Creio que nenhum deck do Pauper esteja tão conectado ao imaginário coletivo da comunidade brasileira como o Mono-Black, principalmente porque, por muitos anos, ele foi a melhor opção de Midrange ou “deck equilibrado” do formato, que conseguia tecnicamente ter uma winrate boa contra a maioria do Metagame.
Porém, com os anos (e com a introdução de mecânicas e engines cada vez mais poderosas), listas monocoloridas de Midrange foram tornando-se obsoletas e abrindo espaço para arquétipos de duas ou mais cores, como o Boros Monarch, Orzhov Pestilence, Jeskai Ephemerate ou os recentes decks de Rakdos Metalcraft, todos oferecendo maior versatilidade com suas cores adicionais, além de estilos de jogos muito distintos que costumam não ser tão amplamente dominados e compreendidos como o Mono-Black é.
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Eu não tenho tanta certeza sobre um cenário como o do Magic Online, mas, no cenário nacional, é muito comum que a maioria dos jogadores mais experientes do formato já possuam uma ampla compreensão natural dos sequenciamentos que este arquétipo possui, e dos seus in e outs.
Tal como jogadores que se especializaram nele também possuem um conhecimento gigantesco de como pilotar e qual postura tomar nas mais diversas partidas, inclusive com alguns detalhes que não costumam ser tão populares entre os outros jogadores (por exemplo, como era mais importante estar na draw do que na play na Mirror Match porque a sua postura reativa recompensava contra qualquer jogador que o pilotasse de forma sequenciada, porque você sempre teria remoção para as criaturas dele, e o seu Monarch cairia no campo de batalha após o do oponente, além disso, efetivamente reduzir o valor gerado por um Gray Merchant of Asphodel nos primeiros turnos).
Mas os tempos mudaram, e a pergunta que fica para muitos jogadores atualmente é se vale a pena jogar de Mono-Black no Pauper atualmente.
Bom, para o jogador medvedev, valeu tanto a pena à ponto dele ganhar o Pauper Super Qualifier com uma lista de Mono-Black Devotion!
A Decklist
O plano de jogo dessa lista é bem prático: remova as criaturas que seu oponente jogar enquanto suas criaturas oferecem meios de obter card advantage ou alguma vantagem na mesa através de removal recorrente, como é o caso de Cuombajj Witches.
Atualmente, quando você constrói uma lista de Mono-Black, você precisa considerar quais são as matchups que você quer vencer e quais aceita perder, pois não há como focar integralmente em todos os jogos mesmo quando removals ainda são uma das melhores respostas universais que o formato oferece.
No caso da lista acima, o foco é claramente o de jogar bem contra duas categorias de decks: Os que populam a mesa com criaturas pequenas (Faeries, Boros Bully, Elves) com Suffocating Fumes e Cuombajj Witches, e os que procuram realizar constantes trocas de 1-por-1 e utilizam poucas, mas pontuais ameaças (Monarch, Cascade) com Chainer’s Edict e Snuff Out.
Outro ponto dessa seleção de respostas é que, tecnicamente, ambas as categorias de resposta complementam-se muito bem em várias ocasiões, como Suffocating Fumes removendo criaturas pequenas para que Chainer’s Edict possa remover as criaturas maiores, enquanto Defile funciona bem como uma resposta barata e eficiente para muitas ameaças no Early-Game, abrindo espaço para que ambos os removals acima possam tornar-se mais devastadores quando utilizados no timing certo.
Dentre as estratégias que a lista parece abdicar de responder de forma tão igualmente eficiente, ficam arquétipos que conseguem jogar múltiplas criaturas grandes em um único turno, como Affinity ou Stompy, além de decks que possuem muitas maneiras de recuperar seus recursos durante a partida e extrair muito valor conforme o jogo se estende, como Familiars ou Jeskai Ephemerate.
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No final das contas, observo a seleção de cards utilizados para este evento como um ótimo Meta Call de um jogador que esperava uma alta presença de arquétipos como Faeries e outros Midranges.
Mono-Black Control ou Mono-Black Devotion?
Eu sempre achei estranho chamar este deck de Mono Black Control, porque ele é um Midrange que tenta tirar proveito da mecânica de Devotion com cards naturalmente bons para sequenciar com Gray Merchant of Asphodel e causar uma quantidade expansiva de dano.
No entanto, o nome Control, na verdade, é uma herança de outros tempos do Pauper, antes do lançamento de Theros, e ainda nos primórdios do formato onde o Mono-Black Control era um dos principais decks do Metagame e um dos primeiros do qual os jogadores consideraram predominante a ponto de pedir o banimento de Crypt Rats, por ser “muito eficiente como um sweeper num formato majoritariamente formado por criaturas”.
No entanto, este banimento nunca ocorreu e o formato adaptou-se com a elaboração de estratégias que se aproveitassem das claras fraquezas que o arquétipo possuía, levando ao nascimento de decks como o Goblins, que mitigava as trocas de 1-por-1 do oponente ao fazer com que tudo o que ficasse na mesa fosse uma ameaça em potencial com Goblin Sledder, enquanto nenhuma delas se mostrava exclusivamente relevante ao ponto de que não poderia ser substituído por dois outros no turno seguinte.
Os anos passaram e os decks evoluíram: enquanto o Goblins na sua versão mais popular hoje é essencialmente um Combo, o Mono-Black adotou uma postura mais voltada para o Midrange, procurando responder às ameaças do oponente, mas também abrindo espaço para estabelecer sua própria pressão com criaturas que oferecem efeitos de 2-por-1 úteis e acumular Card Advantage com Thorn of the Black Rose.
No final das contas, eu prefiro chamar esta lista de Mono-Black Devotion porque é basicamente o que esse arquétipo se propõe a fazer e, porque nada impede que versões mais voltadas para o controle surjam posteriormente, e é benéfico termos como diferenciá-las, mas não faz diferença prática alguma chamá-lo de Mono-Black Control devido ao longo histórico que possui no formato.
Maindeck
Apesar de muitos jogadores já conhecerem bem as escolhas utilizadas pelo Mono-Black, suponho que seja um momento oportuno para revisarmos os critérios de cada um dos cards do arquétipo, dado que é muito comum que os jogadores se empolguem com novos cards que surgem em cada novo lançamento como uma nova possível opção.
Além disso, também estarei mencionando algumas opções ocasionais que podem surgir nos slots destes drops para um melhor entendimento de onde eles costumam se encaixar.
Começando pelo principal two-drop que o arquétipo já teve desde que adotou a versão Devotion, Cuombajj Witches adiciona dois pontos de devoção enquanto seu corpo 1/3 é muito útil para bloquear criaturas em qualquer estágio do jogo, enquanto sua habilidade de causar 1 de dano a qualquer alvo permite manter a mesa de decks com criaturas pequenas, como Faeries, sob controle, enquanto os removals podem ser utilizados contra alvos mais importantes.
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Outras opções neste slot costumam ser Dusk Legion Zealot, quando o formato encontra-se num estado onde criaturas com 1 de resistência não são tão relevantes e precisamos de mais recursos em partidas de Midrange, além de Dauthi Slayer quando o formato encontra-se em um estado não-interativo, onde sua melhor opção é procurar acelerar o clock.
Outra criatura não amplamente utilizada, mas que já utilizei em momentos onde o formato carece de interação é Wicked Akuba, por ser um mana sink absurdamente poderoso, mas que é condicionado a só prevalecer quando a posição de mesa não é tão relevante no formato, o que é uma situação raríssima no Pauper.
Os principais efeitos de 2-por-1 encontram-se nos seus slots de three-drops.
Phyrexian Rager já viveu dias melhores como uma criatura que troca igualitariamente com outras, mas ainda é a melhor opção que o arquétipo possui para uma criatura que consegue bloquear bem outras criaturas, trocando igualitariamente com qualquer uma X/2 no campo de batalha.
Chittering Rats está na lista por adicionar dois pontos de devoção, enquanto sua habilidade pode ser significativamente devastadora contra qualquer oponente que tenha mantido uma mão duvidosa e necessite de um recurso específico como um land drop adicional para prosseguir com o seu jogo.
Além disso, Chittering Rats é potencializado quando você se encontra à frente na partida, já que um draw inútil ou ruim do oponente poderá ser severamente punido com um pseudo-Time Walk enquanto você acumula mais recursos e/ou aumenta o clock estabelecido na mesa.
Essas criaturas são as melhores em seus respectivos slots, mas as mudanças no Metagame podem levar a ocasiões onde cards como Liliana’s Specter torna-se mais relevante do que Chittering Rats por remover um recurso do oponente e adicionar um corpo com Flying, mas não se trata de uma ocasião recorrente.
Estes cards são parte essencial da lista e não há alternativas para eles, especialmente porque são as últimas coisas que o oponente quer lhe ver jogar quando você está à frente na partida.
Thorn of the Black Rose é a peça central de Card Advantage do Mono-Black, e o sequenciamento de removal no turno 2 e 3, ou removal no turno 2 e criatura no turno 3, seguidos de se tornar o Monarca no turno 4 pode estabelecer uma vantagem significativa da qual o oponente pode encontrar sérias dificuldades em superar se não jogar em volta.
Já Gray Merchant of Asphodel é o que permite ao arquétipo as jogadas mais explosivas em total de vida, e comumente o primeiro Gray Merchant conjurado será feito para estabilizar o jogo e recuperar o dano causado pelo oponente, enquanto cópias subsequentes o deixarão cada vez mais atrás na partida.
Além disso, um corpo 2/4 ainda consegue atacar e bloquear bem no atual cenário contra algumas criaturas, apesar de existirem criaturas muito mais eficientes para este propósito em outros arquétipos.
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Falando nisso, outros cards que costumam ocupar os slots mais altos incluem Gurmag Angler e Bone Picker como ameaças de poder alto ou evasão que podem ser conjurados por um custo baixo, mas que não oferecem nenhum valor adicional, além também de Crypt Rats como uma ameaça e sweeper, mas que não parece encaixar-se tão bem numa lista que já utiliza quatro cópias de Suffocating Fumes.
Sign in Blood é uma staple clássica do Mono Black e um dos melhores efeitos de draw fora do Azul por muitos anos.
Hoje em dia, o vermelho tem Reckless Impulse, o preto tem Deadly Dispute, e assim por diante, mas Sign in Blood ainda é a melhor opção para o Mono-Black Devotion comprar mais cards por um baixo custo de mana.
Algumas listas também utilizam Read the Bones quando o formato torna-se mais orientado para partidas de grind, onde o Scry 2 torna-se infinitamente mais relevante na hora de comprar melhor do que outros Midranges, mas esta não é a atual situação Pauper.
A interação de mesa inclui cards padrões de qualquer lista deste arquétipo.
Defile substituiu Disfigure como o principal removal de custo 1 desde o seu lançamento em Modern Horizons, já que ele oferece a capacidade de lidar com praticamente qualquer criatura por uma mana conforme o jogo se estende numa lista que não possui problemas em aumentar o número de Pântanos ao decorrer da partida.
Chainer’s Edict é um poderoso efeito de 2-por-1 que é muito útil não apenas contra decks com proteções e Hexproof, mas também para lidar com criaturas individuais em partidas contra Midrange e Control.
Acredito que esses são os melhores cards em suas respectivas categorias, mas devo fazer uma menção honrosa a outra staple preta do Pauper atualmente, Cast Down, capaz de lidar com qualquer criatura por apenas duas manas.
No entanto, suponho que o plano desta lista e quais arquétipos ele pretende lidar fizeram com que o jogador abdicasse do uso de Cast Down em prol de respostas mais eficientes em mana e/ou alvos válidos e utilidade a longo prazo.
O que nos leva ao Metacall, com a inclusão de quatro cópias de Suffocating Fumes para lidar com criaturas pequenas, enquanto o “sweeper” também serve como um draw adicional em partidas onde seu efeito não é tão relevante, dando um total de dezesseis efeitos que compram cards ao decorrer da partida, o que é muito importante visto que um dos principais problemas do Mono-Black é que, apesar dele comprar muito, ele tende a comprar mal a longo prazo por não obter bons efeitos de manipulação de topo, e “mitigar” isso com mais draws é uma boa opção.
Snuff Out é um dos melhores removals do Pauper atualmente (e uma significativa vantagem que o Mono Black Devotion possui é justamente a de “anular” o Snuff Out de seus oponentes), por oferecer a capacidade de lidar com praticamente qualquer criatura pelo baixo investimento de 4 de vida, tornando-se essencial para lidar com diversas situações importantes na partida, como manter a paridade contra listas que conseguem jogar múltiplas criaturas num turno, ou que tentam proteger uma de suas ameaças com algum efeito como um Counterspell ou Vines of Vastwood, dentre outras diversas opções que justificam o seu uso numa lista que também não terá problemas em conjurá-lo pelo seu custo de mana no Late-Game.
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Existem inúmeras cartas que podem ser utilizadas como Meta Call e torna-se impossível falar de todas elas, mas algumas menções honrosas incluem Duress em Metagames menos voltado para criaturas, Echoing Decay para lidar com tokens, e Memory Leak como um card que particularmente já utilizei bastante pelo mero fato de ser um Cycling de custo 1 com efeitos adicionais em contra Midrange e Control.
Além dos Pântanos, o deck também conta com o suporte de quatro Witch’s Cottage para recorrer às suas criaturas no Late-Game, ajudando a invalidar algumas interações do oponente quando a partida se estende, e podendo reutilizar os efeitos de 2-por-1 de suas ameaças, sendo significativamente devastador quando devolve um Gray Merchant of Asphodel ou uma Thorn of the Black Rose.
Por fim, Bojuka Bog é um ótimo meio de se ter uma solução contra cemitérios no Maindeck sem comprometer outros slots para este propósito.
Sideboard
Com a ausência de Tron e sem combos e noncreature decks prevalentes, Duress perde muito do seu espaço para Distress pela sua capacidade de lidar também com criaturas, visto que partidas contra outros Midranges possuem como principal fator a quantidade de valor que você consegue extrair de seus cards, e remover uma criatura com Monarca da mão do oponente antes dele conjurar, ou um Mulldrifter que seria reaproveitado com Ephemerate, pode fazer uma enorme diferença no atrito da partida.
A pior partida que o Mono-Black possui é definitivamente contra Burn, e não costuma valer a pena dedicar muitos slots para uma partida tão ruim assim, mas Unexpected Fangs faz um ótimo trabalho em ser bom não apenas contra este arquétipo, mas também em atrasar o clock de outros decks agressivos ou até mesmo servir como combat trick em alguns momentos, além de também combinar incrivelmente bem com Cuombajj Witches, fazendo com que cada ativação dela lhe dê 1 de vida, ao invés de (normalmente) lhe causar 1 de dano.
Com algumas estratégias tentando recorrer ao próprio cemitério com cards como Ardent Elementalist, Pulse of Murasa, Reaping the Graves e a combinação de Kor Skyfisher com Omen of the Dead, a inclusão de um hate de cemitério se faz necessária, e Nihil Spellbomb é relativamente melhor do que outras opções nesse quesito por oferecer-lhe um draw em sua ativação, além de não afetar a utilidade de Witch’s Cottage, como Relic of Progenitus faria.
Nos 1-ofs, Reaping the Graves se destaca por ser tão impactante nessa lista quanto seria em qualquer outro creature-based deck em partidas onde os jogadores comumente trocam muitos recursos e removals, além de também ser devastador em jogos onde um ou ambos os jogadores utilizam muitos recursos num mesmo turno, como contra Faeries, que comumente tenta sequenciar algumas cantrips no seu próprio turno, além de responder às suas jogadas com Counterspells ou removendo as suas ameaças.
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Já Pestilence é uma opção razoável de sweeper recorrente no Late-Game que ajuda a lidar com as mais diversas situações contra decks de criatura, enquanto também pode, ao lado de uma criatura com resistência alta, como Gray Merchant of Asphodel, servir como outra wincondition alternativa contra locks de combate, já que pode causar alguma quantia de dano recorrente por turno contra ambos os jogadores.
Eu não vou me aprofundar muito sobre as opções de Sideboard porque também é uma situação onde existem diversas alternativas e tudo depende do Metagame que você espera enfrentar num determinado evento ou semana e, como o Mono-Black Devotion não é um arquétipo com uma alta concentração de card selection, parece pouco frutífero tentar reduzir o número de respostas objetivas em prol de respostas mais flexíveis, pois você não irá comprar tão bem a ponto de ter as opções que você deseja com tanta facilidade para cada situação.
Mais linhas do MBC
Conclusão
Esse foi meu Deck Tech do Mono-Black Devotion utilizado pelo jogador medvedev para ganhar o Pauper Super Qualifier da última sexta-feira.
O Metagame do Pauper parece ter se aberto bastante nas últimas semanas, mas obviamente não está tão aberto a ponto de não possuir os seus decks já bem-estabelecidos e, se considerarmos os números do Super Qualifier, os principais arquétipos no formato hoje são Faeries, com 23%, Affinity, com 12% e Boros Bully, com 8%.
Com isso, o que fica claro é que a lista utilizada foi uma aposta em jogar bem contra os principais decks do Metagame, enquanto também carrega elementos o suficiente para tentar jogar igualmente bem contra os arquétipos que tentam equilibrar o formato, como mecânicas baseadas em Monarch.
Eu não acredito que o Mono-Black possa se tornar um grande competidor do Pauper no futuro, pois outros decks são mais eficientes na categoria da qual ele se encaixa, mas o arquétipo ainda é e provavelmente será muitas vezes uma opção válida e viável para qualquer jogador que se comprometa a entender tanto como ele funciona e quais as linhas de jogadas que podem ser trabalhadas com ele quanto como utilizar e adaptar sua lista para obter o máximo de proveito das brechas em cada cenário do Metagame.
Estamos em direção à terceira semana pós-banimentos do Pauper, e ainda há muito espaço para se explorar antes que o Metagame torne-se absolutamente estabilizado novamente.
Obrigado pela leitura!
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