Na última quinta-feira, o jogador Paulo Vitor Damo da Rosa ganhou novamente o Prêmio eSports Brasil na categoria Melhor Atleta de Card Games.
Para celebrar sua vitória, hoje estamos trazendo um artigo sobre a trajetória do que pode ser considerado um dos melhores jogadores de Magic: The Gathering de todos os tempos!
Quem é Paulo Vitor?
Paulo Vitor Damo da Rosa, conhecido como PVDDR ou apenas PV, é um jogador profissional de Magic: The Gathering nascido em Porto Alegre, em 1987. Como um dos jogadores mais bem-sucedidos do jogo, ele é conhecido mundialmente na comunidade pelos seus feitos no jogo, como tornar-se o jogador mais jovem e também o primeiro sul-americano a entrar no Hall da Fama, ser um dos jogadores com o maior número de colocações em Top 8 de Pro Tours, além de ser o líder de todos os tempos em premiação em dinheiro ganho jogando Magic ao nível profissional, com um total de $1.071.085.
Atualmente, o jogador joga para o time Tempo Storm, uma organização americana de eSports, com times e jogadores presentes nos mais diversos jogos digitais, é escritor para o site StarCityGames e também possui um canal no YouTube.
Primeiro contato com o Magic
Paulo Vitor mencionou em 2017, em um de seus artigos para a StarCityGames, que sua história com Magic: The Gathering começou quando ele tinha oito anos, após ver uma propaganda do jogo numa revista sobre o anime shonen Os Cavaleiros do Zodíaco, um grande sucesso entre crianças e adolescentes no começo dos anos 90.
Pouco tempo depois, o jogador participaria de seu primeiro torneio, no formato Standard (antigamente conhecido como Type II, ou T2), onde ele jogou com uma versão adaptada de seu deck casual, removendo os cards que não eram válidos, enquanto mantinha alguns de seus combos favoritos, como Whirling Dervish e Pestilence.
O jogador não obteve bons resultados neste torneio, e em praticamente nenhum outro durante esta época, mas aproveitava o tempo livre entre as rodadas para assistir outros jogadores mais experientes e com decks mais elaborados, sempre procurando aprender um pouco mais do jogo em cada partida, numa época em que a Internet ainda estava dando seus primeiros passos, e o compartilhamento de informações e senso comum sobre o jogo não era tão difundido.
O primeiro contato de Paulo com um evento competitivo foi no Campeonato Nacional do ano 2000, onde ele se classificou em um evento Free for All, utilizando um deck conhecido como Wildfire, baseada na lista utilizada por Kai Budde para ganhar o Mundial naquele mesmo ano.
No entanto, o jogador não conseguiu produzir um bom resultado no evento principal, não chegando ao Day 2.
Em 2001, o jogador competiu no Grand Prix Rio de Janeiro, um torneio no formato Selado do bloco de Invasão, onde ele obteve um resultado de 5-2 no primeiro dia do evento, mas acabou ficando fora do Day 2 por conta dos critérios de desempate.
Naquele mesmo ano, Paulo Vitor jogaria o Grand Prix Curitiba, no agora extinto formato Extended onde, num Metagame onde muitos jogadores estavam jogando com o combo de Donate, utilizado por Kai Budde para ganhar um Pro Tour, enquanto ele optou por utilizar um deck menos conhecido, o Battle of Wits.
Apesar de os resultados do torneio não terem sido dos mais impressionantes, Paulo deixou sua marca naquele dia, ao ser mencionado durante a cobertura do evento como, com os seguintes dizeres:
“A última coisa que você espera de um jogador que recebeu três byes através do ranqueamento é que ele leve um deck estranho para um evento de Extended. Bom, Paulo Vitor fez exatamente isso. Quando ele foi até o Juiz-Mor do evento para descobrir como registrar o seu deck com mais de duzentas cartas em uma pequena folha de papel, a história se espalhou. Ao final da quarta rodada, ele já era a estrela do torneio e no final de cada rodada, todos queriam saber como o pequeno Paulo e seu gigantesco deck se saíram.”
- Coverage do GP Porto Alegre, de 2001
No período seguinte, Paulo começou a jogar as ligas online de Magic, e começou a ter reconhecimento na comunidade online do jogo, enquanto também se classificou para o Nacional daquele ano.
A ascensão da carreira profissional
O primeiro Pro Tour do Paulo Vitor foi em 2003, quando ele se classificou para o Campeonato Mundial de Berlim por estar entre os oito melhores jogadores da América Latina, o que levou muitos jogadores da época a suspeitarem que ele manipulava resultados para aumentar sua pontuação já que, na época, ele era um jogador completamente desconhecido fora da (ainda pequena) comunidade online.
No torneio, o jogador utilizou o deck de Mirari’s Wake no Standard e Goblins no Extended, terminando em 55º lugar, uma posição boa o suficiente para que o jovem Paulo, agora com dezesseis anos, pudesse não apenas ter viajado de graça para outro país para jogar seu jogo favorito, como também para receber os seus primeiros ganhos financeiros com Magic: The Gathering, mudando a sua perspectiva de que o jogo não era apenas um hobby, mas um verdadeiro negócio e a possibilidade de uma carreira promissora, ao invés de apenas um jogo infantil.
O próximo grande torneio de Paulo Vitor foi o Campeonato Nacional de 2004, em um bizarro evento onde a grande maioria dos jogadores estavam jogando de Affinity, numa época onde Skullclamp ainda era válido, e onde, curiosamente, o Top 8 tinha zero Affinitys porque todos os outros jogadores, que não utilizaram o arquétipo, estavam muito focados em ganhar do deck.
O jogador não foi para muitos eventos naquele ano, já que as passagens aéreas eram muito caras, o que o fez não jogar Pro Tours e outros eventos e, próximo da data do Mundial, o jogador jogou um evento que daria ao vencedor passagens para poder assistir ao campeonato, onde ele então utilizaria desta passagem para poder participar do torneio.
No mundial daquele ano, Paulo Vitor terminou em 46º lugar, utilizando um dos decks mais jogados daquele evento: UW Control, com Exalted Angel, Mana Leak e Wrath of God. Em seguida, o jogador participou do Grand Prix da sua cidade natal, Porto Alegre, onde ele fez o seu primeiro Top 8 num evento de grande porte, ficando em sexto lugar.
Em seguida, PV foi para o Pro Tour Londres de 2005 onde, após desembarcar na cidade, acabaria de descobrir que o metrô da cidade havia sido atacado por terroristas, mas a Wizards decidiu manter o evento, e o jogador participou do torneio, onde terminou em 55º lugar.
Mas foi durante a temporada de 2006 que o jogador começou a brilhar no cenário do Magic profissional, onde ele se classificou para o Pro Tour Honolulu através de um Qualifier, onde o fato de que estes eventos passaram a dar as passagens de avião tornou da participação dos eventos para o jogador muito mais possíveis e rentáveis, e no evento principal, o jogador terminou em 20º lugar após perder a partida valendo o Top 8 na primeira feature match da sua carreira.

No Pro Tour Charleston daquele ano, após seus dois colegas de time decidirem jogar com outro terceiro jogador, Paulo juntou-se com Willy Edel e Celso Zampere, que estavam procurando um terceiro jogador para o seu time já que o seu terceiro jogador não tinha um visto americano, e provavelmente demoraria mais tempo do que a data do evento para conseguir, onde eles então jogaram os PTQs para conseguir a qualificação para o evento principal, onde terminaram em primeiro lugar no suíço, e chegaram até as finais, e perderam para o time japonês que incluía Tomoharu Saito, Shota Yasooka e Tomohiro Kaji.
Em seguida, Paulo venceu o Campeonato Nacional de 2006, terminou em 48º lugar no Pro Tour Kobe, e no Mundial daquele ano, ele dominaria o evento durante os primeiros três dias, fazendo um resultado de 11-1, chegando ao Top 8 três rodadas antes do final do suíço, e ficando muito próximo de tornar-se o Jogador Do Ano, se chegasse às finais, mas acabou perdendo para Makihito Mihara, onde o jogador japonês topdeckou a sua terceira cópia de Rite of Flame, que o possibilitaria conjurar Dragonstorm, dando-lhe a vitória na partida.
PV, entretanto, terminou a temporada com 51 Pro Points, o suficiente para o nível mais alto do clube de jogadores profissionais.
Nos próximos amos, PV se estabeleceu como um dos melhores jogadores de Magic: The Gathering , com um ótimo resultado no Pro Tour Geneva em 2007, e em 2008, ele chegou ao Top 8 do Pro Tour Hollywood e repetiu o feito no Mundial daquele ano, ambas às vezes jogando com um de seus arquétipos mais famosos, o Faeries, e em ambas as ocasiões, perdendo nas quartas de finais.
Já em 2009, ele venceu o Campeonato Nacional, e conseguiu seu quinto Top 8 de Pro Tour no Pro Tour Austin, onde novamente perdeu nas quartas de finais. Em 2010, Paulo Vitor venceu o Pro Tour San Juan após derrotar o jogador francês Guillaume Matignon por 3-2, e quase chegou ao título de Jogador do Ano novamente ao chegar no Top 8 do Mundial, mas foi derrotado pelo próprio Matignon nas semifinais.
Em 2011, Paulo Vitor utilizou o famoso deck Caw-Blade para ganhar o seu primeiro Grand Prix, o GP Singapura. E, novamente, chegou até o Top 8 do Mundial, sendo novamente derrotado nas quartas de finais do evento e, no próximo evento, o Pro Tour Dark Ascension, ele ficou em segundo colocado, ficando atrás do também mundialmente famoso Brian Kibler, e seus resultados o classificaram para o Players Championship de 2012, um evento exclusivo para 16 jogadores, que substituiu o Campeonato Mundial, onde ele ficou em terceira posição.
No Pro Tour Return to Ravnica, Paulo Vitor foi indicado para o Hall da Fama, onde recebeu 85,7% dos votos e, aos 25 anos, tornou-se o jogador mais novo a entrar para este seleto grupo.
Nos próximos anos, o jogador não fez grandes resultados, não chegando ao Top 8 de nenhum Pro Tour e conseguindo somente o nível Prata no clube de jogadores profissionais, chegando ao ponto de considerar desistir de Magic e dedicar seu tempo a outros jogos.
Mas, na temporada de 2014 e 2015, apesar de não fazer nenhum Top 8 no Pro Tour, Paulo conseguiu fazer três Top 8s nos Grand Prix, e terminou em 13º lugar no Pro Tour Dragons of Tarkir, com a maioria de seus resultados sendo feitos com o deck Esper Dragons, ao qual o jogador atribui o sucesso e a revitalização da sua carreira como jogador.

No Pro Tour Battle for Zendikar, no ano seguinte, PV alcançou seu décimo Top 8 em um Pro Tour, um feito antes só alcançado pelos jogadores Jon Finkel e Kai Budde, e em seguida, conseguiu superar esta marca ao chegar no Top 8 do Pro Tour Hour of Devastation, onde ele também alcançou seu segundo título de campeão de Pro Tour.

Neste mesmo ano, Paulo Vitor tornou-se o Jogador do Ano pela primeira vez em sua carreira, e, em 2018, entrou como um dos participantes do Magic Pro League em 2019.
Em 2019, o jogador ficou em segundo colocado no Mythic Championship VI, e chegou ao Top 8 do Mythic Championship VII, classificando-o para o Campeonato Mundial.
No mundial de 2019, que ocorreu no começo de 2020, Paulo Vitor, jogando de Azorius Control tornou-se o Campeão Mundial após vencer o português Marcio Carvalho, que utilizava o Jeskai Fires, tornando-se o segundo jogador brasileiro a tornar-se campeão mundial de Magic: The Gathering.
Neste mesmo ano, na edição Strixhaven: School of Mages, por ganhar o Campeonato Mundial, o jogador foi eternizado no card Elite Spellbinder.

Ainda em 2020, PV recebeu o Prêmio eSports Brasil nas categorias Melhor Jogador de Card Games e Jogador do Ano. Já em 2021, o jogador terminou em segundo colocado na Pro League, qualificando-o para defender seu título no Campeonato Mundial.

Porém, o resultado de Paulo Vitor no evento, jogando de Mono-Green Aggro, não foi dos melhores e, posteriormente, o jogador comentou em seu Twitter que sentia ter avaliado o Metagame do evento erroneamente.
Por fim, no dia 16 de dezembro de 2021, Paulo Vitor Damo da Rosa recebeu, pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio eSports Brasil, na categoria Melhor Jogador de Card Games.

Decks icônicos
Quando se é um jogador profissional de Magic, é natural que determinadas listas com as quais o jogador fez bons resultados ou utilizou de maneira recorrente sejam atribuídas a ele e fiquem conhecidas como parte essencial de seus bons resultados, e não seria diferente com o PV.
Dentre esses decks, acredito que o Faeries seja um dos mais famosos, um dos arquétipos favoritos do jogador que, inclusive, já mencionou em algum momento que Vendilion Clique é sua carta de Magic favorita (o que, provavelmente, teve alguma influência na criação de Elite Spellbinder).
Faeries é um Tempo deck que utilizava alguns dos melhores cards disponíveis na época, como Thoughtseize e Cryptic Command, acoplado a uma base de permanentes muito sinérgica, que incluía cards como Bitterblossom, Spellstutter Sprite e Mistbind Clique, conseguindo alternar beneficamente entre a função de agressor e controlador da partida.
Outro famoso deck do jogador foi o Esper Dragons, ao qual ele atribui a revitalização de sua carreira profissional no jogo. O arquétipo funciona essencialmente como um Control deck, com respostas eficientes em Instant-Speed, um poderoso pacote de card selections para a época, além de utilizar como principal wincondition e engine de card advantage uma antiga poderosa staple do Standard, Dragonlord Ojutai.
Outra lista icônica foi o Ramunap Red, utilizado por ele para ganhar o Pro Tour Hour of Devastation*, utilizando três poderosas adições que vieram na nova edição na forma de Earthshaker Khenra, Abrade e, principalmente, Ramunap Ruins para criar um deck extremamente agressivo que possuía um ótimo alcance em partidas mais longas, graças à inclusão de do novo terreno e de ameaças poderosas como Chandra, Torch of Defiance e Hazoret the Fervent.
Por fim, temos o deck que levou PV ao título de campeão mundial, o Azorius Control, um deck na forma mais clássica do arquétipo, com sweepers e removals pontuais, counterspells, meios de filtrar o topo e comprar cards, e uma poderosa junção de finishers capazes de dominar o jogo se permanecerem no campo de batalha.
Conclusão e Referências
Este foi nosso artigo de celebração pela nomeação do Paulo Vitor Damo da Rosa como Melhor Atleta de Card Games pelo Prêmio eSports Brasil.
Apesar deste resumo, não há ninguém melhor do que o próprio PV para falar sobre a sua história e vida. E durante minha pesquisa para a elaboração deste texto, esbarrei em uma série de três artigos escritos por ele em 2017, onde ele conta diversos detalhes, e de maneira extremamente pessoal, sobre o início da sua história com Magic: The Gathering, da qual não apenas demonstra um lado mais humano do jogador, como também demonstra diversos exemplos de lições e aprendizados que ele adquiriu ao decorrer dos anos.
Também recomendo segui-lo em sua conta do Twitter e em seu canal de Youtube
(em inglês).
Obrigado pela leitura, e deixo aqui meus parabéns ao PV pelo prêmio!













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