Para o artigo de hoje, decidi lhes trazer uma proposta diferente do que vocês estão habituados no conteúdo que produzo: ao invés de dissecar e analisar um arquétipo bem consolidado de um formato competitivo, explicando como pilotá-lo e trazendo um guia de Sideboard e de como se comportar em cada partida, hoje lhes apresentarei um deck do meu Laboratório da Loucura.
Como já mencionei em outros artigos, sou simplesmente fascinado por jogos de cartas e estratégia — especialmente Magic — e isso me leva a pesquisar muito sobre assuntos relacionados, analisar Metagames, conferir novidades e, claro, construir os mais variados decks para testar minhas ideias.
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Hoje, decidi apresentar uma dessas listas fora da caixinha, contextualizando sua criação e em que ambientes essa estratégia poderia suceder. No entanto, ressalto que muitas dessas listas são esboços de ideias com alguns testes realizados, mas que nunca chegaram a ser especificamente utilizadas em Challenges ou eventos maiores, e definitivamente podem ser aprimoradas ou totalmente descartadas em prol de arquétipos e ideias melhores — mas algumas são interessantes o suficiente para compartilharmos e analisarmos o contexto onde ele se encaixa, inclusive para uma compreensão do que falta (ou não) para que esse arquétipo funcione.
A Decklist
Tomando como inspiração as listas de Death’s Shadow do Modern em 2017 e o Dimir Delver do Pauper em 2018/2019, surgiu a tentativa de unir um dos cards de combo menos conhecidos do Pioneer com uma shell de Tempo que procura aproveitar o cemitério para conjurar ameaças difíceis de remover no atual Metagame.
O primeiro ponto a se pensar sobre o contexto em que essa lista surgiu é que o Pioneer atual está num momento onde criaturas com Delve estão bem-posicionadas no Metagame se você souber quais selecionar.
Se olharmos para os removals mais usados no Pioneer hoje, notamos que muitos possuem restrições que tornam delas inúteis perante uma criatura de custo baixo que você possa conjurar pela menor quantia de mana possível — Fatal Push, Portable Hole e March of Otherworldly Light importam-se com valores de mana dos quais nenhuma criatura com Delve realmente se tornaria um alvo, enquanto o corpo delas desviam de Strangle, Reckless Rage e de Chandra, Torch of Defiance.
Os removals mais recorrentes que funcionariam contra eles são — exceto por Lightning Axe no Izzet Phoenix — menos usados em sua maioria, contando normalmente com duas cópias em seus respectivos decks, e para lidar com esses problemas, poderíamos recorrer a uma velha conhecida.
Ao lado de qualquer criatura com poder 4 ou maior, Stubborn Denial se torna um Negate por uma mana, sendo incrivelmente útil para proteger suas ameaças ou evitar jogadas mais explosivas dos seus oponentes, e se somarmos que muitos arquétipos do Pioneer hoje seguem uma tendência de conjurar bombas por um custo mais alto e se dar tapout para isso, o Force Spike de quando o Ferocious não está habilitado é um meio de atrasar o oponente ou pegá-lo desprevenido na hora em que ele conjurar um Planeswalker.
No entanto, existem muitas formas de lidar com ameaças com Delve através de chump-blocks infinitos, uso de removals mais qualificados para essas situações ou simplesmente hate de cemitério no Maindeck (e esse é um problema gigantesco agora que Unlicensed Hearse existe), e apesar de não podermos fazer muito sobre o último elemento, existe uma criatura que nos proporciona os benefícios necessários para tornar-se uma ameaça muito grande no momento em que entra em jogo.
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Maindeck
Todos conhecem as listas de Soulflayer que apareciam ocasionalmente no Pioneer durante o seu primeiro ano de existência, mas dificilmente fazendo algum resultado expressivo. Normalmente, a ideia era de um turbo self-mill onde seu foco era ter Zetalpa, Primal Dawn e preferencialmente Samut, Voice of Dissent para fazer de Soulflayer um Megazord com Flying, Double Strike, Trample, Indestructible, Haste e Vigilance que encerraria a partida em três turnos.
Apesar dessa proposta parecer válida e o jeito mais absurdo de se conjurar essa criatura, nunca gostei de como forçávamos cartas ruins que eram praticamente mortas na sua mão e requeriam outro meio de as descartar para serem úteis, piorando significativamente o seu topdeck.
Portanto, procurei adicionar elementos que oferecessem algum valor útil além de habilidades para a principal peça da lista, e habilidades como Cycling ou Channel são exatamente onde deveríamos procurar criaturas que nunca serão cartas mortas em nossa mão — e aqui selecionei as duas keywords que considero mais relevantes para Soulflayer: Hexproof para proteção embutida que nos possibilita otimizar Stubborn Denial para coisas mais importantes e Flying para possibilitar atacar por cima do resto de muitos bloqueadores.
Striped Riverwinder oferece o Hexproof e provavelmente nunca será conjurado, funcionando basicamente como uma “cantrip” de uma mana, mas dando a Soulflayer a possibilidade de se proteger por conta própria.
Curator of Mysteries oferece o Flying e é relativamente fácil de se conjurar quando a partida se estende, onde se torna uma ameaça evasiva por conta própria e que também desencadeia o Ferocious de Stubborn Denial, sendo um dos meios de não depender do cemitério para ganhar jogos.
Às vezes, uma criatura 4/4 com Flying e Hexproof não é o suficiente, e você precisa de mais habilidades.
Considerando a proposta de que toda carta do deck precisa ser utilizável de alguma maneira, optei por incluir Nighthawk Scavenger como uma ameaça complementar da qual não nos importamos muito se morrer porque adicionará Deathtouch e Lifelink ao Soulflayer, diminuindo significativamente o clock do oponente, além de também adicionar Flying caso você não tenha um Curator of Mysteries em seu cemitério.
Por fim, as duas cópias de Tasigur funcionam como uma opção extra de ameaça com Delve que troca positivamente com várias criaturas do formato enquanto também possui um poderoso manasink de late-game, operando como uma engine de Card Advantage.
Por fim, Brazen Borrower funciona como uma interação que possibilita o bounce em qualquer permanente problemática enquanto também funciona como ameaça complementar, além de dar Flying para Soulflayer caso caia no cemitério.
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No quesito proteção e disrupção, contamos com um pacote de custo baixo para atrasar o oponente e proteger nossas criaturas, com Stubborn Denial funcionando como um Negate de uma mana que também força o oponente a respeitar a possibilidade de um Force Spike em alguma mágica importante deles, e Thoughtseize para obter informação e remover uma permanente ou mágica que seria extremamente problemática de se resolver.
Nossa lista não é o melhor arquétipo de Fatal Push do mundo e, apesar de queremos encher nosso cemitério rápido, Fabled Passage é um pouco lento demais para a nossa proposta, então optei por adicionar um set de Bloodchief’s Thirst, que funciona como um Dreadbore no Late-Game e lida com a maioria das criaturas pequenas em Sorcery-Speed nos primeiros turnos. Caso o Metagame se torne um lugar onde necessitamos de mais interações em Instant-Speed para lidar com Spirits, eu provavelmente adicionaria Fatal Push no lugar.
Dentre todas as opções de removal de custo 2 pretas no Pioneer, Infernal Grasp foi a mais atrativa porque não possui restrições e, apesar do seu dano ser prejudicial contra alguns arquétipos, acredito que o Lifelink de Nighthawk Scavenger e/ou Soulflayer e os demais removals de custo baixo compensam essa questão no Game 1 contra Mono Red, e Bloodchief’s Thirst também lida com várias criaturas problemáticas desse arquétipo.
Como card selection adicional e para agilizar o cast das criaturas com Delve, temos algumas cantrips que interagem com o cemitério, com Consider sendo uma inclusão praticamente óbvia.
Eu testei várias opções de duas manas como Tainted Indulgence, Curate e até Discovery // Dispersal, e cada uma delas possuem vantagens e desvantagens entre si — optei por Strategic Planning porque é a cantrip que nos possibilita cavar mais fundo em busca do que precisamos enquanto coloca a maior quantidade de cartas no cemitério, mas posso imaginar situações onde cada uma das outras mencionadas tenham mais utilidade.
A primeira coisa que você provavelmente se questionou é se 18 lands não é muito pouco para essa lista, e eu também pensava que seria e comecei a construí-la com 20, e poderíamos cortar algo como Brazen Borrower ou Infernal Grasp caso necessário, mas notei dois pontos que me fizeram reduzir o número de lands.
O primeiro é que nossa curva é extremamente baixa: temos 26 mágicas que virtualmente custam uma mana, 10 que custam duas e apenas seis que custam três, dentre as quais temos 16 meios de comprar cards onde oito também ajudam a filtrar o topo. Logo, é muito fácil obter mana o suficiente para jogar suas mágicas a cada turno.
O segundo é que não temos fetchlands no Pioneer, aumentando as chances de você comprar lands mesmo quando usa poucas, e você normalmente não quer passar de quatro ou cinco manas em jogo com essa lista porque é o máximo que precisa para, por exemplo, conjurar Curator of Mysteries com um Stubborn Denial de backup.
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Também recorro a algumas opções utilitárias para mitigar um possível flood, com Hive of the Eye Tyrant como uma ameaça complementar enquanto Takenuma, Abandoned Mire e Ipnu Rivulet servem para aumentar a quantia de cartas no seu cemitério.
Sideboard
Nossos piores inimigos são Rest in Peace e Unlicensed Hearse, e apesar de conseguirmos jogar em torno do artefato de New Capenna, Rest in Peace é absolutamente brutal para tudo envolvendo a nossa estratégia. Portanto, precisamos resolver esse problema rapidamente.
Um set de Duress, ao lado de Thoughtseize e Stubborn Denial, é provavelmente o suficiente para interagir nos primeiros turnos do jogo com um hate direcionado, mas também precisamos de meios de lidar o encantamento caso ele entre em jogo e, apesar de Feed the Swarm ser uma opção superior nesse quesito, ter cópias extras de Brazen Borrower permite interações melhores com o resto do formato, é uma ameaça complementar e também zera o número de cards exilados com Unlicensed Hearse — tudo isso enquanto possibilita devolver algo problemático da mão do oponente para remover com um descarte ou counterspell.
Também contamos com alguns removals extras para melhorar nosso jogo contra Aggro ou partidas de atrito, com Fatal Push para criaturas pequenas e Baleful Mastery para partidas de Midrange onde a flexibilidade de pagar uma ou quatro manas pode fazer uma grande diferença á depender do estado da partida.
Falando em partidas de atrito, Jace, Wielder of Mysteries é nossa engine de card advantage e agiliza o Delve enquanto nos garante mais cards á cada turno.
Curiosamente, o melhor jeito de lidar com o Unlicensed Hearse dos outros é com o seu próprio porque, se cada jogador possui uma cópia desse artefato no campo de batalha, se cria um sub-jogo onde um pode responder à ativação do outro exilando os mesmos cards, reduzindo o poder do Hearse do outro, fazendo uma grande diferença no longo-prazo. É claro que isso não resolve o problema do nosso cemitério ser exilado de forma recorrente, mas é um meio útil de mitigar o dano se a partida requerer hate de cemitério.
Porém, a principal função de Hearse nessa lista é de exilar coisas problemáticas do oponente, em especial Arclight Phoenix, já que possuímos poucos meios de lidar com ela permanentemente.
Disdainful Stroke está presente para as partidas de Big Mana, especialmente Mono-Green Devotion e Niv-to-Light, onde seus principais alvos serão Cavalier of Thorns, Niv-Mizzet Reborn e qualquer outra coisa que nos impeça de atacar pelo ar.
Análise do Deck
Eu testei essa lista numa liga e cheguei ao resultado de 3-2, o que é mediano, mas vagamente interessante considerando que a ideia parece meio ruim na teoria.
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Prós
A principal vantagem que percebi é a de que poucos jogadores conseguem lidar com Soulflayer e, à partir do momento onde você o conjura com pelo menos Hexproof e Flying, basta você controlar o outro lado da mesa por poucos turnos e você ganhará o jogo — algo mais fácil quando temos Nighthawk Scavenger no cemitério.
Outro ponto alto foi como Stubborn Denial é absurdo quando os oponentes não esperam por ele, mesmo sem uma criatura grande na mesa, porque ninguém respeita um Force Spike até ele acontecer e, quando respeitam, lhe dão virtualmente um “turno” para evitar conjurar uma bomba.
Além disso, você tem muitos ângulos de ataque (apesar da maioria recorrer ao cemitério) e, por se tratar de uma lista pouco conhecida, seu adversário tende a ficar confuso com a sua proposta até você conjurar Soulflayer, e situações onde você conjura um Nighthawk Scavenger só para ele comer um removal e/ou trocar com uma criatura do oponente apenas para reciclar Striped Riverwinder no turno seguinte e conjurar um Soulflayer com deathtouch, lifelink, flying e hexproof.
Falando em conjurar, qualquer mão com Strategic Planning e uma mágica/cycler de uma mana na mão inicial são uma garantia de conjurar uma das suas criaturas com Delve no turno 3, e poucos oponentes conseguem acompanhar o seu ritmo depois disso.
Contras
Como esperado, essa lista é extremamente vulnerável aos principais hates de cemitério do formato hoje, especialmente Unlicensed Hearse, já que o oponente pode responder até à habilidade de Cycling exilando o card que você acabou de descartar e, apesar de jogar em torno dele ser uma possibilidade, isso prolonga demais a partida e ele normalmente terá mais recursos do que você.
Outro problema é que as coisas ficam muito complicadas quando você compra múltiplas cópias de criaturas com Delve e poucas maneiras de encher o cemitério.
Por fim, tem momentos onde você precisa fazer muito setup para realizar poucas coisas enquanto está sendo pressionado pelo seu oponente, como numa partida contra os decks de Prowess, por exemplo.
Opções Alternativas
Uma possibilidade para esse arquétipo é aceitar que Soulflayer só é absurdo ao lado de Zetalpa, Primal Dawn e procurar interagir melhor com efeitos de looting como Tainted Indulgence e Ledger Shredder para jogá-la no cemitério — algo que, inclusive, solucionaria a questão do oponente responder com Unlicensed Hearse.
Outra possibilidade é a de simplesmente deixar de lado a ideia do Soulflayer e focar no Turbo Delve com Gurmag Angler e Otherworldly Gaze, o que também possibilitaria recorrer a Ledger Shredder, já que não a coloquei na lista acima porque oito dos meus efeitos de draw não são conjuradas.
Conclusão
Considerando todos os pontos apresentados, meu veredito final dessa versão de Soulflayer é que, hoje, esse deck tenta fazer a mesma coisa que o Esper Greasefang, mas com um payoff menos explosivo.
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Porém, isso não torna do Dimir Soulflayer menos divertido e interessante para os jogadores que procuram uma maneira de emular um Dimir-based Tempo no Pioneer, arquétipo que carece significativamente de alguma ameaça complementar menos dependente do cemitério para funcionar conforme os padrões do formato.
Por fim, o Dimir Soulflayer é uma opção viável para quem quer jogar na sua loja local com uma ideia interessante e divertida que possa roubar algumas vitórias, mas não posso recomendar a atual versão para um Qualifier ou qualquer outro grande evento enquanto não tivermos upgrades relevantes nas próximas edições.
Obrigado pela leitura!
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