Em mais uma semana, outro evento grande no formato Standard apresenta sinais importantes sobre o estado do atual Metagame do formato e a maneira como jogadores têm se adaptado.
O Izzet Cauldron, que tem donimado o Metagame competitivo do formato desde a rotação, atingiu mais uma marca nos sinais de alerta ao subir de 30% de representação no dia um do Spotlight Series: Orlando para 54% no segundo dia, um aumento de quase o dobro de representação e a segunda melhor conversão do evento inteiro entre os principais competidores.
Além disso, seis dos oito decks no Top 8 eram Izzet Cauldron, e os resultados se proliferaram também no Top 16, com dez cópias, e no Top 32, onde 21 jogadores dos 32 jogadores pilotaram Cauldron.


Esses números geram outro alerta. A essa altura, o Izzet Cauldron já se tornou o “deck-alvo” do Standard e é natural que o arquétipo mais popular tenha a maior representação no primeiro dia de evento e mantenha uma porcentagem similar ou que ela seja reduzida no segundo dia. Afinal, todos estão prontos para enfrentá-lo e a sobrevivência do deck depende do quão bem ele sobrevive às escolhas de slots de maindeck e Sideboard dos seus oponentes, e é natural que essas estratégias acabem declinando em representação, mesmo que ocupem alguns slots no Top 8.
Cauldron ficou atrás apenas de dois decks em termos de conversão para o Day 2: Mono Red Aggro e Temur Battlecrier. Ambos com amostragem significativamente menor. Mono Red Aggro também foi o único arquétipo a fazer Top 8 e o segundo mais presente nos Tops 16 e 32 do evento.
Com esses resultados, vale a pena olharmos para as decisões e mudanças que o arquétipo propôs durante o evento, visto que, dadas as circunstâncias, parece que a solução mais plausível para o atual Metagame está parcialmente nele.
Seria o Mono Red a solução para um Standard polarizado?
O motivo para o sucesso do Mono Red Aggro em um ambiente de Cauldron deve-se a mistura de elementos inerentes de um Metagame quebrado somado com a quantidade de respostas disponíveis na cor vermelha hoje: quando não existe uma solução para um deck problemático, a melhor maneira de lidar com ele tende a ser ignorá-lo e vencer mais rápido, e independentemente da versão, o Mono Red Aggro é o deck mais ágil do Standard hoje.
Essa situação não difere muito do que vimos na temporada passada antes da onda de banimentos que retirou Cori-Steel Cutter, Heartfire Hero, Monstrous Rage e Abuelo’s Awakening do formato, onde Mono Red Mice ganhou o Pro Tour Final Fantasy fazendo o mesmo que as listas atuais: sendo mais rápido e encaixando no maindeck cards que punem o arquétipo dominante.
Jogadores tentaram muitas maneiras de trabalhar o Mono Red após os banimentos, e algumas variantes sucedem mais do que outras em cada circunstância. Por exemplo, há poucas semanas, a versão Dragons com mais poder permanente na mesa e interação entre Dragões com Sarkhan, Dragon Ascendant parecia a mais eficaz para o Metagame do Standard, no entanto, o Spotlight Series aponta para outra direção: é necessário jogar rápido e fazer o possível para punir as ações do seu oponente.

Razorkin Needlehead parece a resposta ideal para Cauldron se você está jogando com um deck agressivo e cheio de alcance, como o Mono Red. Izzet é um arquétipo que capitaliza em torno da interação entre compras e descartes para colocar os cards que precisa no cemitério enquanto cresce criaturas com Proft’s Eidetic Memory, um plano essencial tanto para a execução do combo quanto para a linha de jogo mais justa — nessas circunstâncias, Needlehead se torna uma ameaça de resposta imediata porque o seu dano vai acumular com o tempo mesmo que o oponente opte por não comprar mais cards e jogar de maneira mais reativa.
Esse dano extra a cada turno transforma Burnout Bashtronaut em uma ameaça real. A habilidade de Start Your Engines! computa o dano recebido pelo jogador a cada turno, então se supormos que ele ataque no segundo turno e seja seguido de um Razorkin Needlehead, seu controlador já terá três marcadores de velocidade no terceiro turno, e uma vez que tenha atingido o Max Speed, Bashtronaut vira uma ameaça respeitável no meio do jogo por poder aumentar o próprio poder.
Dessa maneira, não apenas o Mono Red pressiona o oponente no combate, mas também coibe sua capacidade de performar muitas ações em um turno, não muito diferente do que vimos no Pro Tour Final Fantasy, onde jogadores utilizavam Magebane Lizard no maindeck com o mesmo objetivo.
A lista de Ryan Eliason adiciona uma camada extra a esses efeitos punitivos com Scalding Viper e Ojer Axonil, Deepest Might.

Scalding Viper também pune o Izzet Cauldron por performar ações constantemente, já que quase nenhum card da maioria das listas fora Quantum Riddler tem valor de mana maior do que três, e Ryan aposta em Ojer Axonil como ameaça de late-game em slots que costumam pertencer a cards como Sunspine Lynx, visto que quatro de dano para cada draw, mágica conjurada ou trigger de combate de Hired Claw e/ou trigger de dano de Screaming Nemesis se acumula rapidamente. Sem contar transformar Burst Lightning em quatro de dano por apenas .
Não existe partida ruim se você ganha no terceiro turno. As versões de Red Aggro com Leyline of Resonance perdem em consistência, mas ganham muito em velocidade, e o Metagame do Standard hoje favorece, por conta da capacidade do Izzet Cauldron de gerar absurdos de valor com a mana extra que gera, um plano de jogo visando ignorar o oponente e partir para a vitória.

Exceto pelas cópias de Dreadmaw’s Ire — na lista principalmente para emular Monstrous Rage e não por conta do hate de maindeck —, essa versão foca apenas em ter criaturas em jogo e mágicas de pump para aumentar poder e causar dano letal o mais rápido possível. Isso coloca o Izzet Cauldron na posição de defensor de maneira que nenhum outro deck do formato consegue, significando que qualquer erro de sequenciamento e/ou leitura errada das suas joadas provavelmente significará uma derrota.
Apesar de perder espaço para versões mais rápidas, o Mono Red Dragons permanece uma escolha sólida pela capacidade de explodir com turnos em que consegue sequenciar Sarkhan, Dragon Ascendant para Nova Hellkite com Warp no terceiro turno para Nova Hellkite pelo custo de cast no quarto turno utilizando a ficha criada pelo próprio Sarkhan.
O que mudou foi a necessidade de abdicar das interações menos consistentes: Magda, the Hoardmaster pavimentou caminho para Razorkin Needlehead e Taurean Mauler deixou de ser relevante conforme o Metagame afunilou, abrindo espaço para Tersa Lightshatter.
Não surpreenderia se, nas próximas semanas, vermos Ojer Axonil, Deepest Might tomar o lugar de Sunspine Lynx no maindeck pela facilidade do arquétipo de conjurar este card no terceiro turno para atacar com Hired Claw em seguida.
Enquanto o formato se manter neste status quo, está evidente que a melhor linha de frente contra Izzet Cauldron sem ser a mirror se encontra nos decks Mono Red, e existem algumas lições dele que podem ser transferidas para outros arquétipos como, por exemplo, como utilizar hates direcionados sem abdicar do plano de jogo principal.

Dois cards que poderiam ter mais atenção agora são Clarion Conqueror, que trava permanentemente Soul Cauldron e Vivi Ornitier enquanto também funciona contra Kaito, Bane of Nightmares, Elspeth, Storm Slayer e uma dúzia de outras permanentes no formato hoje.
Também pode-se extrair valor do próprio Agatha’s Soul Cauldron, que além de hate de maindeck decente, possui interações relevantes com diversos cards que interagem com marcadores +1/+1, como Pawpatch Recruit, Sentinel of the Nameless City, Ouroboroid, entre outros. A adição de Cauldron como um card interativo com seu maindeck muda a natureza da partida e torna o potencial de risco do Izzet Cauldron em performar seu “combo” consideravelmente maior.
Os números, no entanto, falam por si: independente de ter uma conversão maior, apenas sete Mono Reds fizeram Top 32 no Spotlight Series contra 21 cópias de Izzet Cauldron. Existe uma competição entre esses dois arquétipos, mas os Red Aggro se esforçam muito mais e precisam se adaptar demais para conseguir 1/3 do resultado que o Cauldron alcançou.
O que mais pode funcionar?
O Temur Battlecrier foi o outro arquétipo com taxa de conversão positiva no Day 2, apesar de com uma amostragem consideravelmente menor do que o Izzet Cauldron ou até o Mono Red. O arquétipo evoluiu para combinar Devastating Onslaught com Railway Brawler para criar, com um Onslaught com X = 2, duas cópias do card com vinte de poder e Trample/Haste (o Brawler original checa ambos, adicionando cinco marcadores +1/+1 em cada um deles, em seguida as cópias vão checar uma a outra, adicionando dez marcadores +1/+1 em cada cópia).
Essa versão segue o mesmo molde de interagir pouco e tentar ser mais rápido do que o Izzet Cauldron, mas possui um leque extenso de respostas no Sideboard para os Games 2 e 3, e apesar de ser basicamente um deck de combo, ele é tão eficaz em um plano de jogo justo quanto outros arquétipos nas partidas pós-sideboard.
Azorius Control pode ter ficado de fora do Top 8 por uma derrota contra Cauldron na última rodada, mas prova ter também as ferramentas necessárias para se adaptar a um Metagame em que existe um claro deck a ser batido e um arquétipo Aggro que se apresa dele. Se existe um pedra-papel entre Cauldron e Mono Red, talvez o Azorius Control possa assumir a função da Tesoura.
Estamos caminhando para um formato de um deck
Ainda não chegamos a níveis de Hogaak, Arisen Necropolis ou Wilderness Reclamation de urgência, mas a essa altura já está evidente que o Izzet Cauldron não tem uma solução com a atual pool de cartas do Standard e muito menos sem intervenções diretas.
O Spotlight Series evidenciou que a melhor maneira de jogar contra Izzet Cauldron é pilotando um Izzet Cauldron. Do contrário, a qualidade geral do arquétipo só pode ser combatida jogando por baixo, que por si já apresenta sinais de um Metagame problemático — quando o Eldrazi Winter ocorreu, Affinity foi o único deck não-Eldrazi a fazer Top 8 no Pro Tour Oath of the Gatewatch porque era o arquétipo mais rápido do Modern na época.
Agora, enfrentamos um dilema parecido. A melhor maneira de impedir os turnos explosivos do Cauldron é utilizando hate de cemitério no maindeck, e o hate de maindeck mais eficaz no Standard hoje é Agatha’s Soul Cauldron em um arquétipo que o utilize de forma proveitosa, e nenhuma outra estratégia hoje o usa tão bem quanto o próprio deck que ele visa combater. Se a conclusão for essa, o que veremos nas próximas semanas será um crescimento considerável do Izzet Cauldron nas próximas semanas.

Somos novamente apresentados a um dilema: o Standard precisa de uma intervenção, mas o próximo anúncio de Banidas e Restritas ocorre apenas em 24 de novembro, pouco mais de três meses da data de hoje. Durante esse período, os maiores eventos de Magic da temporada ocorrerão no formato Modern: o Pro Tour Edge of Eternities no fim de setembro e os Regional Championships da temporada atual.
Para o Standard, restam os Regional Championship Qualifiers, que ocorrem durante as próximas semanas, e a decisão de um banimento emergencial depende exclusivamente do quanto a Wizards of the Coast considera os RCQs como essencial para a integridade competitiva do jogo — a definição de se esses eventos são realmente relevantes, ou se a empresa os considera apenas como “torneios locais glorificados”.

Dada as circunstâncias da temporada pós-Modern Horizons 3, onde Nadu, Winged Wisdom estava polarizando o Metagame e apresentando um padrão de jogo pouco amigável e ainda assim a Wizards esperou meses até banir o card, acredito que os RCQs são enxergados como algo de menor importância ou, pelo menos, do qual a Wizards não acredita que interfere tanto no ecossistema competitivo.
A realidade que não podemos ignorar é de que o jogador competitivo joga o que tiver de jogar. Eles arrumam deck para tentar se classificar no Standard, no Pioneer e no Modern, e se uma temporada de RCQs ocorresse em um formato como Legacy ou Vintage, eles achariam uma maneira de conseguir um deck emprestado ou comprar um para jogar os torneios na busca pelo sonho de participar de um Pro Tour.
Enquanto o Metagame do Standard pode piorar nas próximas semanas, o máximo que pode ocorrer é destes jogadores tomarem uma decisão entre três opções: jogar com o que ganha (Izzet Cauldron) e arriscar perder muito dinheiro em novembro por conta de banimentos, jogar com o que pode ganhar do que ganha (Mono Red) e arriscar perder para o resto, ou jogar com aquilo que eles têm mais experiência e arriscar perder para os dois.
Portanto, é pouco provável que a Wizards of the Coast lance um banimento preventivo e emergencial, especialmente durante a temporada de prévias de Spider-Man. É conveniente para o produto Magic acreditar que uma nova expansão pode mudar as coisas — provavelmente não vai e o ideal seria de termos uma janela de banimentos mais assertiva que acompanhasse o pós-release das novas expansões —, e a partir do Pro Tour Edge, faltará menos tempo para a próxima atualização.
Como mencionado em outros artigos, minha crença particular é de que a Wizards não deveria fazer um banimento emergencial, e sim manter a data estipulada para 24 de novembro. Porém, essa data precisa vir com anúncios muito severos sobre mudanças na maneira de interpretar o Standard e na janela de intervenções e banimentos: se temos seis expansões sendo lançadas e entrando no Standard, espera-se que tenhamos seis janelas de Banidas e Restritas durante o ano. Se Magic está mudando a maneira como lança produtos, também deve repensar como gerencia seu cenário competitivo ao invés de esperar para ver durante três a seis meses.
É notável o receio de mexer demais no Standard e quebrar a confiança do formato novamente e o Izzet Cauldron é um deck muito caro se comparado com outros arquétipos do formato, e é aconselhável garantir que os jogadores tenham segurança de investimentos para esses casos — faz parte da junção de motivos pelo qual proponho esperar até novembro —, mas nenhum jogador de Magic é ingênuo ao ponto de não saber quando seu deck é quebrado.
Faz parte do Magic que um jogador competitivo goste de ampliar suas vantagens com a escolha de deck, mas também é injusto que ele olhe para os seus cards banidos e, depois, aja como se fosse a vítima da situação quando essa escolha envolve o arquétipo que todo mundo sabe que é um problema. Situações como Nadu, Izzet Cauldron, Hogaak ou as versões anteriores de Boros Energy diferem de outras intervenções que possuem estatísticas ou interpretaçõs mais questionáveis quando um card é banido: os números por si já apresentam o problema.
As lições a serem aprendidas
A combinação de Vivi Ornitier com Agatha’s Soul Cauldron é, provavelmente, um dos últimos resquícios da transição entre a rotação de dois anos para três anos. Os dois cards, em tese, não foram projetados para existirem no mesmo Standard e é possível avaliar que este se trata apenas de um acidente infeliz ocasionado por mudanças na estrutura do formato.

Vivi, entretanto, é um card muito forte e talvez seja o resquício de uma mudança na direção quando Final Fantasy teve o foco alterado do Modern para o Standard. Como mencionado em artigos anteriores, mana de graça sempre será um problema em Magic e é um erro que a equipe de design ainda tente flertar com esse conceito. Já foi comprovado que gerar mana rápida com pouco esforço será um problema independentemente de quantas restrições forem impostas.
Outro detalhe relevante quando falamos de design é que, enquanto é natural que o Commander seja considerado na hora de criar cards — especialmente para Universes Beyond —, as implicações delas no construído 1v1 precisam ter atenção redobrada nesses momentos e o produto em que eles entram também devem ser considerados.
Nadu, Winged Wisdom foi alterado de última hora por conta do Commander e estava no set principal de Modern Horizons 3 apesar de existir um deck preconstruído na linha de produtos da edição pronto para recebê-lo como uma lenda complementar. Vivi, enquanto poderoso e interativo com a mecânica dos Black Mages em Final Fantasy, poderia facilmente ter a mesma habilidade que Urabrask para
e
e ser um comandante interessante, ou ele poderia reter o mesmo design e ser exclusivo de um precon de Final Fantasy IX, onde as implicações competitivas dele se limitariam ao Legacy e Vintage, onde a régua do nível de poder é muito mais alta.
Se a equipe de design quer ter liberdade criativa para fazer cards mais empolgantes de Commander, então precisamos consequentemente ter um espaço em cada set — de novo, principalmente em Universes Beyond — onde esses podem entrar sem fazer tantos estragos no Standard como Vivi está fazendo porque uma determinada interação não foi considerado com ele.

Além disso, também está claro que a janela de Banidas e Restritas não acompanha a velocidade com que o Standard e outros formatos competitivos têm se resolvido. Enquanto é necessário dar um período para um cenário se resolver antes de começarem os aclamados gritos desesperados por banimentos em cada oportunidade, o período entre Julho e Novembro será muito longo, e enquanto é dever da Wizards manter a integridade do jogo e evitar banimentos emergenciais pelo bem das garantias que o card game tenta oferecer ao seu público, também é papel da empresa atualizar-se e agir conforme a própria janela de lançamentos.
Tivemos isso antes, não é difícil reproduzir uma atualização de Banidas — mesmo que com um No Changes — para cada novo lançamento de Magic que adentre ao Standard. Estamos falando de, hoje, seis anúncios de Banidas e Restritas no ano, o que não é muito se comparado com os anúncios repentinos e sem aviso que todos odiavam, mas também não coloca os cenários competitivos em um limbo durante quase meio ano.
Se o período do Cauldron fosse da rotação até o começo de Outubro, uma ou duas semanas após o lançamento de Spider-Man, talvez teríamos menos problemas em esperar até a próxima atualização de Banidas e Restritas, mesmo faltando ainda um mês para o novo set. Afinal, seria tempo suficiente para o Metagame tentar se adaptar, ver se os cards adicionados fazem alguma diferença e tomar as decisões necessárias para cada formato.
Concluindo

Pelo menos, as partidas de Izzet Cauldron são interativas e interessantes de assistir, não é mesmo?
Obrigado pela leitura!












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