A melhor criatura vermelha da história do Magic

O Modern passa por uma fase de transição cheia de novidades, e tudo isso se deve à edição Modern Horizons 2, que foi totalmente pensado e construído para o formato, de modo a trazer cartas que se encaixassem bem nele e a suprir necessidades presentes.

Pouco mais de um mês após esse lançamento, podemos ver que o produto supriu muito bem essa função, fazendo alguns decks novos surgirem e aumentando o nível de alguns que andavam caídos, em alguns casos bem até demais.

Nos últimos dias só temos visto vermelho no Modern. Cartinha de Macaco Pirata custando mais de 450 reais, gente se perguntando por que estão chamando a menininha nova de Darcy e decks de elemental castando Fury de forma gratuita e limpando a mesa.

Há alguns meses, eu tinha começado a fazer esboços de um artigo sobre como Bonecrusher Giant e Brazen Borrower podiam ser considerados algumas das melhores criaturas já lançadas no Magiczinho da galera, devido a sua capacidade de se esconder de descartes e de agir de forma instantânea com habilidades situacionais que te beneficiam na defesa e no ataque. Usando esses mesmos argumentos, embora eu ainda veja possibilidade de chamar a Brazen Borrower de melhor criatura azul do jogo inteiro, fico com minhas dúvidas sobre o Bonecrusher Giant, e tudo isso graças a Modern Horizons 2.

Os culpados por toda essa renascença nos decks vermelhos de que estamos falando são primariamente dois. Embora tenhamos diversas peças na cor vindo nessa nova coleção, como Unholy Heat ou Fury e reprints como Imperial Recruiter e Goblin Bombardment, os verdadeiros elefantes na sala são Dragon’s Rage Channeler e Ragavan, Nimble Pilferer. Analisei eles em mais de cem jogos diferentes tanto no Modern quanto no histórico, graças ao recente lançamento da Channeler no Magic Arena, em jogos com e contra eles.

Dragon’s Rage Channeler tem seu nome abreviado para “DRC”, pronunciado “Dee Ar Cee”, o que lhe rendeu o apelido de Darcy. Portanto, não estranhe se ouvir o nome sendo usado neste artigo e em jogos presenciais quando eles voltarem.

Essa garota está sendo comumente comparada com o popular Delver of Secrets, criatura 1/1 que cresce e se torna uma 3/2 com voar quando certos requerimentos são cumpridos. Darcy segue o mesmo caminho, indo de uma 1/1 para uma 3/3 voadora quando atinge o Delírio, uma mecânica de Sombras de Innistrad que dá um plus nos efeitos de um card quando se tem quatro ou mais tipos de cartas diferentes (Terreno, Feitiço, Artefato, Planeswalker e etc…) no seu cemitério.

Atingir o Delírio da Darcy, no Modern, é uma tarefa muito fácil. Usa-se de Fetch Lands, popularmente a Scalding Tarn, para suprir a necessidade de terrenos no grave, já Mishra’s Bauble também tem custo zero e pode ser sacrificada facilmente, suprindo sua cota de artefatos. Fora isso, feitiços e mágicas instantâneas permeiam esse deck mais do que tudo, incluindo Thought Scour que pode encher seu grave com ambos os tipos de card, e de brinde, criaturas.

No fim, mais de uma vez eu tive a felicidade de transformar Darcy em meu segundo turno, dando um ataque de três de dano pelos ares logo de cara. Como se não bastasse, ela conta com outra habilidade que mexe com o cemitério: Surveil, ou Vigiar, é uma mecânica que te permite olhar o card do topo de seu deck e decidir se você quer mantê-lo lá ou enviar para o cemitério, quase como um scry que passou por um agente funerário, e é ativada toda vez que você conjura uma mágica que não é de criatura.

O Combo de Vigiar e Delírio cai como uma luva, permitindo que você selecione o topo de seu baralho de modo que você atinja os requisitos para fortalecer a Dragon’s Rage Channeler e, após isso, continue filtrando o topo de seu deck, escolhendo o melhor draw possível e descartando o que lhe é indesejável.

Além disso, pode-se ver que a carta foi mais do que bem pensada para o Modern. Ela anda de mãos dadas com Unholy Heat, mágica instantânea que dá dois de dano para criaturas e planeswalkers, mas quando tem o Delírio atingido, passa a dar portentosos seis de dano, capazes de levar quase a totalidade das criaturas e planeswalkers recém-conjurados.

Essa garota também possui valor de mana 1, ou seja, pode ser facilmente trazida para o campo de batalha com a ajuda de um Lurrus of the Dream-Den, o Companion que mais obteve sucesso desde seu lançamento em Ikoria. Com seu Vigiar ele pode jogar as Arclight Phoenix do topo do seu deck direto pro grave enquanto conjura mágicas que a irão reanimar. Ela se dá bem em estratégias aggro ou tempo mostrando que as possibilidades para ela, mesmo que pré-estabelecidas, são lindas e só esperam para ser exploradas.

O único defeito da Darcy é que após sua evolução ela tem que atacar em todo turno em que ela estiver apta, dificultando que ela faça bloqueios. Felizmente nos baralhos em que a usamos, ou dispomos de bloqueadores melhores, ou raramente temos a intenção de bloquear.

E como falamos de decks que a usam, que tal uma lista fresquinha que é a cara dela?

Nessa lista também podemos ver a presença da próxima carta que falaremos a seguir;

Como está escrito na minha biografia aqui da Cards Realm, realmente gosto de animais pequenos, peludinhos e engraçados. Nem preciso dizer que já perdi algumas tardes de sábado assistindo vídeos de gorilas, chimpanzés e outros macaquinhos. Para suprir essa minha necessidade por entretenimento símio recebemos Ragavan, Nimble Pilferer, o mesmo do Token criado pela Kari Zev, Skyship Raider.

Ragavan é um 2/1 por uma mana só, o que faz dele um Savannah Lions vermelho. Para mim isso já seria o bastante para gostar dele, uma vez que eu adoro gritar “LEÃO DA SAVANA, VAI!” sempre que ataco com uma 2/1 de uma mana, até mesmo no Legends of Runeterra. Mas não é só de ataques que vive o Mamaquinho.

Na verdade sim, pois suas habilidades exigem que o dano conecte em outro jogador; Ragavan, Nimble Pilferer cria um tesouro sempre que acerta dano. Fofo, não é? Mas não se deixe enganar, ele está fazendo Ramp bem na sua frente, te permitindo conjurar cartas mais poderosas mais cedo. Além disso, o mamaquinho, toda vez que acerta dano exila a carta do topo do baralho oponente, permitindo que você a conjure naquele turno, tornando o deck dele o nosso deck.

Você pode pensar que o tesouro é para suprir cores diferentes do deck oponente ou para lançar mágicas mais caras, mas é aí que Ragavan te induz ao erro e te pega nas minúcias. O plano principal do jogador de mamaco é usar essas manas de tesouro para proteger o seu filhote felpudinho, principalmente com anulações, mas também com remoções para bloqueadores dele, caso a construção do deck permita. A ideia é que assim que você conseguir os tesouros, seu Ragavan já estará protegido.

Ele também conta com a mecânica de Dash dos Mardu de Fate Reforged, e que se assemelha muito com a habilidade da Kari Zev, Skyship Raider que colocava um Token de Ragavan para atacar e depois o escondia de novo. Com o Dash, o nosso animalzinho pode entrar atacando e depois voltar para a segurança da sua mão, após ter feito um tesouro e exilado um card do oponente.

Além disso, o Dash comba muito bem com Lurrus of the Dream-Den, uma vez que você pode conjurar ele do cemitério com essa mecânica e no fim do turno retorná-lo para a mão e não para o grave, de onde ele saiu, tirando mais e mais proveito dele.

Como a última lista foi a clássica de UR Tempo, que tal olharmos uma de Jund com direito ao Lurrus of the Dream-Den? A Darcy também está aqui, o que nem de longe é uma coincidência.

Podemos ver dezenas de semelhanças entre essas duas criaturas, o que permite uma comparação justa.

Ambas têm o mesmo custo de mana, mesma cor e mesma função, a de ser um drop de custo baixo e capaz de se manter relevante durante o jogo até o seu fim. Isso se deve a uma lógica simples e que ficou ainda mais comum em tempos de Magic Arena; ter uma mesa cheia de personagens chamativos é muito positivo nos streams do jogo, seja online ou tabletop e, principalmente, no Arena onde criaturas desencadeiam animações quando entram e batem.

O melhor jeito de ser capaz de encher seu campo com guerreiros e monstrinhos é colocando várias habilidades com um custo bem aquém do que deveria ser feito antes. E de fato, são muitas habilidades e palavras-chave, leva um tempo para se habituar com elas e, provavelmente, você vai esquecer bastante que a Darcy tem que atacar todo turno depois de entrar em delírio. Seja qual for o estágio do jogo em que elas entrem em campo, com certeza se tornarão para-raios de remoção.

De um lado temos a Dragon’s Rage Channeler, que não só é comparada com o Delver of Secrets como o superou no Modern e joga lado a lado com ele no UR Delver do Legacy, onde ele tem um desempenho melhor. Bate forte e com evasão, te ajuda a filtrar sua próxima compra, se beneficia da construção do seu próprio deck, faz show com Lurrus. É um monstro do trabalho de equipe e parece que foi montada para ser um cimento unindo os diversos tijolos do seu baralho.

Do outro temos Ragavan, Nimble Pilferer que é o exato oposto, ele por si só é capaz de carregar qualquer baralho sozinho. Tem um dano Ok pelo preço, se protege de remoções tanto subindo mana para tesouros quanto se escondendo na sua mão e de vez em quando consegue utilizar de algo interessante que está no deck do oponente. Além disso, consegue usar ao máximo a habilidade do Lurrus para seu próprio proveito. E mais, uma vez que a Darcy seja uma boa escolha apenas em decks que atinjam a mecânica de Delírio facilmente, Ragavan se encaixa muito bem em vários decks com vermelho sem precisar de nenhum requisito ou sinergia com mecânicas.

Fica claro que um deck bem montado gira em torno da Darcy, mas o Ragavan é uma existência totalmente egoísta que rouba o protagonismo para si, deixando ele mais vistoso que os outros cards. Essa dissonância entre ambos é o que causa uma harmonia perfeita entre os dois, com Ragavan fazendo o trabalho sujo e a Channeler filtrando o baralho para melhor protegê-lo.

No atual momento em que escrevo esse artigo, no MTGDecks, vemos que a porcentagem de decks no MOL e em torneios que utilizam o Ragavan é de 21% no Modern e 23% no Legacy, enquanto a Darcy só tem presença visível no Modern, com 17%. Além disso, outras cartas que sinergizam muito com elas estão no topo dessa lista, como os terrenos Scalding Tarn e Steam Vents, muito usados no UR Tempo.

Outras cartas que também estão alto na lista são Prismatic Ending, Engineered Explosives e Chalice of the Void, capazes de dizimar Darcy e Ragavan sem maiores problemas. E, claro, Lightning Bolt é a carta mais jogada no Modern, com 37% de decks a utilizando, uma vez que, por mais que ela vá bem contra e com os protagonistas desse artigo, Raio é apenas a melhor carta vermelha do jogo.

Eu adoraria fazer um texto super bonitinho, dizendo que a melhor criatura vermelha do jogo é a sua favorita, e que se adequa melhor ao seu jogo, e no caso do Ragavan que passa dos 450 reais, do seu bolso. Embora nesse último mês a minha opinião tenha flutuado entre ambas as escolhas, ficou mais do que claro que Ragavan, Nimble Pilferer é a melhor criatura, e fica um pouco atrás de Lightning Bolt como melhor carta já feita na cor vermelha.

E eu tive um bom motivo para mudar de opinião:

Vi esse deck jogando na live do player Mateusf34. Mateus é um jogador de ligas e grinder do MOL, e sempre visa o melhor desempenho nesse tipo de torneio, de onde ele tira seu sustento. Com o deck mostrado logo acima, idealizado por ele e tunado pelo seu amigo Lucas, ele conseguiu o impecável placar de 5-0, premiação máxima nas ligas do MOL. Ragavan simplesmente faz tudo nesse deck e sozinho, sendo capaz de desviar as atenções do oponente mesmo com criaturas com maior poder e resistência na mesa, como Thought-Knot Seer. Além disso, apresentando vermelho a mistura do Eldratron, permite também a adição de Fury e Bonecrusher Giant ao deck.

E foi aí que me ocorreu, Ragavan, Nimble Pilferer é ameaçador o suficiente para carregar decks inteiros nas costas e justificar o Splash para o vermelho, assim como Treasure Cruise foi capaz de fazer os burns splasharem azul e Oko, Thief of Crowns fazia com suas cores. Ragavan é cheio de habilidades que centralizam a experiência nele, performa bem no Modern e Legacy e, suspeitamente, não foi colocado em Jumpstart: Historic Horizons.

Mas não pensem que a Dragon’s Rage Channeler fica muito atrás. O debate sobre a sua capacidade de superar o Ragavan é extremamente válido, ele só tem o problema de ser mais uma ferramenta do que uma arma, não justificando um splash para ele. Mas, ainda assim, é justificável de se colocar em todo deck no qual o vermelho já está inserido e atingir o delírio seja possível.

Por fim, ambas são ótimas cartas, mas só uma pode ser a número um e receber todos os holofotes. E, nesse caso, o Mamaquinho da Alegria é sim, a criatura vermelha mais poderosa da história do Magic.

Eu só quero deixar claro que eu adoraria ter escrito um baita texto falando tanto da Darcy quanto do Ragavan e coroado com um "mas todos sabemos que no fim, Barbarian General é a melhor criatura vermelha de toda a história do Magic."

Vou ficando por aqui, qualquer dúvida estou disponível nos comentários!