Magic: the Gathering

Competitivo

Pauper: 3 Lições que o formato me ensinou

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Neste artigo, apresento três pontos sobre o Magic competitivo e deckbuilding que se destacam no Pauper, e o que eles ensinam sobre o jogo e o formato.

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revisado por Tabata Marques

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Magic é um jogo complexo, todo mundo sabe disso.

Existem inúmeras estratégias, termologias, métodos para avaliar cartas, para construir decks, dentre uma série de outras circunstâncias que tornam do jogo um universo próprio quase intangível para quem não está acostumado — e se você se aprofundar ainda mais, descobrirá que existem inúmeros métodos para cada uma dessas situações para cada formato competitivo ou ambiente de jogo: há lições que alguns formatos nos ensinam melhor do que outros.

Comecei a jogar Pauper em 2014, e desde então o formato mudou tanto que alguns dos elementos-chave que o definiram foram ressignificados com o passar dos anos. Porém, foi através dele que aprendi algumas lições importantes sobre como construir um deck, ou como analisar um Metagame, etc.

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Portanto, hoje estou trazendo, de maneira objetiva e esperançosamente simplificada, três lições que o Pauper me ensinou e que influenciam em algumas das minhas escolhas no cenário competitivo.

Ressalto que nenhuma delas é um elemento exclusivos do formato, mas são elementos que tendem a fazer parte fundamental da sua estrutura desde a sua concepção e, logo, são bem mais notórias quando se trata dele do que de outros formatos competitivos.

1 - Valorize a interação entre cartas acima do poder individual

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O Pauper ainda é, naturalmente, um formato com uma disponibilidade de bombas significativamente inferior aos demais formatos competitivos. Na verdade, isso só mudou com o lançamento de Boarding Party e Annoyed Altisaur em Commander Legends já que, anterior a isso, nossas bombas de late-game eram, na melhor das hipóteses, Mulldrifter ou Gray Merchant of Asphodel.

Então, por muito tempo, o Pauper precisou contar menos com cartas capazes de impactar a partida em níveis estratosféricos e mais em como pequenas interações entre suas cartas realmente funcionam. E até hoje, a maioria das estratégias disponíveis no formato se valem da ideia de que as sinergias entre suas mágicas é mais importante do que o impacto imediato de uma única bomba.

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Suponho que o melhor exemplo disso é Kor Skyfisher: ela é uma carta ruim para qualquer padrão de formato competitivo que você queira, e viu pouco jogo durante o seu tempo de validade no Standard. Seu principal propósito quando criada era de dar bounce em lands para desencadear o Landfall novamente.

No entanto, ela é uma das criaturas mais importantes da história do Pauper porque interage com qualquer efeito de entrar ou sair do jogo — elemento pelo qual o formato é pautado há anos — e a sua presença na estratégia que ficou conhecida como Kuldotha Boros basicamente mudou a maneira como enxergávamos os efeitos de ETB no formato.

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Outro exemplo notório disso é a engine de card advantage do Faeries com Ninja of the Deep Hours. A estratégia de "Fae + Ninjas" já era conhecida no Legacy fazia anos, porém nunca chegou a ser relevante em nenhum cenário competitivo, mas encontrou seu espaço no Pauper e, mesmo após uma década, ainda é um dos principais decks competitivos do formato.

Isso acontece, primeiramente, porque Spellstutter Sprite é poderosíssima na shell de Faeries e decente por conta própria — como já mencionei várias vezes, ela no mínimo é um pseudo-Snapcaster Mage pra Mental Misstep — e uma base de Tempo com menos jogadas impactantes vindo do outro lado da mesa possibilitou a uma carta pouco impressionante para os padrões gerais do jogo, como Ninja of the Deep Hours, se tornar um dos pilares do que significa ter card advantage no Pauper, mesmo diante de mecânicas ainda mais poderosas como o Monarca ou o agora banido Bonder's Ornament, e ficou ainda melhor conforme fadas mais eficientes foram surgindo nos anos posteriores.

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Se olharmos o formato como um todo, o Pauper até hoje ainda é totalmente voltado para a combinação de cartas se sobrepondo ao poder individual delas, do Familiars ao Boros Bully, do Moggwarts ao Elves, etc.

Isso não significa que esse elemento seja exclusivo do formato, mas é através dele que passamos a valorizar e ser mais meticulosos com como as cartas do nosso deck interagem entre si, ao invés de apenas tentar sequenciar as melhores cartas do formato, uma atrás de outra.

2 - Se você não tem a resposta que quer, encontre outro meio de lidar com o problema

Atualmente, esse problema foi majoritariamente mitigado, mas o Pauper tem um longo histórico de não ter as respostas apropriadas para determinadas situações.

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Acredito que o melhor exemplo disso sempre foram os sweepers, especialmente quando Burning-Tree Emissary foi lançada em Modern Masters 2017 e alavancou o Stompy e outras estratégias go-wide como o Red Deck Wins para o topo do formato, possibilitando recorrentes vitórias rápidas contra arquétipos que necessitavam de um setup antes de funcionar — ou seja, basicamente todos os Top Tiers do Pauper naquela época.

Logo, o formato precisou se adaptar e isso, convenientemente, veio somado a três outros elementos muito importantes para a história do formato: a chegada da mecânica de Monarca e de Ash Barrens, além da readaptação do Tron para a versão Control.

Tanto o Monarch quanto uma estratégia que visava levar o jogo até a inevitabilidade do late-game tinham que se preocupar ativamente com o oponente encher a mesa de criaturas e impossibilitar o acúmulo de card advantage do outro lado, e se Fiery Cannonade já existisse no Pauper nessa época, acho duvidoso que teríamos visto essas estratégias adotarem outra proposta: a de impedir o combate.

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O famoso "fog lock" permitia às estratégias de Monarch ganhar mais turnos para estabelecer sua mesa e pressionar o oponente enquanto podia salvar os removals para quando realmente importava — e isso eventualmente levou à criação do Boros Bully — enquanto o Tron não precisava se preocupar tanto em receber dano, ele só precisava garantir ter turnos o suficiente para conjurar um Rolling Thunder para dano letal ou criar loops com Dinrova Horror e Ghostly Flicker por vezes o suficiente para lockar o oponente pra fora da partida.

Essas interações foram se refinando com os anos, enquanto outras foram se popularizando, como Pestilence + Guardian of the Guildpact, até o ponto onde o primeiro sweeper de três manas do formato foi lançado e, consequentemente, mudou toda a estrutura do Metagame ao ponto de invalidar arquétipos mais agressivos por muito tempo e fazer o formato se pautar quase exclusivamente em Card Advantage.

Porém, os anos que passamos tentando jogar em torno de Burning-Tree Emissary e qualquer estratégia que populava a mesa com criaturas maiores do que um Electrickery podia matar ajudou significativamente a moldar a história do Pauper e o formato como o conhecemos hoje, nos ensinando a preciosa lição de aprendermos a lidar com as situações com base no que temos disponível, muitas vezes forçando-nos a explorar circunstâncias menos óbvias, onde nem tudo é tão fácil de resolver como um Dust to Dust supostamente resolve o problema do Affinity por exilar duas lands com uma única carta.

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Nesse sentido, o formato nos mostrou como compreender o jogo que estamos jogando e como os decks se portam ao decorrer de uma partida faz diferença na hora de definir "o que eu preciso para vencer". Você pode até não ter um sweeper para lidar com um exército de criaturas 2/2 ou maior, mas você pode ter meios de forçar o oponente a seguir o seu ritmo, ao invés do contrário.

3 - Uma manabase lenta pode ser mitigada com mágicas baratas

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A manabase do Pauper para listas com mais de uma cor nunca foi exemplar, e no que concerne à velocidade, eu ainda acredito que ela não é boa — e talvez nem precise ser, já que lands viradas são parte inerente da natureza do formato, e o único ponto de melhoria nesse caso é a da expansão de disponibilidade de cores que vem ocorrendo com os Gates e Thriving Lands.

Pela óbvia troca de velocidade por consistência em recorrer a duas ou mais cores na sua lista para ampliar a quantidade de ameaças e respostas que você possui, o Pauper por muitos anos foi pautado entre escolher jogar rápido e se apresar dos arquétipos mais lentos, ou desacelerar seu ritmo de jogo e receber em troca opções mais variadas para diversas situações.

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Porém, isso também significa adaptar as suas cartas para mitigar esse estrago, e o Pauper demonstra com excelência como o fazer porque não há outro jeito de jogar em torno disso se não usando mágicas mais baratas, da qual o formato tem em abundância com Lightning Bolt e similares no vermelho, ou Snuff Out e Disfigure no preto, etc.

A consequência direta dessa conclusão é que sua engine também precisa ser barata. A maioria das permanentes que compõem um Midrange no Pauper hoje custam uma ou duas manas, ou possuem alguma interação específica que os permite jogar mágicas de um custo mais alto por um valor de mana mais baixo, ou até mesmo de graça, como ocorre na interação entre Faithless Looting e Prismatic Strands.

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No entanto, com os anos, o Pauper foi ficando menos voltado para a disputa entre "Velocidade contra Valor", especialmente no mundo pós-Commander Legends e ainda mais no formato contemporâneo, aonde partidas são majoritariamente decididas entre quem acumula mais recursos e estabelece a melhor posição de mesa — mas Monastery Swiftspear fez com que o debate referente à velocidade como uma estratégia útil contra engines de card advantage voltasse à tona, e novamente constatamos arquétipos como Boros Bully diminuindo sua curva de mana para conseguir segurar os turnos mais explosivos do Mono Red Blitz.

Dito isso, em um mundo onde duais mais rápidas são inexistentes, o Pauper ensina aos jogadores como pilotar seus decks em torno de lands viradas sem perder a oportunidade de tirar o máximo de proveito das suas mágicas e mitigando a possibilidade de sofrer um pseudo-Time Walk nos primeiros quatro turnos de uma partida por conta de um requerimento de custos mais altos do que o desejado.

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Conclusão

Isso é tudo por hoje.

Há várias outras lições que aprendi majoritariamente com o Pauper, assim como outras que foram aplicadas de forma mais proeminente em outros formatos. Possivelmente, em outro artigo, trarei uma análise mais profunda sobre como esses elementos se mesclam nos mais variados formatos e como eles ajudam a estabelecer uma compreensão mais ampla do jogo.

Obrigado pela leitura!