Introdução
Normalmente, prefiro esperar algumas semanas antes de fazer uma análise de Metagame do Pauper após um novo lançamento ou banimentos porque existe uma janela de tempo que os jogadores precisam experimentar novas ideias antes de estabelecermos as melhores estratégias e decks conforme os Challenges e outros eventos.
Porém, Kamigawa: Neon Dynasty trouxe muitas novidades para o formato e algumas das principais inclusões já estão muito presentes nos principais decks, ao ponto de que suponho ser interessante avaliarmos como estas últimas duas semanas se desenrolaram e o quanto a nova edição afeta o Pauper.
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Para começar, vamos falar sobre uma notória ausência do Top 32 dos últimos Challenges:
O Fim da Monarquia?
Desde o lançamento de Kamigawa: Neon Dynasty nas plataformas online, tem sido notória uma relativa ausência de uma das principais mecânicas que predominavam no Pauper desde o lançamento de Commander Legends: o Monarca.
Desde que o Monarca chegou ao Pauper, seu impacto foi notório para o Metagame, com o surgimento de diversos decks focados na mecânica e em reter o status de monarca através de efeitos de prevenção de dano, como Prismatic Strands ou controle de mesa, como Pestilence ou Crypt Rats.
Mas, por conta da eficiência em mana existente no formato na época, com mágicas como Daze e Gush ainda sendo válidas e amplamente utilizadas e arquétipos como o Stompy tentando jogar por baixo, havia uma concessão a ser feita ao conjurar Palace Sentinels ou Thorn of the Black Rose, pois nem sempre seria possível manter o Monarca com tanta tranquilidade.
Com o passar dos anos, o Pauper mudou e sua estrutura se tornou voltado para jogos de atrito e constante troca de recursos, promovendo estratégias que fossem para jogos mais longos, como Midranges, enquanto os Aggros sofriam significativamente por não conseguir interagir bem com soft-locks como o do Tron e outros fog effects, e arquétipos que antes não recorriam à mecânica passaram a adotá-la, como o Faeries, e o Pauper essencialmente tornou-se um lugar onde, num estado equilibrado, o Metagame era essencialmente Faeries x Monarch x Big Mana, e o espaço para estratégias ágeis e não-interativas diminuía a cada mês.
Porém, após uma série de desbalanceamentos no cenário competitivo por conta do lançamento de cards que quebraram o formato (e eu ainda não posso afirmar plenamente que o Metagame hoje se encontra estável), o Pauper parece finalmente estar abrindo espaço para que arquétipos rápidos possam ter o seu espaço, e faz algum tempo que vemos um interessante decréscimo de listas recorrendo ao Monarca para obter card advantage e escolhendo meios alternativos mais eficientes em custo ou interação, criando mudanças que fazem com que a mecânica não mais seja obrigatória para a maioria dos decks.
Isso não significa que o Monarca desapareceu de vez, ainda vemos arquétipos como Boros Bully ou Dimir Faeries fazendo bons resultados, mas não existir a necessidade de precisar jogar com Palace Sentinels ou Thorn of the Black Rose para manter-se a par do formato sem também a necessidade de estar jogando de Affinity é um bom sinal e abre mais espaço para a diversidade.
Mas os verdadeiros culpados dessa brusca mudança encontram-se especificamente no novo lançamento:
Neon Dynasty trouxe velocidade ao Pauper
O quão relevante é uma mana numa partida de Magic? Para muitos, muita coisa, e Experimental Synthesizer é a prova fundamental disso, tornando-se uma staple não apenas do Affinity, mas também de diversas outras estratégias, incluindo uma muito conhecida pela comunidade antes do advento do Monarca:
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O Kuldotha Boros e suas variantes ressurgiram no Pauper com Neon Dynasty, graças à inclusão de um artefato que interage incrivelmente bem com o plano proposto por cards como Glint Hawk ou Kor Skyfisher, que até então pareciam terem se tornado obsoleto perante outros meios de se obter card advantage.
Por custar apenas uma mana, Experimental Synthesizer se torna a próxima boa engine de valor do Pauper, e provavelmente é a adição mais impactante do novo set para o formato, e suas interações com Kuldotha Rebirth ou até mesmo Seeker of the Way abrem espaço para variantes de Boros que apostam em eficiência de mana e velocidade ao invés de propor o jogo longo com Palace Sentinels e Prismatic Strands.
O retorno do Kuldotha Boros também é consequência da ascensão do Mono Blue Faeries após o lançamento de Moon-Circuit Hacker, que ofereceu aos jogadores um motivo para procurar jogar com versões mais orientadas de Tempo, apostando na significativa pressão estabelecida contra o oponente pelo novo ninja nos primeiros turnos, enquanto oferece ao seu controlador mais um meio eficiente de reaproveitar efeitos de ETB.
Dado os resultados mais recentes, não creio que o Mono Blue Faeries tenha recebido o suficiente para se manter no cenário competitivo por muito tempo, e logo os jogadores retornarão para as variantes Dimir e Izzet e, enquanto creio que as versões Izzet podem buscar meios alternativos de Card Advantage para se manter a par da velocidade do formato, as versões Dimir são o melhor deck de Monarca do Pauper atualmente por conta da sua composição que conta tanto com free spells como Snuff Out para controlar a mesa no turno em que Thorn of the Black Rose entra em jogo, quanto por utilizar melhor os recursos proativos para estabelecer uma vantagem na mesa.
Dimir também oferece melhores respostas para algumas das frequentes ocasiões do Metagame atual, como Suffocating Fumes para lidar com tokens sem necessariamente abdicar de outras utilidades, ou Chainer’s Edict para lidar com Bogles, que tem ressurgido nos Challenges, e boas remoções para as criaturas do Affinity, apesar de carecer de respostas mais eficientes para artefatos (o que, honestamente, não me parece tão relevante quando a atual shell do Affinity é praticamente recompensada por ter seus artefatos destruídos).
Inclusive...
Affinity ainda está ditando o formato
Observando os resultados das últimas semanas, é inegável que Affinity ainda é o melhor deck do formato por uma margem relevante, porém bem menos discrepante do que anterior ao banimento de Atog e Prophetic Prism, e Neon Dynasty não trouxe muitos meios de combater tamanha ameaça. Pelo contrário:
Não apenas Experimental Synthesizer é o Ichor Wellspring 5 – 8, sendo um alvo perfeito para Makeshift Munitions, Krark-Clan Shaman e Deadly Dispute (que tem sido recentemente comparado a Ancestral Recall pela comunidade no Twitter), como também trouxe Reckoner’s Bargain para aumentar a consistência dos “draw 2” das versões Rakdos do arquétipo, essencialmente tomando o espaço que antes pertencia ao Grixis Affinity, já que Thoughtcast se tornou redundante para a maioria das listas.
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Num Metagame onde muitos arquétipos estão tentando ganhar o jogo através de dano rápido e pequenas criaturas atacando voando (já que ainda é relativamente bem difícil combater o Affinity no chão), conjurar Reckoner’s Bargain sacrificando Myr Enforcer, Frogmite ou Gurmag Angler não apenas oferece ao seu controlador dois novos recursos em sua mão, como também serve como um pseudo-Time Walk, já que 4 a 7 de vida é, muitas vezes, mais dano do que um deck como Faeries normalmente consegue causar com suas criaturas em um único turno.
Possuindo ainda o suporte das Duais Artefato, Deadly Dispute e das incontáveis interações quase parasíticas entre seus cards, o Affinity é inegavelmente a força que move o Metagame atualmente e define como listas são construídas e partidas são jogadas, forçando naturalmente uma mudança para posturas mais agressivas, já que arquétipos mais reativos que procuram acumular card advantage dificilmente conseguirão o acompanhar nesse quesito porque enquanto você compra dois cards por turno com o Monarca, seu oponente possui uma posição de mesa superior à sua e meios de comprar ou exilar três ou mais cards por turno com pouco, ou até mesmo nenhum esforço.
O que nos leva à questão: O Affinity ainda está quebrado?
Particularmente, considero muito cedo para fazer essa afirmação, mas todos os indícios apontam para que uma manabase perfeita somada à quantia absurda de draws o coloca a frente do resto do formato.
Isso significa que o banimento do Atog foi errado? Nem um pouco.
Como já mencionei em outras ocasiões, Atog + Fling nunca foi justo, mas aceitávamos sua existência no formato porque haviam diversas concessões de consistência, manabase, respostas eficientes e outros fatores que tornavam deste combo-kill uma condição justa para um arquétipo que apostava tão alto em diversos ângulos.
Hoje, o Affinity possui uma manabase quase perfeita e a melhor engine de draw que o formato tem a oferecer, e definitivamente não precisa de um Splinter Twin para se manter competitivo — mesmo se banissem Deadly Dispute e as Duais Artefato, apesar de que, nessa segunda ocasião, provavelmente voltaria ao status de Tier 2 ou cairia para o Tier 3 já que também não pode mais contar com Prophetic Prism e provavelmente se tornaria inconsistente demais.
O que devemos fazer sobre esse arquétipo então? É provável que precisaremos de mais uma rodada de banimentos caso os resultados dele estejam realmente discrepantes para com o resto do formato e, nesse caso, é muito provável que Deadly Dispute tenha de partir por oferecer muito valor por um custo muito baixo e pelas suas interações absurdamente poderosas com Ichor Wellspring e Experimental Synthesizer, mas ainda precisamos passar da fase de observação (que, para mim, dura entre um mês e 45 dias após um novo lançamento e/ou banimento, sendo o tempo médio que um formato costuma demorar para se adaptar a mudanças bruscas).
Outro card que considero ser necessário ficar de olho atualmente é Experimental Synthesizer, porque, tal como Deadly Dispute, o novo artefato faz muita coisa por muito pouca mana ou, mais especificamente, não é de todo errado afirmar que Experimental Synthesizer é metade de um Arcum’s Astrolabe sem o upside de consertar seus requerimentos de cores e entrar em qualquer deck, apesar de também não possuir um custo tão restritivo ao ponto de não ser habilitado por splashes.
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Mas como, no momento, a maior novidade de Kamigawa está também habilitando e trazendo de volta muitos arquétipos que estavam esquecidos pelos jogadores e, por enquanto, isso é motivo o suficiente para dar muito mais tempo para sua permanência no Pauper.
Decks Não-Interativos estão voltando
Seja pela ausência dos Monarch-Based Decks, ou porque é muito difícil jogar o “fair game” contra o Affinity, as últimas duas semanas tiveram uma significativa presença de arquétipos não-interativos no Top 8 dos Challenges.
O Storm não apenas ganhou o Pauper Challenge de domingo, como teve quatro colocações no Top 32 de ambos os eventos deste fim de semana, e tem começado a dar sinais de um retorno mesmo sem uma carta com Storm que ganha o jogo diretamente, mas contando com uma que ganha virtualmente no turno seguinte.
Visto que você inicia a sua sequência de mágicas, seja com ou sem Kessig Flamebreather em jogo, um Galvanic Relay conjurado ao fim do processo essencialmente garante que você poderá continuar a sequência de Storm no turno seguinte sem muita preocupação, já que você normalmente exilará 10+ cards com ele, sendo mais que o suficiente para garantir um looping de Storm em turnos distintos, e o jogador ainda pode reembaralhar os cards mais importantes na lista com Feldon’s Cane para repetir as mesmas jogadas por diversos turnos seguidos.
O refinamento do Storm até chegar à atual lista levou bastante tempo e demandou a dedicação infindável de seus entusiastas e é possível que se torne mais um dentre os principais competidores no Pauper.
Bogles também tem ressurgido no Metagame ao tirar proveito da ausência de efeitos de Édito enquanto se apresa naturalmente de Boros e consegue se portar bem contra Affinity e Storm caso consiga tornar uma de suas criaturas gigantescas rápido o suficiente para serem maiores que Myr Enforcer e, preferencialmente, com Armadillo Cloak.
Uma lista de Stompy venceu o Pauper Challenge de sábado, mas dado a ausência de outras listas no Top 32 dos últimos eventos, não creio que possamos realmente considerar esse resultado como um retorno fatídico, mas uma anomalia, como ocorre com outros arquétipos em outros eventos ocasionalmente.
Acredito que a tendência de ascensão de estratégias não-interativas pode continuar nas próximas semanas, enquanto os jogadores permanecerem focados em atacar com pequenas criaturas voadoras e avançar o jogo rapidamente, ou enquanto o Affinity permanecer como melhor deck do formato, mas eventualmente, o Metagame terá de se adaptar, e isso provavelmente trará de volta algumas categorias de Midrange.
Conclusão
Particularmente, gosto de observar como Experimental Synthesizer impacta o formato, e inclusive colaborando para que alguns arquétipos possam se afastar da mecânica de Monarca e possam aproveitar estratégias mais proativas, enquanto o formato nitidamente está caminhando para um cenário onde a agilidade importa tanto quanto os recursos, abrindo espaço para arquétipos como Bogles e Stompy, enquanto a falta de interação torna do Storm uma estratégia muito mais viável.
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No entanto, eu ficaria de olho no Affinity nas próximas semanas, visto que ele continua sendo o nítido melhor deck do formato, e as inclusões de Kamigawa apenas colaboraram para que ele se tornasse mais forte do que já era, mas ainda parece cedo demais para nos movimentarmos com relação a isso e solicitarmos alguma ação por parte do Pauper Format Panel, mesmo sendo muito improvável que essa situação mude nos próximos trinta dias sem uma intervenção direta.
Por enquanto, vamos aproveitar o formato, pois faz muito tempo que o Pauper não recebe algum frescor de “rotatividade” graças a um novo lançamento.
Obrigado pela leitura!
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