Magic: the Gathering

Deck Guide

O fim de um Legado do Delver

, Comment regular icon1 comments

Após uma década como a criatura mais icônica do formato e o pilar do deck que define o Metagame, teria Delver of Secrets se tornado obsoleto para o Legacy?

Writer image

revised by Tabata Marques

Edit Article

Esta semana, no dia 30 de Setembro de 2021, faz dez anos que a primeira edição de Innistrad foi lançada e, junto dela, um dos cards mais icônicos da história de Magic: The Gathering, Delver of Secrets.

Loading icon

Delver of Secrets é um dos cards mais influentes que já existiram e, de longe, um dos cards que definiram o Legacy desde a sua chegada, transformando basicamente todas as categorias de Blue-based Tempo decks do formato em “Delver” decks.

Esta nomenclatura ficou tão icônica que passou a fugir do espectro de decks que utilizam Delver of Secrets para se tornar uma grande definição de uma categoria de Tempo decks que envolvem ameaças de custo baixo protegidas por um poderoso pacote de disrupções que variam entre counters, remoções e descartes, e usando cantrips de custo baixo para poder ter acesso a mais cards do que o oponente ao decorrer da partida, enquanto permite ao deck utilizar uma quantidade menor de lands sem ser prejudicado por isso.

Ad

No ano passado, fiz um artigolink outside website explicando como Delver of Secrets e o conceito de Turbo Xerox definiram como se jogar Legacy, e como a história do card é diretamente ligada à história do Legacy na última década, e é justamente por conta de como este card está ligado a essência do Legacy que o fato das listas de Tempo do formato estarem optando por utilizar menos cópias ou até mesmo nenhuma cópia do icônico card chama a atenção da comunidade e nos leva a questionar algo que nunca imaginamos questionar um dia.

Teria o Delver of Secrets se tornado obsoleto para o Legacy?

Analisando o contexto

Antes de debatermos o que está ocorrendo, vamos primeiro entender o que tornou de Delver of Secrets um pilar do formato por quase uma década.

Antes do lançamento do card na primeira edição de Innistrad, em 2011, os Tempo decks do Legacy se dividiam entre diversas variantes diferentes que tentavam obter um mesmo resultado: Utilizar de mágicas com um custo baixo ou que poderiam ser jogadas de graça para atrapalhar o plano de jogo do oponente ou para proteger algumas de suas poucas ameaças que tinham como propósito agredir o total de pontos de vida do oponente por repetidas vezes até que o jogo fosse ganho.

Essas variantes mudaram muito com o decorrer dos anos, mas começaram a ser padronizadas quando Future Sight trouxe Tarmogoyf, uma ameaça de custo baixo e poder alto que poderia ganhar o jogo por conta própria e se beneficiava da mera natureza que os decks tinham de... jogar o jogo.

A grande vantagem de Tarmogoyf sobre as outras criaturas é que ele crescia naturalmente com o decorrer da partida, e crescia rapidamente, já que num formato com Fetchlands + Cantrips + Force of Will era muito comum os primeiros turnos começarem com quatro tipos de cartas diferentes nos cemitérios.

Dentre estes decks, dois se destacavam e faziam resultados consistentes:

Loading icon

O Canadian Threshold, que precede o que conhecemos hoje como Temur Delver, era a evolução natural dos decks de Threshold que existiam anteriormente no formato e se aproveitavam de que, com tantas cantrips e tantos meios de interação, o deck poderia chegar rapidamente em sete ou mais cartas no cemitério, tornando tanto Tarmogoyf numa criatura grande, quanto tornando Nimble Mongoose uma ameaça difícil de responder que poderia fechar o jogo numa mesa vazia.

Loading icon

A outra versão conhecida era o Team America, predecessor das listas de Delver que utilizam preto, e apostava nessa mesma velocidade de jogar cards para o cemitério para utilizar a também então staple de Future Sight, Tombstalker, como uma ameaça evasiva que ganharia o jogo em poucos turnos enquanto desestabilizava o oponente com recursos para negar mana, como Sinkhole (é importante mencionar que, na época, os principais decks do formato envolviam decks Midranges que se aproveitavam do pacote de Stoneforge Mystic).

Então Delver foi lançado, e estes decks se tornaram padronizados em torno da nova criatura de Innistrad, porque ela era tudo o que os Tempo decks do formato poderiam querer: uma ameaça de custo baixo com capacidade de atacar rapidamente nos primeiros turnos com um poder alto, muitas vezes conseguindo ganhar o jogo por conta própria se bem protegido, e cujo setup necessário para isso é facilmente alcançável pelas mágicas que o deck naturalmente utiliza, em especial seu pacote de cantrips; e para terminar, Delver of Secrets é azul, a cor ideal para dar um pitch para Force of Will quando necessário.

Ad

Em resumo, Delver era o beatdown perfeito para o deck porque agia naturalmente conforme o que o deck se propõe a fazer e logo tornou-se uma staple, uma inclusão obrigatória.

Loading icon

Loading icon

Desde então, os Delver decks do Legacy ganharam diversos elementos ao decorrer dos anos: Young Pyromancer, Gurmag Angler, True-Name Nemesis, Deathrite Shaman, Wrenn and Six, Sprite Dragon, Monastery Swiftspear, Dreadhorde Arcanist, Oko, Thief of Crowns, entre outros, tiveram seu espaço no arquétipo dentre as mais diversas variantes e foram ou são todas cartas que definem muito bem as diversas janelas de oportunidade e flexibilidade que o arquétipo se dispõe a ter. Mas, em ocasião alguma, as listas deixaram de utilizar ou sequer reduziram o número de cópias de Delver of Secrets porque ele ainda era um dos pilares do deck e a ameaça que você poderia utilizar para ganhar o jogo por conta própria contra as partidas certas.

Sempre foram quatro cópias de Delver, não havia motivos para você jogar com menos do que isso.

E então, Modern Horizons II chegou, e mudou toda a estrutura de como os Delver decks são construídos no Legacy.

Modern Horizons II e o Power Creep

Magic: The Gathering é um jogo onde o power level individual das cartas costuma ser uma espécie de montanha-russa, onde algumas coleções costumam trazer cards extremamente poderosos e outros precisam ser um pouco mais fracos para equilibrar as coisas.

Existem vários exemplos desse ciclo, como a diferença significativa de power level entre Mirrodin e Kamigawa, ou Tarkir e Theros, ou Eldraine e Strixhaven. Este acréscimo ou decréscimo é feito com base em tornar o Standard um formato equilibrado, para evitar que um aumento significativo nessa balança não torne do formato uma combinação de decks opressivos, e dessa maneira abrindo espaço para que estratégias mais simples e menos voltadas em “faça a sua jogada absurda antes do oponente” sejam possíveis.

É claro que esta estratégia tende a falhar algumas vezes por falhas na avaliação de novos cards, algo que se tornou mais recorrente quando a filosofia de F.I.R.E. foi adotada pela Wizards of the Coast, que culminou numa combinação de edições para o Standard que aumentou o power level de uma maneira que não víamos desde o famoso Bloco de Urza, considerado por muitos o bloco mais quebrado de toda a história de Magic: The Gathering.

Enquanto a rotação e, em casos (nem tão) extremos, banimentos ajudam a ajustar o Standard, o impacto do aumento ocasionado pela F.I.R.E. pode ser sentido em formatos eternos de maneira permanente, já que não existe a rotação para “corrigir” estes “erros”, e visto que muitas vezes estes cards não são feitos e projetados para estes formatos, acabam criando situações onde eles se tornam Staples instantâneas ou até mesmo os quebram por completo ao interagir de maneira não-planejada com um pacote antigo de cartas, como Valki, God of Lies fez antes da errata na mecânica de Cascade ou como Underworld Breach interagia com Lion’s Eye Diamond e Brain Freeze.

Ad

Por outro lado, estes novos cards estarão, quando não dominarem estes formatos eternos, forçando a adaptação deles com a inclusão deles, algo que ocorreu sempre num formato como o Legacy: decks como Merfolks já foram considerados o melhor deck do formato, os arquétipos eram diferentes antes da chegada de Tarmogoyf ou Delver of Secrets, Thoughtseize substituiu Duress quando foi lançada, Ponder e Dark Confidant se tornaram grandes Staples, cards como Terravore, Vendilion Clique, Young Pyromancer, Leovold, Emissary of Trest e Baleful Strix já viram muito jogo, mas tornaram-se obsoletas de acordo com como cards mais poderosos foram surgindo e o Metagame foi mudando.

Faz alguns anos que observamos uma tendência nos lançamentos recentes de trazer cards capazes de impactar múltiplos formatos como outra consequência da F.I.R.E, ou até mesmo uma ação projetada para que mais cards possam tornar-se Staples de múltiplos formatos.

Em lançamentos recentes, temos visto diversas tentativas da Wizards de mitigar alguns dos aspectos negativos que são consequências naturais do deckbuilding do jogo, como mitigar o flood com terrenos que também são mágicas, criaturas que possuem um valor agregado, seja em forma de mágicas como Bonecrusher Giant ou gerando efeitos que criam um valor recorrente, como Goldspan Dragon, ou ainda levando para os termos do Legacy, Uro, Titan of Nature’s Wrath, Ragavan, Nimble Pilferer e o banido Dreadhorde Arcanist.

O Power level do Magic subiu significativamente nestes dez anos, e cada edição traz um ou mais cards que chamam a atenção dos jogadores por fazerem bastante coisa para um único card numa proporção onde não era comum vermos no passado, e isso vai de Planeswalkers cada vez mais fortes até criaturas cada vez mais eficientes.

E desde 2019, passamos a ter edições dedicadas não apenas à inclusão de reprints para os formatos eternos, mas também voltados à inclusão de cards que não poderiam entrar no Standard por estarem dentro de um padrão muito maior do que aquele que a própria Wizards enxerga como aceitável.

Modern Horizons e Modern Horizons II são duas das edições mais poderosas já lançadas no jogo, e cada uma delas teve um enorme impacto no Legacy.

Modern Horizons trouxe uma série de cartas problemáticas que alteraram significativamente os formatos competitivos, inclusive um artefato comum que hoje é banido de essencialmente todos os formatos eternos porque gera muitas quebras da color pie, além de uma Planeswalker que essencialmente invalidava a maioria das criaturas utilizadas no Legacy e criava locks com Wasteland, e também trouxe arquétipos novos que se mantiveram como equilibrados no formato como Hogaak e os decks de Urza.

Mas, particularmente, considero Modern Horizons II uma coleção mais impactante ao Legacy do que seu antecessor, pois possui diversas cartas que alteraram significativamente formatos eternos sem necessariamente quebrá-los ao meio de imediato, o que para mim torna dela muito mais importante do que outra que quebra formatos e, quando seus cards são banidos, os formatos voltam ao que eram antes da inclusão dedeles, porque eles não o polarizam por uns meses.

Ad

Ao invés disso, eles mudam a maneira de se jogar aquele formato para sempre.

Considere a quantidade de cards comumente jogados no Legacy hoje que são inclusões de Modern Horizons II:

Loading icon

Todas são Staples praticamente obrigatórias para se jogar Legacy atualmente, e parte das estratégias mais jogadas incluem pelo menos um deles em suas listas.

Essencialmente, Modern Horizons II aumentou o power level do Modern e do Legacy, e tecnicamente “rotacionou” ambos os formatos numa velocidade nunca vista, onde todas as inclusões de grande impacto vieram em apenas uma única edição, ao invés de separadas em edições lançadas ao decorrer do ano.

Delver e o Power Creep

Quando falamos dos Tempo decks do Legacy atualmente, existem três cards de Modern Horizons II que se destacam: Ragavan, Nimble Pilferer, Dragon’s Rage Channeler e Murktide Regent.

Referente às criaturas vermelhas, o Pedro fez um artigo onde explica como ele considera estas as melhores criaturas vermelhas já lançadaslink outside website, e acredito que sua análise se aprofunde melhor no que tentarei usar como base de exemplificação aqui.

Loading icon

Ragavan, Nimble Pilferer é o card mais polêmico de Modern Horizons II para o Legacy desde que foi revelado durante a spoiler season, pois estava claro que o macaco albino definiria o formato após o lançamento da edição por suas habilidades serem incrivelmente sinérgicas por um custo baixo, geram constante card advantage e mana advantage, e uma estratégia que consiga jogá-lo no começo da partida e protegê-lo eficientemente por alguns turnos terá uma vantagem significativa sobre o oponente.

De muitas maneiras, Ragavan, Nimble Pilferer é comparado por jogadores aos banidos Dreadhorde Arcanist e Deathrite Shaman, mas isso é um assunto longo, que necessita de uma análise menos superficial do que a que estou propondo para este artigo em particular, com análise de dados de matchups, dentre outros fatores que merecem um artigo próprio.

O que posso afirmar é que, comumente, o macaco albino é o card que precisa ser respondido pelo oponente e que não exige literalmente nenhum setup para ser utilizado. A quantidade de valor oferecido por ele ao decorrer dos turnos pode simplesmente dominar o jogo da mesma maneira como estes cards costumavam fazer, e dentro desse contexto, existem decks que são mais punidos pelas vezes que um Ragavan causar dano e os que são menos punidos por este mesmo fator, e aqui preciso mencionar o artigo de outro escritor de Legacy, o João, que fez um artigo em julholink outside website mencionando quais decks podem ser utilizados para jogar num formato definido por este card.

Ad

Loading icon

Um card que se destaca melhor numa comparação direta com Delver of Secrets é Dragon’s Rage Channeler porque, diferente de Ragavan, Nimble Pilferer, ela não é a criatura que domina o jogo por conta própria sem basicamente nenhum esforço, e porque a comparação direta é mais óbvia, visto que o resultado de ambos são criaturas com 3 de poder que voam.

Porém, ambos possuem suas vantagens e desvantagens, e enquanto Delver of Secrets consegue flipar muito mais rápido e facilmente do que Dragon’s Rage Channeler, o novo drop vermelho possui não apenas a vantagem de já entrar “transformada” quando você atinge o Delirium, como também possui uma habilidade que ajuda em habilitá-lo fazendo algo que o deck já quer fazer naturalmente: jogar mágicas que não sejam de criatura.

Ou seja, Dragon’s Rage Channeler é essencialmente um Delver of Secrets que já entra transformado nas condições certas, não é alvo de Pyroblast (e Hydroblast não é comumente utilizado no Legacy), e que faz com que todas as suas mágicas tenham Surveil 1 para agilizar sua ativação, sendo que estes decks não carecem de meios de ter quatro ou mais tipos de cards no seu cemitério.

Os terrenos são facilmente colocados no cemitério com Fetchlands e Wasteland, o deck utiliza uma quantidade significativa de Instants, Ponder e Expressive Iteration são Sorceries que se tornaram Staples do arquétipo e com certeza uma criatura sua morrerá durante o decorrer da partida, ou você jogará uma criatura ao cemitério com o Surveil 1.

Logo, enquanto Delver of Secrets é apenas um drop agressivo que ataca com evasão desde o early-game, Dragon’s Rage Channeler faz essencialmente a mesma coisa enquanto ainda permite um certo nível de manipulação do topo, algo essencial para qualquer Turbo Xerox.

E existe também outro motivo muito importante para Dragon’s Rage Channeler estar presente como um pilar dos “novos” Tempo Decks:

Loading icon

Gurmag who? Ethereal what?

Apesar de admitir que os cards que compõem as novas versões de Tempo Decks são a combinação de Ragavan, Nimble Pilferer + Dragon’s Rage Channeler com a base já muito bem estabelecida dos Delver decks no Legacy, com cantrips eficientes, respostas de custo baixo e counterspells gratuitos, Murktide Regent parece um enorme payoff para esta combinação porque ele comumente será o endgame supremo como uma gigantesca criatura 8/8 com Flying que não morre para cards como Prismatic Ending, Fatal Push ou Lightning Bolt.

Além disso, múltiplas cópias de Murktide Regent podem servir tanto como um pitch para Force of Will num early ou mid-game, como também para alimentar um ao outro, já que você pode utilizar uma segunda cópia do dragão para aumentar o poder de uma cópia que já esteja em jogo.

E o que acontece quando seus early-drops, além de gerarem valor, alimentam o seu endgame, muitas vezes habilitando utilizá-lo ainda nos primeiros turnos do jogo ao produzirem mana extra, como Ragavan faz ou mais cards para que a criatura se alimente, como Channeler faz?

Ad

Você possui uma engine tão poderosa e tão sinérgica entre si que cards como Delver of Secrets parecem se tornar redundantes ou, até mesmo, ruins para a estratégia que o deck se propõe a fazer, porque é um card que parece estar “de fora” das sinergias que a base de criaturas proporciona.

Loading icon

Recentemente, joguei com o Izzet Tempo no Modern e me surpreendi com como a sinergia entre o pacote de criaturas com o restante do deck nunca deixa de me impressionar pela sua flexibilidade e capacidade de lidar com situações desfavoráveis no timing certo, e num formato como o Legacy, onde o pacote de counterspells e cantrips é muito mais eficiente e onde o pilar de equilíbrio do formato são justamente os Tempo decks, fica ainda mais evidente o quanto a combinação destes três cards pode facilmente definir uma nova era para os “Delver decks”, onde Delver of Secrets não é mais o pilar que alimenta a estratégia, mas uma adição útil conforme a ocasião.

O Valor da Interação

Novamente, preciso enfatizar aqui o quanto Magic é um jogo de recursos, e cada carta jogada é uma proposta entre os jogadores e como eles querem que o jogo se desenvolva.

Quando você faz uma jogada, como, por exemplo, conjurar um Ragavan, Nimble Pilferer numa mesa vazia, você está fazendo a seguinte proposta: “Eu vou atacar com esta criatura no próximo turno e começar a acumular valor”.

Ao oponente, cabe decidir como ele irá responder à sua proposta. Ele vai fazer uma ameaça no turno dele? Ele vai anular o seu Ragavan para evitar que você acumule card advantage e mana advantage? Ele vai responder com um removal, ou ele aceita a sua proposta e permite que o Ragavan fique na mesa no turno seguinte para atacá-lo?

Se o oponente decide remover o seu Ragavan, ele está fazendo sua contraproposta: “Eu estou gastando um recurso meu para evitar que você acumule mais recursos no longo prazo”.

Você vai responder com um Daze e se jogar para trás em mana e recursos na mão para protegê-lo? Jogará uma Force of Will e gerará um card disadvantage significativo para manter o Ragavan em jogo? Ou será melhor que o oponente gaste este recurso e você mantenha o seu para responder às ameaças dele ou para proteger outra ameaça em sua mão, porque o Ragavan provavelmente não fará muita coisa já que o deck do oponente possui facilidade em bloqueá-lo ou superar as vantagens que ele pode te dar?

Essas contas são relativamente fáceis de se analisar quando falamos de meios constantes de card advantage como Ragavan, mas e quando falamos de uma ameaça que estabelece o clock? Você tomaria as mesmas decisões na hora de proteger um Delver of Secrets ou um Tarmogoyf?

Na maioria das vezes, acho improvável que valha a pena gastar seus recursos desta maneira para proteger um Delver of Secrets.

Loading icon

Tentarei exemplificar com uma experiência pessoal: um dos meus momentos favoritos na minha história com Legacy foi quando fiquei em segundo lugar no Alpha Legacy com esta lista de Dimir Shadow, antes do banimento de Gitaxian Probe e Deathrite Shaman, porque foi meu primeiro evento oficial de Legacy, e eu estava jogando com um arquétipo com o qual tinha muita experiência no Modern, mas pouca experiência prática no formato, apesar de ser um formato do qual eu acompanhava os resultados e decks fielmente.

Ad

Por conta dessa inexperiência, eu seguia algumas linhas gerais dentro da minha cabeça sobre como eu deveria utilizar meus recursos, e um ponto-chave destes raciocínios incluía que Delver of Secrets era o card que eu não precisava me preocupar em proteger na maioria das circunstâncias contra decks justos, e que ele servia, na maioria das vezes, para pressionar os decks injustos do formato de uma maneira que nenhuma outra criatura da lista conseguiria no early-game.

As verdadeiras ameaças eram Death’s Shadow e Gurmag Angler, eles eram os cards aos quais eu deveria proteger, principalmente o meu 8/8 por uma mana. Meus Thoughtseizes que não fossem nos primeiros turnos contra oponentes desconhecidos, em mãos sem Gitaxian Probe, deveriam ser utilizados para garantir que meus Death’s Shadow permanecessem em jogo, minhas Force of Will deveriam garantir que ele permanecesse em jogo, minhas remoções precisavam ser direcionadas principalmente aos cards que apresentassem algum perigo para como meu jogo se desenvolvia, em especial Deathrite Shaman, porque ele dava alcance para que o oponente pudesse me punir por perder vida demais enquanto servia como um bloqueador.

A única exceção à regra era Daze, porque comumente eu não teria os recursos necessários para manter a utilidade dela quando meus Death’s Shadows estivessem em jogo, já que ele demandava um setup que nem sempre era possível nos primeiros turnos.

E o motivo era muito simples: O card que me ganharia o jogo na maioria das ocasiões não era o Delver of Secrets, era o Death’s Shadow numa mesa vazia.

Agora, se compararmos com a atual situação do formato, nem mesmo os Dazes são válidos de se utilizar para proteger Delver of Secrets porque Ragavan e Dragon’s Rage Channeler não precisam de setup para serem bons ou o próprio uso do Daze para protegê-los já colabora com o setup necessário, e agregam muito mais valor ao decorrer da partida, e uma mão que inclua Ragavan + Daze possui o potencial de levar o jogo por conta própria, o que tem obviamente muito a ver com o quão absurdo Ragavan é por si só.

Além disso, também é necessário medir a utilidade destes cards ao decorrer da partida. Quanto tempo será necessário para o dano causado por um Delver of Secrets ser mitigado por um Uro, Titan of Nature’s Wrath ou ele ser bloqueado por um Endurance?

E dentro desta lógica, novamente, é melhor, no Magic: The Gathering de 2021, você ter e proteger cards que possuem um valor agregado ao invés de procurar utilizar seus recursos em criaturas que “só batem”.

Logo, no contexto atual, onde as ameaças em geral possuem um valor agregado, uma criatura como Delver of Secrets acaba, de fato, tornando-se obsoleta no Legacy, porque o pacote de criaturas disponíveis com Modern Horizons II prova-se muito mais eficiente para proposta dos “Delver decks”.

As vantagens de não utilizar o Delver

A principal vantagem de não utilizar Delver of Secrets atualmente é ganhar slots flexíveis que podem ser utilizados das mais diversas maneiras, sem necessariamente perder o clock necessário para ganhar o jogo contra decks não-interativos. O que significa que você pode utilizar estes slots para melhorar as partidas interativas, ou adicionando engines poderosas que permitem atacar por outros ângulos.

Ad

Loading icon

A primeira lista a adotar esta medida foi o Jeskai Standstill, que procura abusar de um Ragavan, Nimble Pilferer ou Urza’s Saga em conjunto com Standstill para gerar muito card advantage do oponente ao demandar respostas imediatas com suas ameaças.

Urza’s Saga é outro card que interage muito bem com basicamente todos os cards do novo pacote dos Delver decks: Ragavan cresce os tokens de Golem do terreno com seus tokens de Tesouro, o terreno é um encantamento, o que é importante para o Delirium de Dragon’s Rage Channeler e o fato dele buscar um artefato e colocar em jogo possui muitas vantagens em adicionar redundância à lista ou em criar um toolbox, incluindo Retrofitter Foundry como uma fonte recorrente de tokens, ou Mishra’s Bauble como uma cantrip gratuita que também habilita o Delirium, ou Soul-Guide Lantern para facilitar o jogo contra a mirror.

O deck também utiliza de um pacote de interação mais eficiente para lidar com criaturas maiores, como Swords to Plowshares, que exilam cards como Murktide Regent e Uro, Titan of Nature’s Wrath.

Apesar das primeiras versões utilizarem Dragon’s Rage Channeler, atualmente o deck parece estar indo para um espectro mais voltado ao Control e deixando de lado o clock imposto pelo card.

Loading icon

A versão Izzet abdica de Standstill em prol de uma base mais próxima do Izzet Delver, mas com as mesmas vantagens que utilizar Urza’s Saga possui, o que também habilita o uso de outras lands utilitárias como Wasteland enquanto retém uma manabase mais estável do que a versão Jeskai, e com um clock mais rápido já que não abdica do uso de Dragon’s Rage Channeler e nem utiliza de cards como Swords to Plowshares.

Loading icon

Outra opção interessante em listas sem Delver é a de melhorar o seu plano de atrito, algo relevante especialmente contra arquétipos que jogam bem contra as versões mais focadas no Tempo, como o Bant Control que utiliza de Endurance e Ice-Fang Coatl para segurar suas ameaças com facilidade, enquanto Jace, the Mind Sculptor e Uro, Titan of Nature’s Wrath ganham o jogo por conta própria.

Desta maneira, é possível utilizar respostas mais eficientes contra as ameaças do oponente, em detrimento da velocidade que o deck costuma possuir, podendo garantir um melhor foco em partidas justas e de troca de recursos em detrimento da partida contra decks injustos que, em sua maioria, não são tão presentes no formato hoje e, mesmo que sejam, você ainda possui as disrupções e o clock rápido o suficiente para ganhar estes jogos.

Dentro dessas variantes, acredito que a inclusão de Planeswalkers se mostram como uma opção a se considerar. Em especial, Teferi, Time Raveler e Narset, Parter of Veils podem dar recursos o suficiente para que a lista possa acompanhar os demais “decks justos” do formato.

Vantagens de ainda utilizar Delver

Loading icon

Apesar de Delver of Secrets possivelmente não fazer mais parte do “core” dos Tempo decks no Legacy, isso não significa que ele tenha se tornado totalmente inútil para o formato e existem muitas utilidades para ele nestes decks, e versões com o card ainda estão presentes no formato como a variante que mais aparece atualmente, o que pode ser resultante do hábito dos jogadores, ou por ser a lista mais confiável.

Ad

Começando pelo óbvio, a inclusão de Delver significa uma quantidade maior de ameaças, o que é um ponto muito relevante em partidas onde removals são prevalentes e onde nem sempre é possível garantir que suas ameaças permaneçam na mesa, e uma quantidade menor de criaturas pode significar que o deck tenha dificuldades em executar seu plano de jogo agressivo caso o oponente consiga lidar com a sua primeira leva de criaturas.

Aqui entra novamente o fator de que Delver of Secrets é uma ameaça menos impactante que as demais criaturas que a lista utiliza atualmente, o que significa que um removal gasto nele muitas vezes significará um removal a menos em uma ameaça que gera mais valor ao decorrer da partida e, da mesma forma, um removal gasto em um Dragon’s Rage Channeler é um á menos que Delver of Secrets terá de enfrentar.

Outro ponto relevante é que existem partidas onde sua melhor opção é atacar pelo ar porque a posição de mesa do oponente no chão é mais impactante que a sua, tornando de Ragavan, Nimble Pilferer e Urza’s Saga cards pouco úteis em estabelecer pressão.

Aqui, podemos exemplificar decks como Hogaak, Elves, Selesnya Depths ou Death and Taxes como arquétipos onde a melhor estratégia é remover ameaças pontuais enquanto ataca com suas criaturas voadoras.

Por fim, porém não menos importante, Delver of Secrets oferece um clock adicional e rápido contra decks injustos, proporcionando de maneira mais eficiente o plano de jogo de atacar rapidamente enquanto utiliza suas disrupções para atrasar o combo por tempo o suficiente.

Conclusão

Esta foi minha análise de como o power creep pode ter destronado Delver of Secrets do seu espaço de principal criatura do Legacy, tornando-o obsoleto se comparado aos cards mais recentes.

Gostaria de ressaltar que não considero que esteja escrito em pedra que o card tornou-se obsoleto e não merece mais espaço nos Tempo decks, e as listas que obtêm os melhores resultados ainda utilizam cópias do card.

Porém, também é necessário analisar e admitir que existem circunstâncias no formato que estão contra sua efetividade, tanto em termos das ameaças utilizadas pelos demais decks como também nas interações existentes no formato atualmente demandarem que os cards utilizados gerem ao menos um mínimo de valor antes de serem removidos.

O Legacy mudou muito nos últimos dez anos, e cada vez mais cards com habilidades poderosas têm surgido e impactado os formatos eternos, o que pode significar que criaturas que “só atacam” como o Delver talvez já não possuam mais o espaço de prestígio que costumavam ter, e curiosamente, essa mudança nos tempos também foi algo que vimos na década passada, quando outros cards mais poderosos como Stoneforge Mystic, Jace, the Mind Sculptor, Knight of the Reliquary e Delver of Secrets também mudaram substancialmente como jogamos Legacy e Magic: The Gathering.

O tempo dirá se Delver realmente envelheceu mal nessa última década, se as novas adições presentes em Modern Horizons II o tornarão uma relíquia do passado no cenário competitivo do Legacy, e se esta mudança será permanente ou apenas um reflexo do atual estado do formato.

Ad

De qualquer maneira, estando obsoleto ou não, Delver sempre terá seu espaço na história do formato, e seu legado será permanente na maneira como construímos decks em todos os formatos competitivos.

Obrigado pela leitura!