaturas, ou um deck de Tempo muito dependente de Cantrips baratas, é mais benéfico, nos Games 2 e 3, jogar Thalia no segundo turno, ou estourar uma Strip Mine no terreno do oponente?
As duas principais possibilidades que podemos considerar se optarmos por Strip Mine no segundo turno são:
No outro caso, se jogarmos Thalia, o oponente tem alguns problemas: a menos que tenha um Flare of Denial ou um Fury, nós travamos uma potencial interação de primeiro turno contra ela, dificultamos linhas com Chrome Mox ou Dark Ritual e basicamente ganhamos um “turno extra” para lidar com o problema iminente, onde Strip Mine ganha mais valor por conta da negação de mana que Thalia também oferece.
Considere como extrair o máximo de valor da negação de mana

Por mais tentador ou sadisticamente divertido que possa parecer, estourar uma Strip Mine no primeiro ou segundo turno para negar a mana do oponente e, quem sabe, ganhar o jogo de graça, você perderá muitos jogos se não tratar este terreno como um recurso tão precioso quanto a mana do seu oponente. Ainda é o seu land drop, ainda é uma mana a menos que você também tem, então considere sempre como extrair o máximo dele.
Será estourando um land drop no início do jogo? Ou será salvando o card em uma peça-chave como Shifting Woodland, Phyrexian Tower ou Arena of Glory? Você vai conseguir privar o oponente do acesso a uma cor se jogar contra o terreno dual? Ou outra Fetch vai garantir que ele ainda tenha três cores para usar no turno seguinte? O quanto o plano de jogo do seu oponente realmente sofre contra Strip Mine?
O quanto o seu deck capitaliza em cima do efeito deste card? O follow up vale a pena para estourar neste turno? O que eu tenho na mesa vai ganhar o jogo se eu travar o oponente ou o que eu posso fazer no turno seguinte é melhor se eu privar os recursos dele agora?

A resposta vai depender de cada deck e situação na partida. Consigo imaginar situações distintas onde é preferível usar Strip Mine em uma Arena of Glory no quarto turno do que na Sacred Foundry que meu oponente fez para Guide of Souls no primeiro, e também situações onde responder uma Ancient Tomb para, por exemplo, evitar um Sowing Mycospawn que buscará uma Strip Mine e removerá duas manas suas permanentemente é igualmente relevante.
Também imagino circunstâncias que lidar com o land drop do segundo ou primeiro turno do oponente é essencial para o que estamos propondo, especialmente se nosso plano envolve jogar o Tempo da partida ao nosso favor. Remover qualquer fonte de mana prevendo que o oponente pode jogar algo mais impactante que você pode no turno seguinte também é essencial, e essas medidas só serão devidamente aproveitadas e estudadas conforme o Metagame se acomodar às novas regras impostas ao Timeless pelo novo, velho card.
Concluindo
Strip Mine é um dos cards mais poderosos de Magic: The Gathering, e pela primeira vez em 27 anos, ele poderá ser usado de maneira irrestrita em um formato construído e trará mudanças que certamente afetarão a maneira de construir decks no Timeless.
Além dele, cards como Ancient Tomb, Eldrazi Temple e Magus of the Moon também estão nos slots especiais de Edge of Eternities, abrindo espaço para a ascensão de mais um dos macro-arquétipos do Legacy/Vintage para o Magic Arena: os “Lock Stompy”, seja ao lado de Chrome Mox e Blood Moon ou com Thought-Knot Seer e Sowing Mycospawn.
Com o estigma que o Timeless recebeu no último ano de ter um Metagame desinteressante e estático baseado em jogos não-interativos e combos que não te permitem jogar com decks mais “justos” — parte é exagero, parte é meia-verdade —, os próximos meses após o lançamento do novo set serão tempos muito interessantes para o formato.
Obrigado pela leitura!













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